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Descemos o morro pela escadaria morta de cansaço, até o carro. Assim que entramos ele disse: 

— Po, to cansadão cara, to sem condições pra dirigir, eu tenho que dormir um pouco 
— Porra, Caleb! 
— Relaxa, vou dirigir até uma rua deserta e lá a gente dorme um pouquinho. 
— Tá bom. 
Ele foi pra uma rua deserta de fato, era afastada do morro, fechou os vidros do carro, ligou o ar e dormimos. Acordei com ele voltando a dirigir, a Malu ainda tava apagada no banco de trás. 

— São que horas? — perguntei meio sonolenta 
— Três da tarde — disse rindo 
— Nossa... 
— Chegamos na Rocinha. Tu mora em qual parte? 
— Pode me deixar aqui, eu pego um moto-táxi. 
— Nada disso, vou te levar em casa! 
Eu ri e fui guiando ele, até chegarmos ao meu portão. Eu acordei a Malu e saímos do carro. 
— Obrigada, por me trazer e por me levar lá, me diverti muito essa noite! — disse e ri 
— Comigo você vai ter muita diversão, gatinha — riu e piscou 
— Ok — ri 
— Vai lá, descansa e mais tarde eu vou lá na boca, te ligo qualquer coisa. 
— Tá bom, beijos. 
Eu entrei em casa e a Malu já tava jogada no sofá.
— Nossa hein nega, tu tá cansada mesmo né? 
— Fazem umas duas ou três noites que não durmo direito. 
— Vai lá pro meu quarto descansar, vai. 
Ela levantou e foi. Eu fui pro banheiro, tomei um banho super demorado, sai enrolada na toalha e dei de cara com Gaúcho e TFA na sala, me assustei pelo TFA, não pelo Gaúcho, já até me acostumei. 
— Que isso, porra? — perguntei injuriada 
— TFA, vai lá pra fora resolver os negócios — ele disse 
O TFA saiu, e o Gaúcho tava com uma cara de poucos amigos, lá vem discussão. 
— Tu saiu ontem a noite, eu te liguei pra caralho, tu tava rejeitando minhas ligações, vim descobrir que tu só chegou agora e ainda acompanhada de macho, tu deve ter perdido a noção né? — disse segurando meu braço com força 
— Me solta! 
— Não, não vou soltar, acho que tu tá confundindo as coisas, já afrouxei muito contigo, tu tem que aprender que eu não sou otário que nem seus amigos! — ele disse segurando meus dois braços com força 
— Você que deve tá confundindo, pela milésima vez, eu não sou nada sua, não te devo fidelidade, não te devo nada. Se tem alguém que me deve alguma coisa, é você! Me deve respostas. 
Eu disse tudo isso calma, sem me estressar, demonstrar que eu estava nervosa, iria automaticamente demonstrar fraqueza, e eu tinha que manter tudo sobre o controle pra inverter a situação e sair por cima.

— me soltou — Não vou entrar nessa assunto contigo, já disse, o buraco é muito mais embaixo que tu pensa. 
— Então vamos fazer o seguinte? Eu não te cobro mais nada, esquece que eu quero alguma coisa de você, você para de falar comigo e eu sigo vivendo minha vida normalmente. 
Ele ficou parado me encarando, porque como eu falei, eu disse isso tudo calmamente, como se fosse indiferente pra mim, eu me mostrava superior, agora ele me surpreendeu ficou quieto e sério, me encarando. 
— Você se acha autossuficiente, né? 
— Eu só não vejo necessidade dessa sua possessão. Você diz que não vai afrouxar pra mim, mas afrouxa pra eu não ir embora. Banca de “o indiferente”, nenhuma mulher te atinge, mas fica ofendido quando descobre que eu fiquei com outro homem. Eu queria que só por alguns instante você tirasse essa capa de “dono de morro” e mostrasse você de verdade. — eu disse olhando fixamente pra ele 
Ele parou alguns segundos, e disse com indiferença. 

— Não tem capa. 
— Tem sim, você amoleceu por milésimos agora, eu percebi isso. Eu tiro a minha, se você tirar a sua. 
— Não dá. — disse sério e saindo 
Ele saiu sem mais nem menos, nem olhou na minha cara. Eu fui pro meu quarto, penteei o cabelo e fiquei na sala.

NOVA ERA - CRIMINAL! (F)Onde histórias criam vida. Descubra agora