Delator - Lorenzo

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Bebendo minha terceira doce de whisky no meu escritório do segundo andar - esse é onde fico quando não quero ser interrompido em nenhuma hipótese - observo minha Sofia pela enorme janela que dá para o jardim dos fundos. Ela está a brincar com meus cães, que por alguma razão, gostam dela. Até hoje eles só não atacaram a mim ou a Sol.

Ao vê-la correndo pelo gramado verde e bem distribuído, com seu vestido floral de viscose comprido até às coxas e rindo alegremente vendo os cães pulando atrás dela querendo petiscos, me sinto mais uma vez com pena dela pelo o que virá. Saber que a culpa que esse sorriso lindo logo deixará de existir é, em parte, minha, me deixa desconfortável - o que eu não sentia a muito tempo.

Você nunca mais irá sentir aquela pele sedosa.

Você nunca mais verá ou tocará aqueles seios fantásticos.

A Sol ficará triste.

Você não beijará aquela boca carnuda e gostosa.

Você não admirará mais aqueles olhos brilhando e nem o seu gemido enquanto a dá prazer.

Você irá matar a única alegria de sua vida depois da Sol.

- Senhor? - uma voz masculina me tira de meus delírios.

Viro-me disposto a matar quem quer que seja. E é o Mike, um dos meus melhores homens e médico pessoal. Que pena.

- Acho que é irrelevante que eu o diga que não admito ser interrompido aqui.

- Não, senhor - Mike raspa a garanta e prossegue -. Eu bati, mas como não respondeu, decidi ir adiante por ser uma emergência.

- Direto ao ponto, Mike - digo ficando preocupado. Este homem tem o hábito de enrolar demais quando está nervoso.

- Descobri-mos o delator... - noto que seus olhos estão lagrimejando. Isso não é bom - Ou melhor. A delatora.

***

Sigo o caminho para a sala de jogos com sangue dos olhos, entretanto, com imensa tristeza. Não entro lá desde que torturei Sofia, e não pretendia entrar para machucar outra pessoa que gosto mais uma vez.

Paro na porta da sala e respiro fundo, estendendo a mão para o capanga ao lado.

- Arma - ordeno. O mesmo rápidamente tira sua pistola da cintura e me entrega -. Vou fazer isso no jeito mais rápido - murmuro a última parte para mim mesmo.

***

- Ela só pediu água, senhor. Não vimos problema e...

- Tudo bem - olho para o corpo feminino e curvilíneo sentado a minha frente, na mesma cadeira que Sofia estava a um mês atrás, mas esta está com um saco preto sobre a cabeça - Tirem o saco e nos deixem a sós. Exceto Mike. O restante, podem ir almoçar.

Os mesmos assente e se retiram. Logo depois de tirar o pano, fazendo minha garganta formar um nó ao olhar aquele rosto amigável mais uma vez.

- Estou profundamente decepcionado com você, Joana.

- Também estou desapontada com o senhor - ela me olha com intensidade -. Servi ao seu pai e ao seu tio. Ajudei sua mãe no momento mais difícil da vida dela: quando ela ficou paraplégica. Com todo respeito, se fosse minha intenção trair vocês, já teria o feito a muito tempo. Poderia ter destruído vocês.

- Com todo respeito? - prossigo e ela assente, com brilho nos olhos - Contra fatos não há argumentos.

Saco a arma e aponto para a cabeça da velha.

- Faço de suas palavras as minhas... Senhor - sua voz toma um som mais grave na última palavra.

Destravo a arma.

E um estrondo é ouvido.

Seguido de um grito.

- NÃO! - olho para porta de onde veio o barulho, onde Sofia havia acabado de abrir com um chute.
Lá vamos nós de novo.

E, mais uma vez, a loira se põe na frente da arma.

Contraio meu maxilar com força.

- Sofia. Saí - ordeno, mesmo sabendo que será em vão.

- Não foi ela - ela diz com as lágrimas descendo dos olhos.

- Então quem foi? - indago com toda a paciência que consigo extrair de mim. O que é quase nada, dada a pressão que estou a passar nesses últimos dias.

- Não sei. Mas não foi ela.

- Foi encontrado o número Anton, meu arque inimigo declarado, na porta do quarto dela. Ele está recebendo informações dos meus transportes de drogas e os saqueando a meses! Se não foi ela, então quem foi?

- Na porta do quarto? - Sofia indaga desacreditada - Qualquer um poderia ter deixado lá para incriminá-la!

- Sai da frente Sofia - mando mais uma vez, sem abaixar a arma.

- Enzo, isso é injustiça!

- Eu já disse que o que você acredita não importa aqui! Isso é...

- Mafia - ela completa antes de mim -. Eu sei. Mas o que você acha? Enzo, ela criou você - diz apontando para Joana.

- Eu acho que você está me atrapalhando - concluo.

- Você é mais cruel do que eu pensava - diz com sua voz turva pela vontade de chorar.

- Nada fora da verdade até agora.

- Fora da verdade? - ela ri sarcásticamente - Me dê um dia e eu te mostro a verdade.

- O quê? - questiono sem entender.

- Um dia e eu descubro o verdadeiro delator - a voz dela mostra segurança, mas seus olhos revelam o pânico.

- Se não conseguir? - duvido.

- Você pode me tornurar - ela completa -. Até pior que da última vez.

- Não - afirmo -. A tortura foi uma advertência. E aqui advertências são dadas uma só vez. Se não conseguir, você fica no lugar dela - indico Joana com a cabeça.

- Feito - Sofia aceita.

Abaixo a arma.

Noto que esse ato tira um suspiro de alívio de Mike.

- Você tem 24 horas - viro-me para meu empregado - leve a prisioneira para a cela.

Meu trabalho acabou até o momento. Sigo para sair da sala.

Preciso de mais wisky.

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Maldito MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora