Casamento?

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O tal padre espalha uns papéis sobre a mesa de madeira bem polida do escritório e nos encara em seguida. Seus olhos revelam medo. Ele com certeza foi ameaçado por Lorenzo.

- B-bom, Sr. Merluzzo, basta os dois assinarem aqui - ele põe dedo indicador sobre uma linha pontilhada no papel e suas mãos estão trêmulas, em seguida tira uma almofada de impressão digital do bolso - e, por favor, coloque suas digitais bem aqui. Indica mais uma vez um outro canto na folha.

E assim fazemos em silêncio. O próprio padre pega a folha e assina alguma coisa em seguida. Natanael só nos observa. Ele tem um olhar muito intenso. E isso me assusta.

- Senhor Merluzzo, trouxe as alianças? - o padre pergunta.

- Sim - ele faz um gesto positivo ao Natanael que tira uma pequena caixa de veludo do bolso.

Merluzzo... então ele é daqui mesmo da Itália.

Mas quem é esse cara afinal?

Minha mãe e eu somos do Brasil, nos mudamos para cá assim que eu nasci. Precisávamos cuidar da terra do meu pai... Já que ele não tinha ninguém além da gente para fazer isso por ele.

E nem isso ele tem mais...

Lorenzo tira duas alianças da caixinha entregue por Natanael e põe a que tem uma pedra de brilhantes em meu anelar esquerdo, e a outra no próprio dedo.

- E pela autoridade investida em mim, por Deus, o Pai e pelo estado da Toscana. É perante esta testemunha... - o padre indica Natanael com as mãos, por não saber ou se não se lembrar do nome dele. Acho graça da situação e dou uma risada baixa, mas isso já é o suficiente para eu receber um olhar repreensivo dos três, me encolho no acento e volto a ficar quieta - Eu vos declaro marido e esposa - encerra por fim, com um sorriso no rosto.

Só não sei dizer se é por estar feliz por nós ou por finalmente ter acabado... Ou talvez só falsidade.

- Obrigado, Padre - meu recém marido agradece -. Pode se retirar.

O mesmo pega a papelada e sai da sala correndo como se não houvesse amanhã.

Nossa, também não é para tanto...

Ou é?

Por uma fração de segundos eu pensei em sair correndo com ele. Mas da forma que esse vestido é justo eu ficaria pelada antes de passar da porta.

Vou ficar por aqui mesmo.

- É só isso? - indago. Olho pela larga janela do escritório e vejo que o sol já está se pondo lá fora.

Noto uma troca de olhares maldosos entre Natanael e Lorenzo.

Nada bom.

Lorenzo se põe de pé em seguida e se vira para mim.

- Vamos para o quarto, mio amore.

- Para quê? - pergunto, já sentindo uma pontada de pânico se manifestar em meu peito.

Escuto Natanael dar uma risada nasal atrás de mim. Por fim, ele vai até a porta negando com a cabeça. Lorenzo revira os olhos e me fita com sobrancelhas arqueadas tentando parecer óbvio.

- Bom, com licença - Natanael finalmente se pronuncia -, minha acompanhante está a minha espera... Ah, e meus parabéns ao casal - cumprimenta Lorenzo com um aperto de mão e se retira.

- Então, vamos? - ele indaga outra vez, aparentemente começando a ficar impaciente.

- Você ainda não me disse para quê.

Maldito MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora