Capítulo III: Where the lightning strikes

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"Uma bela sensação, quando alguém te diz 'Eu queria ter te conhecido antes'..."

Não era nem quatro horas da tarde quando Anahí o viu entrar pela porta do Victoria's. O homem que ela conhecera na noite anterior estava ali, vestido com uma camisa social azul, dobrada até o cotovelo, com a barba aparada e conversando com seu chefe. Ela estava encrencada... muito encrencada.

— Annie... venha aqui. – pediu Velasco, fazendo um gesto com a mão para que ela se aproximasse do balcão.

Os olhos de Anahí cruzaram com os do estranho e por incrível que pareça, ela não detectou raiva ou ódio naquelas olhos esverdeados. Não... o que ela via ali era quase... dúvida? Incerteza? Indecisão...?

— Sim, senhor. – assentiu Anahí, parando ao lado do patrão, desviando o olhar daquele homem que tanto a perturbava.

— Esse sujeito diz que precisa falar com você... eu acabo de lhe dizer que está em horário de trabalho, mas ele insiste... – deu um olhar pungente na direção de sua garçonete. — Sejam breves... ou você já sabe!

Anahí virou os olhos, contornando o balcão.

— Sei, sei... vai descontar do meu salário!

— Exatamente, doçura.

Ela suspirou e indicou ao homem uma mesa mais afastada, próxima a janela.

— Aqui podemos conversar em paz, sem aquele fofoqueiro nos incomodar... – ela sorriu, sentando no banco de couro, com Alfonso a sua frente.

Annie... achei que seu nome era Anna. – ele começou.

— Tem que concordar que é uma diferença muito pequena...

Ela jamais dava seu nome verdadeiro. Nem seus colegas de trabalho sabiam que seu nome verdadeiro era Anahí e não Annie. Era melhor assim. Intimidade demais levava a laços... e laços apertavam mais do que sustentavam.

— Anna... Annie... – ele sorriu. — Te procurei em toda a parte. Não pude deixar de pensar na noite de ontem e como você foi embora...

— O que veio fazer aqui? O que quer comigo? – ela perguntou, sem rodeios.

— Eu sei que você pegou o meu terço de ouro.

Não era surpresa nenhuma. Ela esperava por isso... aquela era sua chance de, quem sabe, se redimir de uma ação impensada.

— É... eu peguei, sim. – ela deu de ombros. — Foi mal!

— Sabe que eu poderia ter ido a polícia, certo?

— E não foi... por quê? – rebateu.

O semblante de Alfonso se fechou, nublado pela dúvida. Por que ele não tinha ido? A verdade é que estava tentando apenas entender as motivações dela... nunca sequer pensara em ir até a delegacia e queixar-se por roubo. Algo naquela jovem lhe inspirava um senso de proteção, ele acreditava que ela era sua chance de se redimir com Deus, de restaurar a sua fé.

— Porque resolvi dar a você a chance de se explicar. – respondeu simplesmente. — Vejo que não mentiu sobre ter um trabalho e viver na vizinhança, por que preferiu roubar a aceitar minha ajuda?

Ela o pegou de surpresa, completamente desprevenido quando soltou uma sonora gargalhada que chamou até mesmo a atenção de Velasco, que tentava a todo custo ouvir o que eles conversavam.

— Você faz a linha bom samaritano, né? Eu não preciso de ajuda... não tinha o menor sentido eu passar a noite na sua casa, bonitão.

— Isso não responde a minha pergunta... por que roubou o terço, Annie?

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