Capítulo 19

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Sento-me na beirada da cama, levando minha mão até o pé descalço de Pietro e fazendo cócegas, e é assim que ele percebe minha presença. Ele me olha por alguns instantes, e se senta na cama sem olhar para mim.

— Pietro... — murmuro. Pietro me olha, sem dizer nada

Observando seu rosto, seu olho estava roxo, sua boca inchada... tons roxos quase esverdeados. Estava completamente horrível. Eu tinha colocado alguns cubos de gelo em um pano para ele, mas agora eu me perguntava se isso seria útil.

— Pietro... — o chamei outra vez. Firmei meus lábios em uma linha reta.

— Você está bem, Letícia? — diz ao pegar a compensa de gelo de minhas mãos.

— O que é isso? Sem brincadeiras dessa vez? Nada de Mc Brinquedo? — ousei brincar naquele momento. Sei que não era hora.

— Você está bem? — repetiu a pergunta, negando com a cabeça.

— Hã... Sim, estou. Eu acho que sim. — murmuro após hesitar por alguns segundos. — Ah. Eu não sei. Realmente não sei. — admito.

— Custa acreditar que isso aconteceu com você... E também com Flavia. — ele falava pausadamente.

— Às vezes quando eu fecho os olhos... por meros segundos... me vem tudo de volta. — sussurro após um tempo em silêncio. — Eu só queria dormir e esquecer de tudo. — confesso.

Ele não diz nada, apenas me abraça. Me abraça fortemente. Acho que um abraço era tudo o que eu mais precisava naquele momento.

— Desculpas... — Pietro diz quase inaudível.

— A culpa não é sua. — passo meus dedos entre seu cabelo.

— Mesmo assim desculpa. — volta a pedir, soltando um suspiro pesado.

— Vamos cuidar desses machucados? Não quero falar sobre isso. Nao agora. — forcei um sorriso.

  Pietro apenas concorda com a cabeça. E assim, passei o resto da madrugada cuidando dos machucados de Pietro. E quando o sol já estava nascendo, nós simplesmente apagamos. Me sentia protegida dormindo em seus braços.

      ***


Três semanas haviam se passado, os quais foram um tanto deprimentes. Flavia perdeu o bebê, e Bruno vai responder o processo em liberdade pois não houve flagrante. Espero do fundo do meu coração que ele seja punido, pessoas como ele não deviam ficar soltos por aí. Mas ao mesmo tempo não quero ficar relembrando o que aconteceu. Me faz mal. Só queria acordar e esquecer de tudo.

Olhei para Pietro que estava ao meu lado. As marcas em seu rosto estão melhorando. Deito minha cabeça no colo dele, e em seguida ele começa a fazer cafuné em mim. Fecho os olhos e um sorriso nasce em meus lábios.

     ***

P.O.V FLAVIA


|  Duas semanas atrás... |

  Olhei ao redor, analisando o qual quarto  estava. Totalmente branco. Tinha uma televisão a minha frente, uma poltrona ao canto do quarto na qual minha mãe se encontrava dormindo, se é que pode-se dormir ali. A minha direta tinha uma espécie cômoda e um buquê de rosas, ao meu lado esquerdo tinha aquela máquina que regulava batimentos cardíacos, eu acho. Olhei para meu braço e tinha uma agulha injetada em minha veia. Soro.

Por que estou aqui...?

E tudo veio em minha mente em instantes, cenas nada agradáveis e... Me lembro que doía. O bebê.

— Mãe! — gritei.

Ela abre os olhos no mesmo segundo, levantando-se e vindo até mim.

— Etá sentindo alguma coisa? — tocou meu rosto.

Pude perceber que seu rosto estava um pouco inchado.

— Ele está bem? Me responde! — perguntei rapidamente. — O bebê está bem? — apressei em dizer antes que ela ficasse enrolando.

— Infelizmente... Aconteceu um aborto espontâneo... — beijou minha testa.

  Prendo minha respiração por alguns segundos, processando o que ela havia me dito.

— Carla, você só pode está mentindo! Me diga que é mentira. — eu falava em um tom duvidoso.

Minha mãe balança a cabeça negativamente, tirando sua mão do meu rosto. Mordo meu lábio inferior com força, começando a chorar de verdade. De alguma forma, não sei como, ouvir aquilo doeu.

— Vai ficar tudo bem, querida... — e ela sorriu, apertando minha mão.

  E pela primeira vez, senti um vazio dentro de mim. Aquilo era amor? Eu amava alguém que nunca chegarei conhecer?!

— O Bruno já sabe? Há quantos dias estou aqui? — pergunto em meio as lágrimas.

— Se calma, Flavia, pode ser? Eu não sei se ele sabe. Mas os pais dele vieram aqui... então... — ela falava baixo.

— Mãe, você poderia pedir para ele vir aqui? — murmurei.

Eu queria vê-lo. E saber se dói nele, quanto que doía em mim.

— Não será possível, Flavia. Você deve saber o porquê. — disse apenas.

— Eu não sei de nada! Eu quero o Bruno comigo agora! — protestei.

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