Sem ninguém

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Vitória...

Eu estava no quarto de Lucy, sentada na cama, chorando pra variar quando Breno entrou.

-Oi, a gente pode conversar?

-Sim.- falei enxugando as lágrimas.

Ele se sentou do meu lado, e diferente do que eu esperava não falou nada por um bom tempo.

-Eu sinto muito.-começou -por tudo. Pela gente, por voltar, por ter ido.

-Não precisa, eu que tô cheia de coisa na cabeça.

-Eu queria poder ficar e recuperar tudo. Mas...

-Não pode. Eu sei, é melhor que seja assim Breno, sério.

-Sinto sua falta. Tá tudo uma merda ultimamente.

-Você não vai querer competir né.- sorri discretamente e ele retribuiu- também sinto sua falta.

-Você tá com aquele Guilherme?

olhei pra ele surpresa pela pergunta.

-Não...não.

-Mas gosta dele né?

Eu balancei os ombros.

-Hum. Mas sabe ,se é isso que você quer, eu vou ficar feliz por você.

-Você sempre foi mais maduro que eu, mais bem resolvido. Eu admiro isso.

-É minha maneira de não ferrar as coisas.

O silêncio voltou e nenhum dos dois se olhou.

-Você acha que teria dado certo?-perguntei e ele me olhou confuso- se a gente não tivesse terminado. Se minha crise de ciúme não tivesse falado mais alto.

-Não faço idéia, eu também fui muito idiota. Mas se eu voltasse no tempo, com certeza faria diferente.

-Acho que eu também.

E se encerrou o assunto. Igual a um ano atrás. Um pouco mais silencioso.

....

Lucy...

Felipe e Breno dormiram na sala.
Vitória foi pra casa. E eu fiquei no meu quarto ,a noite toda acordada.

Imagino que eu nunca mais vá voltar a dormir como antes.

Agora entendo como vitória ficou. Talvez eu não seja tão punho de ferro assim.

Junior não tinha saído do quarto desde ontem, nem desceu pro café.

Os meninos estavam conversando na mesa com meus pais.

-Bom dia- falei e me sentei.

-Bom dia- falaram

Não pude deixar de reparar a TV ligada na sala, estava passando uma reportagem do tiroteio, vi a foto de um dos meus professores e logo em seguida imagens de uma novena, pessoas depositando velas e flores em frente a escola e ao hospital.

Minha mãe certamente reparou ,porque foi desligar a televisão correndo.

-podia deixar ligada mãe, isso vai ser normal daqui pra frente.

-Não fala assim filha, as coisas vão dar certo. O importante é que você está bem.

Aposto que ela nem ninguém ali pensou como isso soou egoísta.

-Pode ser.

-A gente vai ter que ir agora de manhã.- Felipe falou

-Já?

-Já. Infelizmente. Mas eu prometo ligar pra receber notícias.

-Não vão falar com júnior?

-ele não apareceu, deve estar dormindo.

-Vamos acordar ele, é sério, ele vai odiar acordar e saber que vocês não falaram com ele.

Eles concordaram e nos subimos até o quarto de junior.

Bati na porta e ninguém atendeu, confirmando que ele  estava dormindo.

Abri a porta fui até ele. Balancei seu corpo até ele abri os olhos.

-O que é?

-Júnior?-Felipe falou

-Felipe? Breno?- falou se sentando na cama

-E aí cara?

Ele se levantou e cumprimentou os dois.

-Eu vou deixar vocês conversarem.

Sai do quarto. Eles provavelmente iam falar de Meg, de mim, de vitória ,do tiroteio e etc...

E eu não queria ouvir nada daquilo.

Peguei meu celular e liguei pra Gabriel.

-Alô?- ele falou com a voz rouca

-Oi. Você está bem?

-Sim. E você?

-eu não consegui dormir. Mas estou levando. Você viu o jornal?

-Sim, o professor de história.

-É. Você tá aonde?

-Na casa de Megan, trouxe minha mãe aqui, ela queria visitar a mãe de Meg.

-Como ela está?

-Bem, na medida do possível.

-E Guilherme?

-Esta aqui também.

-Mais tarde eu passo aí.

-Os meninos ainda tão aí?

-Eles já tão saindo. Espero que não tenha se chateado comigo.

-Não. Tudo bem. Eles são seus amigos.

-Obrigado.

Felipe e Breno saíram do quarto de Junior.

-Tenho que desligar. A gente se fala depois.

-Tá legal, Tchau.

Desliguei e voltei minha atenção para os meninos.

-E aí?

-Ele vai ficar bem.

-Que bom.

-a gente tem que ir Lucy- Breno falou dessa vez

-Vocês vão falar com vitória?

-Acho que ontem a noite já foi uma despedida.

-Tudo bem então. Eu acompanho vocês até lá em baixo.

Descemos e eles se despediram dos meus pais e fui até o carro com eles.

-Estou sentindo um deja vu- Breno brincou

-Pela terceira vez.- falei

-Da próxima vez vocês vão ter que nos visitar. Não voltaremos sem antes uma visita de vocês.- Felipe disse

Acho que foi a forma dele dizer que se afastaria mais, como pedido.

-Tudo bem. Eu vou falar com vitória.

Me despedi deles, entraram no carro e acenei até eles sumirem de vista.

Diferente das outras vezes, não me derramei em lágrimas, nem quis correr atrás do carro... era só eu, ali, sozinha, esperando alguém me puxar de volta pro tempo que tudo tava no seu lugar.

Queria voltar pro dia em que minha mãe me obrigou a ir para o colégio e ter argumentado mais com ela. Queria ter dito não até o último segundo.

Querendo ou não, como das outras vezes, acabei derramando uma lágrima, solitária ,que logo fiz questão de enxugar e entrar pra casa.

Afinal de contas niguem ia voltar pra me puxar.

....

"Me acorde quando tudo isso tiver acabado e meu 'eu' tiver reaparecido"

Colégio interno 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora