Sofia é uma jovem doce, amorosa, educada e do interior. Mesmo em um momento difícil aprendeu uma lição importante com sua mãe: concertar o que se está quebrando.
Lorenzo é capo da mafia italiana, um homem impiedoso e cruel. Cruel ao ponto de obrigar...
Acordo com uma imensa dor de cabeça. Que logo me esqueço por conta da imensa dor de estômago que sinto em seguida. Acabo me lembrando que não como nada desde de anteontem. Nem mesmo ontem, quando Lorenzo me pegou, eu comi alguma coisa.
Falando em Lorenzo, ele não veio para cama noite passada. Dormi sozinha. Nesse colchão fantástico, por sinal.
Decido que é hora de comer alguma coisa. Salto da cama e saio do quarto, indo a procura da cozinha. Descendo a escada principal, em direção ao enorme hall, avisto, de costas para mim, um homem negro, forte, alto e bem vestido em seu terno cinza impecável. Ele está a observar um quadro na parede.
- Bom dia, Nathanael. Se divertiu com sua acompanhante ontem? - o cumprimento, tirando sua atenção do quadro e transferindo-a para mim.
Ele me olha dos pés a cabeça e dá um sorriso de lado com os olhos sobre a camisa de Lorenzo que estou a vestir. Logo seu sorriso se abre, revelando seus dentes perfeitamente brancos e alinhados.
- Bom dia, princesa. Sim, foi ótima. Parece que a sua também.
Coro de vergonha. Não estou mesmo muito apropriada, mas minhas roupas ainda não chegaram.
- Não exatamente - digo abaixando a cabeça. Falei tão baixo que nem tenho certeza se ele me ouviu.
- Tá procurando o quê? - ele indaga por fim. Mudando de assunto.
- A cozinha - respondo -. Estou com muita fome.
- Para lá - ele aponta na direção dos fundos da enorme casa.
- Obrigada - agradeço e termino os degraus restantes, seguindo em direção a uma entrada que levava a um largo corredor.
Chego a cozinha com facilidade e logo avisto um bule de chá em cima da ilha no centro acompanhado de algumas xícaras. Me sirvo um pouco do chá e pego um recipiente com biscoitos que encontrei no armário. Pelo tempo que estou sem comer, assim que coloco a rosquinha na boca, esse parece ser o melhor biscoito dessa terra. Ou talvez seja mesmo, tudo nessa casa é caro e do bom e do melhor.
- Oh, céus, Senhora Merluzzo - escuto alguém se pronunciar atrás de mim, me viro rapidamente -. Poderia ter me chamado. Eu preparo o café para a senhora.
É a senhora que entregou as sacolas ao Lorenzo assim que chegamos ontem. Está a segurar um peru congelado e olhando para mim com surpresa.
- Bom dia, senhora - dou-lhe um sorriso gentil -. Não precisa, obrigada. Já estou satisfeita - minto enquanto me levanto. Ainda estou com fome. Mas não quero atrapalha-la. Ela tem um peru para descongelar.
- Onde estão meus modos? - indaga a si mesma e me estende a mão direita - Sou Joana - mas assim que estendo minha mão para cumprimentá-la, Joana puxa sua mão rapidamente. A olho confusa, está com vergonha -. Onde estou com a cabeça? Perdão. Minha mão está suja de peru.
- Tudo bem - sorrio. Compreendendo a estranha reação -. Sou Sofia, mas pode me chamar de Sofi. Vou te chamar de Jô.
- Pode me chamar de Jô - Joana diz enquanto se dirige até a pia da cozinha - O que acha de peru assado? - pede minha opinião.
- Huum! Principalmente se estiver defumado - digo me animando para o almoço - mas ela se vira para mim confusa e abaixa a cabeça.
- Desculpe, mas não sei defumar peru - admite, envergonhada -. Normalmente tenho uma assistente, mas ela foi demitida e...
- Sem problemas! - salto do banco alto - Vai aprender hoje mesmo.
- Como? - ela pergunta, entrando em pânico.
- Vamos precisar de alguns temperos, papel alumínio e um forno.
- Sem chance! - Jô me para - Se o Sr. Merluzzo ver a senhora trabalhando como uma criada, nós duas estamos em apuros! - ela briga comigo.
Mas não dou a mínima. Se ele realmente vai me dar os tapas que tanto promete por eu ser eu mesma. Então estou numa boa.
- Então vamos ser rápidas - concluo.
***
Enquanto estou montando o peru em uma travessa com salada. Ouço passos entrando na cozinha. Rapidamente o pânico me sobe. Não estou preocupada comigo, mas sim, com Jô.
- O que está havendo aqui?! - Nathanael exige assim que me flagra trabalhando na cozinha. Ele está com as mãos sujas de vermelho.
- Por favor. Não conte ao Lorenzo - peço.
- Teve sorte que fui eu quem a vi, Sofia - ele me adverte.
- Eu sei. Mas olha - peço, largando o prato e dando a volta na ilha -. Eu foi criada assim, trabalhei a vida toda. Não consigo ficar parada.
Ele me analisa com seriedade.
- Que isso não se repita - diz para Jô, que se encolhe e assente com medo.
Então ele sai da cozinha.
- Foi por pouco - minha nova amiga diz trás de mim.
- As mãos dele - falo estática. Sentindo a adrenalina se dissipar em meu corpo.
- Sangue, minha filha - Jô diz por fim -. É a casa de um mafioso. O que esperava que encontraria aqui?
Pela primeira vez sinto medo.
Uma sensação estranha que não sinto desde a morte da minha mãe.
E pela primeira vez sinto medo de Lorenzo. Agora que vi que ele pode fazer muito mais que me dar só uns tapas.
❤️
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