Natanael

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Entramos na mansão. Ótimo. Agora só temos que nos enturmar e seguir com o plano. Tem um desgraçado que acha que pode passar a perna na gente -, o dono dessa bela casa para sermos exatos.

Mês passado, uma das caixas do carregamento de armas que estávamos transportando para cá parece que simplesmente evaporou. O problema é que o nosso colega, Lucien, estava sendo responsável por distribui-las aqui na França. Nosso informante descobriu que ele tomou essa caixa para desvia-la e vendê-la ao dono de uma boate daqui. Nós cobramos Lucien o mês inteiro para pagar nosso prejuízo e nada foi resolvido, agora Lorenzo acredita que ele precisa de um incentivo.

O filho de três anos do disgraziato dorme tranquilamente em seu quarto no terceiro andar, e Lucien foi burro o bastante para nos convidar para a festa.

- Isso vai ser divertido - Lorenzo fala ao meu lado -. Como capo, eu só cuido de papelada e fico dizendo aos meus capangas o que fazer. Perco toda a diversão.

- Nem me fale - comento com meu amigo -, nunca usei uma criança antes. Vamos levá-lo para a Itália?

- Se necessário.

Seguimos para a recepção da festa. Onde duas mulheres - muito gostosas por sinal - checam nossos convites. Sigo até uma delas com Luanna, enquanto Lorenzo vai até a outra com Sofia.

A ruiva a checar meu convite de dá um olhar safado, gostei, gosto de ruivas. Mas já estou acompanhando e não deixo minhas acompanhantes na mão. Ética pessoal. A mesma se aproxima de mim para dizer algo em meu ouvido;

- Talvez se canse da falsificada e queria algo original - ela diz, forçando uma voz sexy e isso me irrita. Ela se força a ser algo que não é e vem me dizer que Luanna é a falsa. Pelo menos os orgasmos que sou a ela eu sei que são reais.

Luanna sorrateiramente me afasta e pega a ruiva pelo queixo, cravando as unhas em sua pele clara.

- Dê em cima do meu cliente de novo e lhe arranco essa sua pele com esse perfume doce de embrulhar o estômago - ela diz sorridente para disfarçar, mas sua voz transmite ira -. Vamos - e me puxa para o salão.

Gosto disso na Luanna, ela não faz especulações sobre o que somos. É pé no chão e sabe que isso não passa de um relacionamento entre prostituta e cliente.

***

Deixamos as meninas no salão com alguns amigos e seguimos para nosso plano.

Nosso infiltrado já está na porta do quarto do garoto de tocaia nos aguardando.

- Já está dormindo? - Lorenzo pergunta enquanto nos aproximamos.

- Há horas, senhor.

- Ótimo. Prepare o carro - o capanga assente e se retira.

Entramos no quarto do garoto e colocamos os silenciadores nas armas.

- Quem carrega o pacote? - pergunto.

- Você - Lorenzo responde e o observo erguendo as minhas sobrancelhas.

- O que aconteceu com o fato de você ter "mais experiência com criança"? - indago.

- Acontece que eu atiro melhor também - ele diz bem humorado. Rio negando com a cabeça e pego o garoto com cuidado.

- Vamos.

Quando saímos do quarto para o corredor, demos de cara com algo que nos faz parar imediatamente; Lucien com uma arma apontada para a cabeça de Sofia.

- Acharam mesmo que eu os convidaria para minha casa se não fosse ficar de olho em vocês? Agora devolvam meu filho para a cama dele antes que eu meta uma bala na cabeça da boneca aqui.

- Fique a vontade. Não me importo com ela. Entretanto eu sei que se importa com seu querido filho catarrento - Lorenzo projeta tais palavras sem sequer esboçar um mínimo de sentimento.

E vejo muita ira nos olhos de Lucien.

Eu realmente espero que meu amigo esteja blefando. Eu sei que ele gosta da Sofia, o problema é que ele mesmo não sabe disso ainda. Mas ele tem ciência que Sofia faz parte de um plano bem maior... Ela é a isca para um peixe muito maior.

Sofia está estranhamente calma. Talvez seja porque ela percebeu hoje mais cedo que Lorenzo e eu já estávamos a planejar algo.

Sorrateiramente, aponto a arma na cabeça do menino em meus braços, encostando o cano do silenciador nos cabelos castanhos da criança. Aí sim vejo Sofia arregalar os olhos, junto ao homem que a segura em seus braços.

Lucien sabe que não estou brincando. Todos sabem que eu não tenho nada a perder, então sabem que não tenho porquê blefar. Eu sou um homem que perdeu tudo o que amar faz muito tempo. E um homem sem nada para amar é um homem que não pode ser chantageado, um homem que não pode ser traído e um homem que não responde a ninguém a não ser a ele mesmo!

Devagar, Lucien abaixa a arma da cabeça da garota. Pensei que Sofia viria correndo até nós, mas me surpreendo ao vê-la simplesmente virar as costas para todos e seguir em direção a escada.

- Aguarde nossa ligação - Lorenzo diz enquanto passamos pelo homem com olhos marejados, indo em direção ao elevador.

- Irá me pagar por isso, Lorenzo Merluzzo - é nítida a raiva em sua voz.

- Na verdade - Lorenzo se vira para Lucien assim que entramos no elevador -, acredito que eu quem receberei uma boa quantia, caro amigo. Pelo bem de uma criança inocente.

- Mande um beijo para sua mulher - peço -. Ela fez o melhor boquete que já recebi - digo pouco antes da porta do elevador fechar.

Escuto Lorenzo dar uma risada nasal.

- Aquela vadia manda bem mesmo no boquete - meu amigo completa.

- Onde vamos deixar a criança? - indago.

- Não quero assustá-lo, só o pai dele. Vamos deixar ele comigo. Sabemos que eu tenho mais experiência com criança.

- Você tem mesmo - sorrimos -. O que vai dizer a Sofia?

- Nada. Isso não é da conta dela - ele fica sério, porém se mantém calmo - ela vai ter e aceitar e concordar com o que eu quiser. Pelo menos ela é do tipo de garota que sabe onde é o seu lugar e fica nele. Não nos dará dor de cabeça.

Lembro-me da cena hoje no café. Lorenzo tem razão. Ela percebeu a nossa intenção e mesmo assim não protestou. Ela é discreta e inteligente, isso é bom. Sem falar no seu rosto inofensivo. Ela seria muito útil se trabalhasse pra máfia.

- Não mesmo.

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Maldito MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora