Planos

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A porta do contêiner é aberta mais uma vez e a brisa que entra trás até mim um perfume conhecido.

Ergo a cabeça e percebo pelos raios solares, que se manifestam e contornam a silhueta do homem robusto a entrar, que já é dia lá fora.

- Buongiorno, Natanael - cumprimento com rispidez.

Sua rizada nasal trás consigo um ar de sarcasmo. Ele caminha lentamente em minha direção, pegando uma cadeira de madeira no meio do caminho e a colocando na minha frente, sentando-se nela em seguida e me encarando.

- Você foi muito espera em deixar sua bolsa no estacionamento, Silvo achou e foi correndo contar a Lorenzo.

- Bom - concluo, contendo o alívio de saber que alguém já estava ciente do meu sequestro. Preciso me manter forte... agora mais do que nunca.

- Então - Nate quebra o silêncio que estava começando a se instalar -, a pergunta que não quer calar... Como soube que era eu?

Suspiro, pensando se deveria dar satisfações a ele ou não. Mas talvez eu ganhe tempo... se é que tem alguém vindo me resgatar.

- O erro de vocês é achar que qualquer caipira é burro - Nate franze o cenho - Subestimam a gente. Se bem que a verdade estava na minha cara o tempo e eu demorei a ver mesmo... Não sei como não percebi antes já que você sempre está por dentro dos planos de Lorenzo, ele confia em você. Era o espião perfeito, ninguém desconfiaria.

A expressão de Nate se torna dura como pedra. Suspiro, resolvendo responder a pergunta dele.

- Confesso que as primeiras dez horas naquela livraria eu só dei murro em ponta de faca. Mas então pensei mais um pouco, eu não poderia dar espaço para erros, pela vida da Jô. Então pensei mais um pouco e tive um click. Eu estava deixando algo importante escapar; além dos outros seis homens, você também tem acesso a sala de câmeras e me disse que tinha ido lá mais cedo. Você falou que as gravações haviam sido apagadas, mas isso não quis dizer que não foi você quem as apagou. O clássico "não mentir, mas omitir" - agora, falando tudo isso em voz alta, eu fico abismada. Por que Nate fez tudo isso? -. Confesso que a princípio desconfiei de Mike, mas não fazia sentido, pois ele nunca faria algo para machucar Joana. Ele a adora. Você sabia que Anton estava perto e precisava de uma distração para Lorenzo. Então escreveu o número de Anton em um papel, e deixou na porta do quarto da Jô para Mike achar. Mesmo ele a amando, Mike não deixaria de comprir o seu dever e avisar a Lorenzo.

Natanael parece pensar um pouco, tentando processar tudo o que eu disse. Checando se eu não tinha deixado nada passar.

- Sim, mas mesmo eu tendo acesso a sala de câmeras, eu não trabalho lá. Como eu apagaria as gravações sem ninguém saber?

- Aí é que está. Mike também não, mas é ele quem organiza a escala de quem trabalha lá. Quando o interroguei, ele me disse que estava na escala de Luigi. E acontece que Luigi sempre dorme ao invés de vigiar as instalações, e você sabe disso. Após o feito, você subiu, apagou as gravações e saiu para o seu quarto sem Luigi sequer perceber o que aconteceu.

Mesmo com a expressão séria, o olhar de Natanael revela surpresa. E isso é o suficiente para me fazer soltar fogos de artifício por dentro, pois isso concluía que eu estava certa.

Resolvo seguir para o lado pessoal.

- Você já disse que não tem nada a perder. E realmente, nem mesmo os seus valores, o seu respeito próprio ou a fidelidade. Você é uma vergonha para a mafia. Você, Nate, vai para quem te paga mais e não para quem te quer bem - vejo que cometi um erro quando o olhar dele fica raivoso, então resolvo me calar.

Nate fecha os olhos e suspira fundo, tentando encontrar calma.

- Já que descobriu tudo isso, acredito que saiba também o porquê está aqui.

Eu sei que não estou aqui porque descobri que o delator é o Natanael.

- Acredito que tenha a ver com os planos de Lorenzo, os quais todo mundo fala "você está entregando ela para a morte". Ele estava preocupado com a aproximação de Anton.

- Certo - Nate confirma com a voz baixa e abaixa a cabeça.

É isso mesmo? Natanael está com... Vergonha? Seu maxilar cerrado e seu olhar baixo mostra amargura.

O que eu perdi?

Nate engole em seco e prossegue. Agora era vez dele de me revelar algumas coisas.

- Sofia, você está no lugar da Sol.

Se eu tivesse dormido e acordado em outro país, ainda assim, eu não estaria tão confusa como estou agora.

O choque que se passa pelo meu corpo me faz duvidar por um momento se escutei direito.

A Sol?

- Como? - indago praticamente sem voz.

- Há uns meses atrás. Lorenzo tentou fazer uma vingança sobre Anton em nome do tio dele. Esse plano de consistia em explodir um dos galpões onde Anton guardava seu dinheiro ilegal. Eu estive lá, era muito dinheiro mesmo. Acontece que acreditávamos que o lugar estava vazio na hora da explosão, mas o irmão de Anton estava lá... nós não sabíamos, juro... - Nate faz uma pausa e massageia as têmporas - Reich, irmão de Anton, não sobreviveu a explosão. Lorenzo queria que Anton soubesse que era ele a explodir o galpão. Então já tinha mandado um mensageiro dizendo quem era o responsável por tudo. Anton jurou vingança a Lorenzo dizendo "um amor pelo outro" e a partir desse momento, soubemos que Anton viria atrás da Sol, pois ela é o maior amor da vida dele. Lorenzo precisava de um plano rápido para proteger a sobrinha. Então lembrou de você e da dívida do sua pai. Ele sempre soube que seu pai não tinha o dinheiro, e já foi lá na intenção de voltar com você. Um casamento seria perfeito para mudar o alvo de Anton. Ele acreditaria que agora o amor da vida de Lorenzo seria a esposa dele. E era exatamente isso que Lorenzo queria, e deu certo. Aqui está você.

- Mas se você sabia a verdade... Porque não contou logo ao Anton de que era tudo uma farsa? - o olhar de Nate atravessa meus olhos feito braza. Mostrando uma sinceridade que eu nunca vi antes.

- Eu também amo a Sol, Sofia.

- Então você está enganando a si mesmo, Natanael - seu olhar agora é confuso -. Não é verdade que você não tem nada a perder.

- Sim. Você estava errada - ele se levanta -. Eu ainda tenho os meus valores.

Então ele caminha em direção a porta.

- Que bom - comento, o fazendo parar -. Por que quando a coisa fica difícil, os valores são o que ligam a nossa humanidade.

Com um aceno de cabeça, ele sai.

- Eu também te amo, Sol - sussurro para mim mesma -. A titia Sofi vai morrer por você. Não se preocupe... Mas serão duas vidas pela sua.

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Maldito MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora