"O Poema Pt. 2"

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~Gaivus

Eu, Jully e Oliver subíamos as escadas do terceiro andar, para chegar até o terraço.

Oliver estava bem apreensivo e desesperado, reações que não fiquei surpreso de ver, Jully estava calma, séria, mas sabia que sua posição firme servia apenas para ela não perder a cabeça.

Quando abro a porta que levava ao local de Danielle, Oliver e Jully param de avançar e continuo sozinho. Encontro a garota, desta vez sentada, na ponta do edifício, ela percebe o barulho e se vira, com um sorriso radiante:

— Gaivus! Que bom vê-lo aqui — Ela se levanta e me encara com uma felicidade estranha para o momento.

— Danielle — Repreendo seu sorriso com um olhar sério — O que pensa que está fazendo aqui?

A garota olha para baixo, sorrindo vergonhosamente de canto.

— Venha aqui, Gaivus — Ela volta a se sentar — Gostaria de te mostrar algo.

Confuso, busco conselho nos olhares de meus amigos, Jully apenas faz um sinal com a cabeça enquanto Oliver se mantinha sem reação. Me aproximo silenciosamente.

— Vamos o que está esperando? — Danielle me olha com um rosto pleno — Sente-se.

Obedeço sua ordem, não penso em pronunciar nada, ela controlou a situação.

— Aqui veja — A garota segura meu braço para que eu não desestabilize — Depois de quase um ano neste colégio, você já reparou esta vista? — Seu rosto se vira ao meu, sorrindo — Ela é simplesmente maravilhosa, tenho certeza de que poucos alunos viram esta bela paisagem.

— Mas apenas há alguns prédios e ruas — Fico confuso com sua afirmação — O que há de não ordinário nisso?

— Ora, Gaivus, o que não há de bonito? Veja: daqui podemos ver a cafeteria que os professores usam — Ela aponta com a mão — Aquele lugar charmoso nos permite ver sorrisos, paqueras, encontros... — Danielle sorri em minha direção, mas continua — E veja ali, um parque em meio a oito prédios, não é bonito ver que a mesma empresa que destruiu parte do terreno, construiu uma espaço de convivência tão sereno? Pássaros em todas as árvores, idosos caminhando e aproveitando o tempo que lhes resta juntos, crianças se jogando no meio do lago para se refrescarem...

Ela pausa, não sei se ela iria continuar, mas a interrompo:

— Qual o motivo de querer perder paisagens bonitas? — Questiono com um olhar triste.

— Não estou perdendo, bobo — Danielle ri — Estou as imortalizando em minha alma, além de torna-las mais bonitas com minha ausência.

— Dani, você não é inútil para o mundo.

— Ninguém é Gaivus — Ela segura minha mão com um sorriso sereno — Algumas pessoas nascem para se tornarem exemplos para as outras, e aqui estou eu. Mas algumas pessoas nascem, não apenas para mudar a vida das outras, mas para transformar o mundo! Não desista Gaivus, sua vida, sua história, sua alma, elas precisam se tornar eternas neste mundo, você precisa imortaliza-las e tenho certeza que fará um ato que o faça — A garota sorri e se levanta — Sinto que chegou minha hora.

Levanto apressadamente, seguro em sua mão.

— Você só sai daqui pela escada — Meu rosto começa a ficar cada vez mais triste — Eu não vou sair daqui se não vier comigo.

— Não passe a vida inteira no telhado de uma escola seu bobo — Ela sorri, mas começa a chorar — Adeus Gaivus, lembre-se que te amo.

~Danielle

Desprendo minha mão da de Gaivus, e em apenas um passo, tiro minhas pernas e meu corpo do terraço da escola. Olho para cima, fatídico erro, meus últimos momentos foram olhar para o rosto desesperado e choroso de Gaivus, sua boca estava aberta, suas veias dilatadas, mas eu já não mais ouvia os gritos que deviam estar saindo de sua garganta.

Espero encontrar meus pais depois disso, e espero lembrar-me de todos vocês.

Adeus Adarim.

AdarimOnde histórias criam vida. Descubra agora