Despedida

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14 anos depois...

Estou voltando para casa pela estrada de terra e empoeirada de sempre, já faz algumas semanas que não chove. Se continuar assim, as coisas irão ficar difíceis lá em casa, precisamos da chuva para ajudar com as nossas plantações. Já que vivo sozinha com meu pai em nossa pequena terra na roça, onde plantamos milho, arroz e algumas verduras e legumes das quais vendemos em feiras.

Saí bem cedo hoje para colher acerolas, pois pretendo fazer um doce de sobremesa para comermos após o almoço. Eu costumava fazer isso com a mamãe antes dela partir, e mesmo depois disso, não pareceu que perderia o sentido se eu continuasse a fazer isso sozinha. E estava certa. Ao contrário do meu pai. Ele nunca mais teve ninguém depois dela. Segundo ele, nada poderia reparar seu coração despedaçado pela sua morte. O que discordo, a partida da mamãe sempre ficará marcada sim. Mas não é impossível consertar, ele só precisa encontrar um novo amor. Não para substituir a mamãe, mas para fazer bem a ele. E espero que tão bem quanto ela.

Sinto uma sensação estranha bater em meu peito enquanto me aproximo de casa pela estrada principal. Aperto com mais força a alça da minha cesta com as frutas e paro. Decido seguir pelo segundo caminho, mais estreito e com uma pequena mata mais fechada, que também dá em casa.

- Eu ainda não tenho! Por favor, me dê mais tempo - escuto o grito desesperado do meu pai ressoando de dentro de casa ao me aproximar. Fico parada, tentando processar a informação.

- Como você ainda não conseguiu essa droga de dinheiro em tanto tempo, Maurício?! - escuto uma voz masculina gritando com meu pai em seguida.

Vejo que tem dois homens elegantes vestidos em ternos pretos em frente a porta de casa, e uma Mercedes preta estacionada ao lado. Eles não me veem, pois ainda estou entre as árvores.

Descido dar a volta e entro pelos fundos, tomando cuidado para que os homens não me vejam. Sinto a adrenalina percorrendo meu corpo. Após passar pela cozinha, sigo até a sala e paro atrás da porta, na tentativa de entender melhor essa conversa. Que dinheiro é esse?

- Você fez esse trato com meu pai a quase quinze anos atrás! A dívida venceu semana passada e estou aqui para pegar meu dinheiro de volta. Meu pai fez a parte dele.

Pagamento? Meu pai seria capaz de fazer dívidas com agiotas? Nós não estamos precisando tanto assim.

- Desde que Ana morreu, as coisas se complicaram demais. Não consegui todo o dinheiro... M-mas eu tenho metade, posso te dar agora. Dou o resto depois e... - o homem o interrompe.

- Depois quando? - ele grita - daqui mais quinze anos!? Você vai me pagar agora!

- Como? Eu não tenho seu dinheiro - escuto o solução do papai chorando. E isso parte o meu coração. Não posso deixar que ele continue ser tratado assim.

- Bom... você tem algo que me interessa... - o desconhecido parece pensar por um momento - Como ela se chama mesmo? É Sofie, certo? - ele indaga em um tom mais calmo.

O quê?

Congelo onde estou. Sinto minha boca secar e minha pulsação ecoar em meus tímpanos.

Ele me quer? Para quê? E per Dio, quem é este homem?

- Não! - o berro do meu pai finalmente me tira do meu transe - Fique longe da minha filha. Pode ficar com o quê quiser, minha casa, minha terra, me faça trabalhar com para você... - outra vez o homem o interrompe. Inclino a cabeça sorrateiramente para ver o que está acontecendo lá dentro.

- E por que eu iria querer um inválido como você trabalhando para mim? Ou então uma terra que não vale nada? Ou me dê o que quero ou mato os dois! - o desconhecido, que está de costas para mim, joga a mão esquerda para trás, pegando algo da cintura, que logo revela ser uma pistola, apontando para a cabeça do meu pai, que logo se joga de joelhos no chão e abaixa a cabeça, não mais chorando. Papai estava decidido a se sacrificar por mim.

Maldito MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora