Capítulo 14

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A rosada estava com os olhos marejados. Sem pensar em como ela estava, eu abracei-a. Aquilo foi como um alívio pra mim.

- Sakura… me diz. O que aconteceu com você? - sussurrei. A rosada se separou do meu abraço me fitando sem expressão

- Sasuke… eu não… sei se devo. - murmurou em um fio de voz e abaixou o olhar para o chão

- Por que você não fala de seus pais? Por que você toma calmante para dormir? Por que tem essas cicatrizes? Por que outro dia você chorou em cima do piano?  Por que teve aquele pesadelo outro dia? - Sakura voltou sua atenção pra mim com os olhos arregalados. Uma lágrima saiu de seus olhos.

“ Não chora não. Por favor não chora. “

- Sasuke… então foi você...no dia do pesadelo? E como... me viu chorando sobre o piano? - disse enquanto suas lágrimas escorriam descontroladamente de seus olhos.

“ Como ela não lembra?”

- Sim, Sakura era eu sim. E no dia do piano, sua porta estava entreaberta, então pude ouvir o som do piano, e… fiquei curioso. - digo. - Mas me responde Sakura. Me diga toda a verdade.

- Tá bem Uchiha, eu vou falar. Mas antes me deixe vestir uma camiseta. - ela se vira me dando a visão de suas costas nuas com as cicatrizes. Sakura vai até seu quarto e eu fico a esperando do lado de fora. Alguns segundos depois ela abre a porta - Entra Sasuke. - me deu passagem.

O quarto dela tinha o cheiro doce de seu perfume, que era muito bom. Sentei-me na cama. Sakura fechou a porta e se sentou ao meu lado.

- Por onde eu começo?... -  a rosada fitava o chão.

- Pelo começo, oras. E dessa vez a verdade. - digo e Sakura solta um longo suspiro.

- Meus pai e eu morávamos no Japão. Ele era presidente da empresa da família e mamãe ficava em casa pra cuidar de mim. Papai começou a agir estranho quando completei 13 anos. Ele ficava me olhando de uma forma um tanto assustadora. Um dia eu peguei ele e mamãe em uma discussão. Ouvi mamãe perguntar o porquê de ele ter a traído. Eu não ouvi mais a conversa. Aquilo pra mim já havia sido o suficiente. Desse dia em diante, eu passei a ficar só no quarto. Foi quando parei com a ginástica. Ia pro colégio, e, quando as aulas terminavam, lá estava o motorista me esperando como sempre, voltava para o meu quarto. Então, quando estava prestes a completar 14 anos… - vi algumas lágrimas caírem sobre sua mão - ele… ele… abusou de mim. Meu próprio pai me estuprou. - arregalei os olhos e fiquei boquiaberto - Depois desse dia, sempre que chegava do trabalho, ele adentrava meu quarto e me abusava. Você deve estar se perguntando porque eu não contei pra alguém, certo? Ele me ameaçou dizendo que mataria minha mãe se eu abrisse a boca. Depois desse dia, meu mundo ficou cinza. Eu não sorria mais, eu não cantava mais, eu não fazia brincadeiras e nem ao menos me alimentava direito. Alguns dias depois de completar 15 anos, eu contraí uma virose. Acordei mal já, pensei que durante o dia passaria, mas, como você deve imaginar, não passou. A tarde meu pai chegou do trabalho, mamãe havia saído até o mercado comprar algumas coisas para fazer pra ver se eu melhorava, perguntou de mamãe, e informei que ela havia saído até o mercado, pois eu não estava bem e ela iria trazer algo pra que eu me alimenta e me sentisse melhor. Naquele dia ele parecia estar muito mais irritado do que os outros dias. Meu pai subiu as escadas dizendo que iria tomar banho. Se passaram alguns minutos e ele desceu novamente. Mamãe chegou e deixou as coisas na mesinha de centro da sala e, quando se virou para cumprimentar meu pai, levou a primeira bofetada. Eu não sabia se ele já tinha batido antes nela, então, pra mim, era a primeira vez. Ele começou a bater descontroladamente e dizia coisas desconexas. - eu olhava pra cada movimento que ela fazia com muita atenção. - Ele foi à um criado que havia na sala, uma espécie de cômoda, e, de dentro da gaveta, tirou uma arma de fogo, apontou para mamãe e disparou contra a mesma 3 vezes, fazendo-a cair no piso gélido, toda machucada por ter sido espancada segundos antes. - Sakura já não aguentava de tanto que chorava. - Eu, quase sem forças para me levantar, corri até ela. As únicas palavras que ouvi foram “Eu te amo filha “ repetidas várias vezes até que ela fechou os olhos lentamente. Nesse momento minha alma saiu do meu corpo. Eu fiquei vazia por dentro. Eu havia perdido minha mãe e não fiz nada pra evitar. Nada. Eu fui inútil. - olhou para as próprias mãos - Como sempre. Senti meu pai me arrastar para o andar de cima e abusar de mim mais uma vez. Apenas lágrimas caíam dos meus olhos. Eu não sentia mais nada. Então, ele pegou uma navalha e começou a fazer cortes nas minhas costas e alguns mais pequenos em outras partes do meu corpo que ficam mais escondidas. Eu sangrava mais não sentia nada. Eu estava vazia por dentro. Ele parou o ato, disse que já estava satisfeito. Eu saí do quarto e desci as escadas, ficando embaixo da mesma,  apenas observando o corpo de minha mãe jogado ali, sem vida. Ouvi passos acima de mim e vi que era meu pai que falava ao telefone com uma amigo que trabalhava com corpos de pessoas mortas. Vieram e levaram o corpo dela. Naquela noite eu não consegui dormir. Começou o meu inferno com pesadelos. No dia seguinte, todos já sabiam da morte de minha mãe. Meu pai deu um jeito de sumir com a única empregada que havia na casa e, para a imprensa, disse que minha mãe havia sido assaltada. Em casa meu pai me ameaçava para que eu não contasse a ninguém o que havia acontecido. Comecei a ter aulas em casa e sempre que ele não estava em casa, eu lembrava de mamãe e tocava a música que ela tanto gostava. Sabe, foi minha mãe que me ensinou a tocar piano. Ela me ensinou a música predileta dela. Minha tia me visitava e convenceu meu pai de me deixar ter aula de defesa pessoal. A tortura e os abusos duraram até eu completar 18 anos. Aí então, eu dei queixa dele na delegacia. Em algumas horas ele foi preso. Contei tudo pra minha tia e resolvi vir pra cá, estudar e quando me formar, vou assumir a presidência da empresa. - Sakura voltou sua atenção pra mim. Seus olhos estavam vermelhos e inchados pelo choro recente, assim como a ponta de seu nariz. Eu a fitava intensamente. Meu rosto estava molhado pelas lágrimas. Estava chocado por tudo o que acabara de ouvir. Porém, não demonstrava.

“Como essa garota sofreu. Eu não posso acreditar que ela passou por tudo isso... Esses olhos verdes. Essa boca pequena e vermelha. Essa pele pálida e cheirosa.“

Com os meus pensamentos eu começo a acariciar sua pele macia inconscientemente. Olhando bem no fundo dos olhos dela.

- Você é forte Sakura. Imagino como foi difícil pra você passar por tudo isso. - sussurrei

- Obrigada por me ouvir Sasuke. Eu não conseguia mais guardar isso. Ter que contar somente meia verdade pra uma  pessoa com quem divido um apartamento. - Sakura me abraçou. Me apertou em um abraço forte, como se meus braços fossem um refúgio do mundo que acabara de encontrar. Ela ainda chorava. Lágrimas corriam pesadamente por seu rosto.

Nada respondi. A rosada se soltou do abraço. Assim que voltou seu olhar na minha direção, percebi o quão perto nossas faces se encontravam. Havia apenas uma fina camada de ar que nos separavam. Fitei suas ordes esmeraldinas com intensidade. Aproximei-me mais dela, até que a camada foi quebrada por um roçar de nossos lábios. Tomei sua boca em um beijo calmo. Uma corrente elétrica passou . Sua boca era doce, macia, perfeita. Pedi passagem com a língua para intensificar o beijo e ela cedeu. Senti sua língua na minha. Era aveludada. Nunca havia beijado alguém como ela. Minhas mãos foram, uma para a sua cintura e outra para seus cabelos. Ela envolveu meu pescoço com os braços e puxou meu cabelo tornando o beijo mais intenso. Quando o ar nos faltou, nos separamos a contra gosto.  Nossas respirações estavam pesadas.

- Não me agradeça rosada. - tentei normalizar minha respiração com um suspiro, mas foi em vão. - Pode confiar em mim. Sempre estarei aqui pra te ouvir. - fitou as ordes verdes.

Sakura o olhava intensamente com a respiração pesada. Estava corada.

- Desculpa por isso Sasuke. - abaixou o olhar.

- Não se desculpe Sakura. - puxou o queixo dela fazendo-a me olhar. - Melhor eu ir deitar. - disse me levantando pra ir até a porta.

- Não vai. Fica. - Sakura segurou meu pulso.

Fitei suas ordes verdes. Seus olhos tinham algo que eu não sabia expressar. Medo? Desespero? Não sabia explicar.

- Eu não sei se… -  a rosada me interrompeu.

- Fica Sasuke. De alguma forma eu... me sinto segura estando ao seu lado. - Sakura corou.

De alguma forma eu...fiquei...feliz por ela sentir isso. Me sentei em sua cama encostado na cabeceira da cama e a puxei para que se sentasse ao meu lado. Ficamos conversando um bom tempo. Ela me contou de como aprendeu a tocar piano e guitarra. De suas aventuras na cozinha de sua casa com as empregadas. Sakura era uma garota interessante. Muito diferente das que eu estava acostumado. Me contou de quando Pain se declarou. Não fazia muito tempo. Foi logo que seu pai foi preso. A rosada sorriu abertamente quando falava de suas aventuras na escola. O sorriso dela era lindo. Seus olhos brilhavam. Uma vontade de beijá-la novamente tomou meu corpo. Mas eu sabia que não deveria. Eu estaria me aproveitando da situação. Me controlei. Nos deitamos e Sakura se aninhou no meu peito. Eu comecei a acariciar seus fios rosados, e ela continuou contando suas histórias. De repente ela parou. A fitei e vi que dormia. Não tinha como sair dali sem acorda-la. Não vi outra saída a não ser ficar ali e esperar até que ela acordasse. Ela era um anjo dormindo.

“ A rosada. Por que me sinto tão bem com você?”

Fiquei por um tempo acordado. Então, o sono foi me tomando e acabei adormecendo. 


~Continua...

Lágrimas do passado, felicidade no futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora