Adarim

"Notas"

~Oliver

Me afasto impaciente de Gaivus, percebo que ele tenta e falha em me reter.

Estou completamente indignado com esta situação, desde que começamos aquele ridículo plano, nunca mais ficamos juntos! E o pior: ninguém sabe se Kev ainda possui aquele maldito vídeo.

Caminho em direção ao portão, mas quando percebo que Gaivus e Mike também iam àquela direção, mudo minha rota e vou até a parte de trás da quadra. Me encosto na parede, deslizando até me sentar, estava completamente exausto e não possuía a mínima vontade de pegar um ônibus até minha casa. Considero encostar a cabeça e dormir ali mesmo, mas ouço a aquela voz, aquela maldita voz:

— Então ele já te desprezou? — Kev estava apoiado na parede, com sua expressão cínica e serena.

— Saia daqui, sabe que não tem nada a falar comigo — Replico virando o rosto impaciente.

— Por quê? Tem medo de ouvir verdades? — Ele prende minha atenção, tenho medo do que ele possa estar tramando.

— Seja breve, se não eu...

— O que? — Ele segura em meu braço, me levantando e aproxima seu rosto do meu — Continue, vá em frente, fira meu rosto com essas mãozinhas.

Viro minha cabeça em um ato de submissão, Kev era, de longe, mais intimidador que eu.

— Como pensei — Um sorriso de satisfação surge em sua face, ele se aproxima de minha orelha — Se acalme, Oliver, não irei fazer nada, trago apenas um segredinho.

Kev segura em minha mão e coloca nela um pedaço de papel, olhando em minha direção ele sorri e se afasta em passos lentos. Viro o papel que estava em minhas mãos e me estarreço ao vê-lo:

D.B. GRÊMIO. POR SPP
NOME: GAIVUS VÄNG
POSTO: ALUNO - DESOCUPADO
SÉRIE: 1°C
IDADE: 16
ALTURA: 1,82 (MEDIDO EM 2 MESES)
PESO: 73KG (PESADO EM 2 MESES)
RELAÇÃO: NAMORANDO
RELACIONADO: OLIVER FIGUEIRA
PROBLEMAS DE SAÚDE: TPAS*

NOTAS*:
TPAS: transtorno de personalidade antisocial, sociopatia

~Kelly

Após Kev se retirar aleatoriamente, fico alguns segundos em pé, surpresa, até perceber que estava em período livre.

Vejo Nathalie passar apressada, ela parecia lacrimejando, aquela mulher não chora nem com um soco no útero! Tenho que descobrir o motivo. A sigo até a sala de música.

Tento ficar escondida, ouvindo pela porta, mas ela percebe:

— Entre, Kelly! — Suas voz estava firme, apesar das lágrimas que vi quando adentrei o recinto — Que quer? Sádica a ponto de se deliciar com lágrimas alheias?

— N-não, Nathy, de forma alguma — Me submeto a suas palavras rudes — Apenas passei para ver a catástrofe que houve para deixar uma mulher tão forte abalada.

— Amor, Kelly, o maldito amor, sei que o conhece — A garota faz um gesto com a mão para que eu me sente ao seu lado, a ouço — Acredita que eu vi uma camisinha usada no lixo da gráfica? Isso indica que a pessoa que amo transou com outrém e, como se não bastasse, fui expulsa do Grêmio e não mais a verei diariamente.

Diante de tal situação, não me surge outra pergunta, se não a que fiz:

— Quem, Nathy, quem é o "maldito"?

— Não maldito, maldita — Ela sorri, enxugando as lágrimas.

— Não me diga que você — Hesito vendo a expressão envergonhada de Nathalie — Gosta de Anny? — Ela assente com a cabeça.