Capítulo IX: Just a trick of light

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"Esse é o problema em tornar uma coisa proibida. Não faz outra coisa,
senão construir um anseio no coração."
Leigh Bardugo

Fazia mais de uma semana que Anahí não via Alfonso. Padre Alfonso, insistiu em lembrar a si mesma. No dia que saíra de seu apartamento em Back Bay, pensara em voltar a procura-lo, agradecer pelo que ele fizera por ela, mas não tinha certeza de que estaria fazendo a coisa certa. Se Alfonso fosse inteligente, ele ficaria bem longe dela. Ela não tinha nada a lhe oferecer, exceto dor.

No trabalho, o ritmo era o mesmo. Christian tinha seus segredos, que ela respeitava, afinal, não tinha como ser diferente, ela também tinha os seus. Angelique continuava aparecendo com presentes caros de seu namorado e Maite com seu amor impossível com o professor da universidade. Velasco seguia sendo o mesmo rabugento de sempre, contando até os grãos de farinha que eram usados nas tortas do Victoria's. A única novidade era a novata que tinha sido contratada há alguns dias. Seu nome era Tina e ela era indiana. Logo de cara as meninas adoraram a nova garota, já que assim o trabalho seria melhor dividido. Ela era quieta, mas bem humorada e se entrosou muito bem com a equipe; e como todos ali, Anahí podia jurar que Tina também tinha seus segredos.

— Annie, posso te fazer uma pergunta? – quis saber Tina, quando entrou na cozinha e viu Anahí lavando as últimas louças.

— Já fez, mas pode fazer outra. – respondeu, virando-se na direção dela.

— Mai me disse que você mora sozinha aqui em Roxbury mesmo e como eu sou nova em Boston, queria saber se você consegue me indicar um apartamento para alugar ou se não está precisando de uma colega pra dividir o aluguel.

Anahí refletiu um pouco, enquanto enxugava alguns copos e pratos. Arrumar uma colega de apartamento a ajudaria e muito, mas ela gostava de ter sua privacidade.

— Eu vou falar com meu senhorio, quem sabe ele não tem um apartamento vago... sobre dividir as despesas, vou pensar nisso.

— Claro... eu só achei que seria uma boa perguntar.

— E foi, Tina. – ela deu um sorriso triste que mal tocava os olhos. — É que eu tô muito acostumada a viver sozinha.

— Sabe de uma coisa... na Índia, os mais velhos gostam de dizer que geralmente quem pensa que está bem sozinho é quem mais precisa de companhia. Não estou dizendo que deva desistir da sua privacidade, só pense a respeito. Talvez esses muros que você constrói pra impedir a dor de entrar, também barrem o amor.

As palavras de Tina ficaram na cabeça de Anahí pelo resto do dia. Quando deu a hora de ir embora, ela lembrou-se de que tinha algo a fazer. Prometera a Alfonso que não ia mais usar drogas e estava disposta a cumprir com sua promessa. Não podia desponta-lo. Pegando o metrô que dava para o zona de tráfico em Boston, Anahí desceu na estação mais próxima a casa de Derrick. No caminho, passou em frente a boate Lure, um clube noturno de luxo, que contava com dançarinas de pole dancing e que para muitos era mais um antro de drogas e prostituição no coração da cidade.

Uma intuição esquisita a fez olhar para a entrada do local. Uma mulher alta, com o cabelo loiro cacheado e volumoso, estilizado como o de uma cantora dos anos 80, se equilibrando em uma sandália prateada de salto alto e usando um mini vestido também prateado que brilhava de longe, estava encostada a um poste enquanto fumava um cigarro.

Ela sabia quem era aquela mulher. Só não entendia o porquê dela estar ali. O que teria levado Angelique Boyer a colocar uma peruca e ir para a Lure a noite? Segredos e mais segredos... quem sabe outra noite, ela não pudesse descobrir? Naquele momento, entretanto, tudo o que desejava era terminar o que tinha começado e ir embora dali. Pensando nisso, ignorou o que tinha visto e voltou ao seu caminho. Quando chegou em frente ao buraco que Derrick chamava de casa, bateu na porta de ferro e esperou. Quando ia levantar a mão fechada para bater novamente, ela se abriu.

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