Capítulo XXIV: My body is a cage

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"Demônios bem alimentados
se comportam melhor que anjos famintos"
d.l smith

Uma semana tinha se passado desde que Anahí visitara Alfonso na delegacia. Era questão de tempo até que ele fosse transferido para uma penitenciária estadual, onde ficaria até seu julgamento. Anahí tinha feito sua pesquisa no assunto, ainda que em seu íntimo soubesse que não devia, não podia se envolver. Ela não queria tornar as coisas piores para Alfonso, mas também não podia deixá-lo apodrecer na cadeia por um crime que não cometeu.  Seu coração ainda doía ao lembrar das pessoas palavras duras que haviam trocado. Ela devia desistir. Afinal, foi o próprio Alfonso que a afastou, renegando sua amizade. Anahí devia aceitar o conselho e se afastar do padre...

— O que te deixou tão distraída?

Anahí praguejou silenciosamente quando seus livros caíram ao chão de uma vez só, quando olhou para cima deu de cara com o sorriso sempre amável de Connor.

— Hey, Connor! Perdido por aqui?

Os dois se abaixaram para recolher os livros de Annie e suas mãos se chocaram sem querer.

— Na verdade, saí mais cedo da empresa. Lembra-se daquele alfaiate que eu mencionei no outro dia? – ela assentiu, ajeitando a alça da bolsa no ombro. — Eu preciso pegar algumas roupas lá e como é perto de onde seu amigo está, pensei que pudesse me fazer companhia.

— Eu não acho que ele queira me ver.

Tinha sido tão constrangedor quando ela encontrara Connor na entrada da delegacia. Estava chorando como um bebê e nem adiantava disfarçar. Sendo o cavalheiro que era, o empresário perguntou o que tinha acontecido e abraçou até seus soluços passarem. Ele era um bom amigo, mas Anahí precisava lembrar que ele era o noivo de sua irmã. Ainda que enquanto ele acariciasse seus cabelos, mantendo-a segura em seus braços, com a cabeça encostada a seu peito.... Anahí não pudesse deixar de imaginar como seria se eles tivessem se conhecido em um momento melhor. Ou em uma realidade paralela.

— Se ele é seu amigo, acho que devia tentar. Nós não desistimos daqueles que amamos, Annie.

Connor segurou a mão dela, correndo a ponta dos dedos por sua palma. Era um gesto de conforto, mas que denotava uma intimidade que eles não tinham. Tinham?

Depois de um minuto que pareceu um século, Anahí suspirou e respondeu:

— Ok. Vamos.

Connor sorriu, pegou os livros das mãos dela e abriu a porta de seu Bentley.

O empresário já estava dirigindo há meia hora quando Anahí percebeu que conhecia a vizinhança. Ela devia ter se desligado depois de alguns minutos dentro do carro, perdida em seus pensamentos enquanto uma suave balada dos anos 90 tocava, porque só agora estava se dando conta de que Connor estava fora de rota.

— Isso é Roxbury.

— Eu estava me perguntando quando tempo demoraria para você perceber. – Connor deu uma piscadela.

— Pra onde você está me levando? Que porra é essa?

Aquela altura, ela estava pronta para gritar, tomar o volante das mãos do empresário ou pular para fora do carro.

— Não grite comigo... eu meio que agi como um stalker e me precipitei, mas depois que você eu vi seus desenhos e que me disse que seus quadros ainda estavam no seu antigo apartamento, eu pensei que eu poderia conhecê-los.

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