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Mariana.

Estava um porre ficar na mesma casa que o Deco, ele não tava na sala, tava na cozinha, mas a presença dele, saber que ele tá no mesmo imóvel que eu, me dá agonia. 
Eu ainda tava amarrada, pelo visto ele não ia me soltar. O Deco reapareceu com uma bebida, parecia caipirinha pela arrumação, com um limão no copo, ele sempre arrumava assim, mas tinham três copos. 

— Quer? 
— Não. 
— Sobra mais pra visita. 
— Visita? 
— É, tem uma pessoa que quer te ver assim, amarradinha. — disse e riu. 
— revirei os olhos — Você vai pagar por tudo Deco. 
— Cala boca, porque toda vez que você fala só aumenta minha vontade de te foder, assim, amarradinha... — ele disse bem próximo a mim. 
— Encosta um dedo em mim, e você assina tua sentença de morte. 
— riu — E quem vai me matar? O Gaúcho? 
— Claro! 
— riu irônico — Mariana, nesse momento o rato tá caindo em uma armadilha, vai ser pego pela ratoeira. E adivinha o quem foi usada como queijo pra atraí-lo? 
— parei perplexa — Eu... 
— Espertinha. 

Eu comecei a tremer de nervoso, nervoso sim. Eu imaginei que eles tivessem me usado como isca pra atrair o morro, mas o Gaúcho tava vindo e com certeza, tinha gente deles infiltrados na missão, a armadilha era bem maior do que eu pensava. 
Bateram a porta e o Deco disse: 

— Adivinha quem chegou? — perguntou animadinho e indo até a mesma 
Ele abriu e ela deu um passo a frente me olhando séria, eu sinceramente, de alguma forma não me surpreendi. 

— Olá cunhadinha. 
— Dissimulada — eu disse balançando a cabeça negativamente 
— Acho que você não está em condições de tentar bancar a foda não hein — ela disse debochadamente — Deco, me vê uma dessas. — disse se referindo a bebida 
O Deco entregou um copo a ela e ela deu um gole. 
— Nossa, tá bom, mas fica melhor assim — disse andando em minha direção 
Eu sabia que ela ia virar em mim, então mesmo amarrada eu ergui os braços, fazendo o copo virar nela. 
— Opa, não foi minha intenção. 
Eu parei olhando séria, mas com um leve tom de deboche. 
— Aqui, são dois a um. Você tem certeza que vai querer comprar briga comigo?
— A briga já tá comprada, desde o momento em que você se aliou pra derrubar quem eu amo. Vagabunda. 
— Deco, como você consegue deixar essa garota viva? — ela perguntou pro Deco. 
— Porque ela, infelizmente, é meu pote de ouro. 
— Leva essa garota pra algum quarto e vamos ficar aqui na sala — ela disse 
Eu captei rapidamente o que estava acontecendo, Cauana, puta, estava querendo dar pro Deco, provavelmente interesse no dinheiro.. 
— Cauana, eu quero uma resposta! — eu disse firme 
— A resposta não te interessa. — ela disse ríspida 
— Claro que interessa, me envolve! — respondi no mesmo tom 
— segurou meu cabelo — E não era pra você se envolver! Você só atrapalhou tudo!— ela disse com raiva 
Eu, mesmo com as mãos atadas, bati no braço dela fazendo ela soltar. 
— Você não é digna de puxar meu cabelo, sua piranha! — disse com os dentes cerrados 

Eu disse isso abrindo as duas mãos e empurrando ela. Ela foi pra trás um pouco, ela já estava um pouco sem equilíbrio pelo fato de estar de salto e tomado a caipirinha, se é a caipirinha que o Deco era acostumado a fazer, é forte pra caramba, e eu ia usar isso ao meu favor. 

— Eu vou quebrar tua cara, sua piranha! — ela disse vindo na minha direção, mas o Deco me puxou 
— Ei, arrebenta depois que eu já estiver com as ações dela no meu nome. Até porque eu quero casar com ela em perfeito estado — o Deco disse 
Ele falava e me dava um embrulho no estômago, só de pensar que eu fui cega todos esses anos e ele foi totalmente sem escrúpulos. 
— Me levem pra algum quarto, agora quem não quer ficar nessa sala, sou eu. — eu disse 
— Isso não será problema. — o Deco disse — Vem! 
Ele me puxou pelo braço em direção a um corredor. 
— Me solta que eu sei andar! 
— Cala boca que eu ainda tô te fazendo um favor, ou tu quer ficar lá na sala pra me ver foder a piranha da tua ex-cunhada? 
— O que eu mais quero é que vocês se fodam! 
— Seu desejo será realizado — ele disse parando em frente a uma porta e abrindo — Agora entra!

Eu entrei e ele acendeu a luz, fechando a porta logo em seguida, eu ouvi barulho dele trancando. Maravilha, eu estava trancada! Mas com certeza era melhor do que assistir de camarote a sacanagem dos dois. 
Parando pra analisar o fato da Cauana estar fazendo parte disso tudo, isso não foi nenhuma surpresa pra mim, mas é isso que me assusta, por que não foi nenhuma surpresa? Ela disse que eu atrapalhei, mas atrapalhei o quê se quando era reapareceu eu já o conhecia há meses? Ela tava se aproximando do Gaúcho por interesse? A fim de roubá-lo? Ou pior... não, isso não pode ser, é apelação demais Mariana! Mas pensando bem, pode ser sim, piranha do jeito que ela é eu não duvido muito de ela estar interessada no próprio irmão. 
Ficar nesse quarto já tava me irritando, eu conseguia ouvir os gemidos dela, ela gemia alto demais, como se fosse pra eu ouvir, como se aquilo fosse me afetar em alguma coisa. 
Depois de um longo tempo e muitos gemidos, tudo ficou um silêncio, silêncio demais. Provavelmente eles haviam dormido.
Se no quarto tivesse uma janela, seria perfeito pra eu fugir, mas não tinha. Eu precisava sair dali de alguma forma. 
Eu comecei a caçar algum objeto pontiagudo que pudesse cortar o que amarrava meus pulsos. 
Eu tanto cacei que achei uma gilete, foi difícil cortar e acabei me cortando também, mas finalmente estava com as mão livres, meus pulsos estavam marcados 
— Merda! — eu disse olhando a vermelhidão neles. 
Eu fui até a porta, e me surpreendi, ela não estava traçada, porém, seria uma missão suicida sair no quintal, porque eu sabia que tinha homens lá, eu precisa arranjar um outro jeito. 
— Pensa, Mariana, pensa! — eu disse comigo mesmo. 

Eu comecei a caçar alguma saída no quarto, mas não tinha muita coisa ali. Eu sai do quarto e fui vasculhar os outros. Em um, o ultimo quarto do corredor, eu tropecei no tapete e ele cobria um tipo de porão, era o que eu precisava, era a solução de todos os meus problemas. Eu imediatamente abri, desci um pouco e fechei, tudo isso segurando o tapete, pra eles não perceberem, ou só percebem depois de muito tempo. 

Tava tudo muito escuro, não tinha como clarear, eu não achava nada, eu só fui seguindo, e me apoiando na parede, aquilo cheirava mal e eu sentia que o chão estava um pouco molhado, úmido. Depois de muito seguir, eu vi uma luz, eu corri até a mesma. Ela tava no alto de alguma das fragmentações do Complexo, eu via alguns homens armados atirando, provavelmente a Rocinha já estava aqui, eu precisava achar alguém de lá que pudesse mandar o Gaúcho voltar pra Rocinha, caso contrário, uma coisa não muito boa podia acontecer

NOVA ERA - CRIMINAL! (F)Onde histórias criam vida. Descubra agora