Capítulo 40

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     A ala VIP do Meyre Hope era pouco movimentada em comparação a outras alas. Era um ambiente incrivelmente silencioso, onde o único barulho a ser escutado eram as solas dos sapatos em contato com o chão.

Marta, Calub, Maia e Hope entraram no quarto onde o Dr. Bernardo estava.
A porta se abriu vagarosamente despertando o senhor que aos poucos foi abrindo um sorriso.

ㅡVovô!! ㅡ Maia gritou alto e desceu rapidamente dos braços de Calub.

A pequena correu na direção de Bernardo e com um pouco de dificuldade, conseguiu subir na cama.

ㅡ Maia, tenha cuidado para não machucar o vovô. ㅡ Calub alerta.

ㅡ Eu não vou machuca-lo. ㅡEla fez bico. ㅡ Olha vovô o que eu trouxe pra você!! ㅡ A pequena tirou um papel dobrado de dentro do bolso e entregou ao avô que recebeu com um sorriso.

ㅡ Muito obrigada, minha ursinha. ㅡ Ele agradeceu.

ㅡ Ei! ㅡReclamou Hope. ㅡ Eu sou a sua ursinha!

ㅡ Você, a Maia e o Calub são meus ursinhos. ㅡ Bernardo disse enquanto abria o desenho.

Haviam diversos corações que emolduravam a folha e um desenho do Vô Bernardo com uma frase abaixo: "Fica pom logo!"

Bernardo riu e agradeceu a cartinha.

ㅡ Está melhor, vovô? ㅡ Hope perguntou.

ㅡBem melhor agora.

ㅡ Vovô. ㅡ Maia cutucou-lhe para ter sua atenção. ㅡ Ontem a mamãe e eu rezamos ao Papai do Céu por você.

ㅡ Foi mesmo? ㅡ Bernardo desvia seu olhar para Marta que até o momento acompanhava silenciosamente. ㅡ E o que você conversou com Ele?

ㅡ A mamãe disse que devemos pedir a vontade de Deus. Nunca exigir.

ㅡ Sim. De fato. Somente a vontade de Deus. ㅡ Maia deita ao lado de Bernardo.

ㅡ Mas eu não quero que você vá morar no céu como o papai do Calub.

Bernardo ficou estático e sem palavras. Somente fitou os olhinhos amendoados de Maia e abriu um sorriso.

ㅡ A vida não é do jeito que queremos que seja, Maia. Um dia você vai morar no céu também. ㅡ Calub cortou o silêncio constrangedor que havia no local. ㅡ Mas só se for uma menina boa. Se for linguaruda e mimada não passará nem na porta do céu.

Calub brincou tentando amenizar o clima tenso que havia se formado. É muito complicado explicar a morte para uma criança. Se nem nós mesmos a entendemos de modo que não seja temerosa, imagine uma criança.

Maia fez uma careta para o irmão e desceu da cama com rapidez.

ㅡ Você é chato! ㅡ Apontou com dedo indicador. ㅡ Mamãe, eu estou com fome. ㅡ Ela pegou na mão de Marta. ㅡ E vovô, não saia daí. Volto daqui a pouco. Só irei abastecer minha rabiga. Volto logo. ㅡSoltou um beijo no ar.

ㅡ Acho que irei também a lanchonete. Vão querer alguma coisa? ㅡ Hope perguntou.

ㅡ Eu até gostaria. Mas seu pai me proibiu. ㅡ Bernardo brinca.

ㅡ Não quero nada. Obrigado. ㅡ Calub disse.

Assim que Hope fechou a porta, os olhos de Bernardo pairaram sobre Calub.

ㅡ Está tudo bem entre vocês?

A pergunta do vô Bernardo congelara o estômago de Calub. Ele engoliu em seco e ousou perguntar:

ㅡ Entre quem?

ㅡ Você sabe. ㅡ Bernardo desviou o olhar.

ㅡ A-ah, s-sim. Cla-claro. ㅡ O garoto levou uma mão a nuca e se enconstou na parede. ㅡ Como nunca.

ㅡ Já disse o que sentia para ela?

ㅡ O quê? ㅡCalub se desescorou da parede.

ㅡ Eu sou velho, mas não sou cego. Você gosta dela, ela gosta de você. O que estão esperando? ㅡ Bernardo voltou seu olhar a Calub. ㅡ Ouça: quero que leve Hope ao baile. Mas esse não é meu único pedido. Quero que se case com ela!

ㅡ O quê?! Vô Bernardo, vamos com calma. Sou muito novo para pensar nisso.

ㅡ Você a ama, não ama?

ㅡ Eu, é... Sim. Eu amo.

ㅡ Então... ㅡ Ele respira fundo. ㅡ Case com ela quando terminarem o ensino médio. Ambos herdarão as administrações dos hospitais. Sei que não estarei vivo até que Hope se case. E do jeito que o pai dela é, não será capaz de discernir um bom marido para aquela ruivinha. Ela é muito linda e delicadinha para ter um coração partido. Tenho total convicção de que você é o cara destinado a ela.

ㅡ Por que está falando isso? O senhor não irá morrer agora. Não pense nisso. ㅡCalub segura a mão do avô que esboça um sorriso.

ㅡ A vida é apenas um sonho e muito em breve acordaremos. Ouça: Você não vai chorar. Será forte. Promete? ㅡ Calub assentiu comprimindo os lábios e sentindo a gargantar apertar. ㅡ Tenho leucemia linfocitica crônica avançada. Estou nos meus últimos dias. Caleb ainda não sabe. Descobri isso recentemente por acaso.

ㅡ Por que não nos contou?? ㅡ Calub deixou uma lágrima teimosa descer. Enxugou-a rapidamente e fungou.

ㅡ Estava tão feliz em tê-los novamente conosco. E ainda Maia para completar a felicidade! Pensei em não preocupa-los.

ㅡ Não podia guardar isso só para si! ㅡ Calub diz ㅡNão quando se tem pessoas que te amam e se preocupam com você.

ㅡ Sei que foi errado. Mas agora, deixarei Caleb descobrir por si só. ㅡ Calub respirou fundo na tentiva de se acalmar. ㅡ Então... Você promete?

ㅡ Prometo. Prometo primeiro porque a amo.

ㅡ Eu não duvido disso. Mas precisa dizer isso a ela.

A porta se abre no meio da conversa. Hope entra acompanhada de Maia.

ㅡ Meu pai chamou sua mãe para conversarem a sós. ㅡ Hope diz a Calub com olhos assustados.

Calub troca olhares tristes com Bernardo, mas o mesmo lhe manda um sorriso fraco.

ㅡ Vovô, eu comprei algumas balas. Quer algumas? ㅡ Maia sobe em cima da cama.

ㅡ Calub e Hope, vocês não acham que precisam conversar? ㅡ Bernardo aconchega Maia para mais perto de si.

ㅡ Conversar? Como assim? ㅡ Hope indaga um pouco alterada.

ㅡ Não é nada agravante. Não se preocupe. Podemos resolver isso outra hora. Não é vovô? Agora... Que tal assistirmos Bonanza todos juntos?

ㅡ Ah! Bonanza! Faz tanto tempo que não assisto! ㅡ Vô Bernardo diz após um longo suspiro e engolir alguns amendoins coloridos.

ㅡ Hope... Poderia conectar seu dispositivo móvel a tv? ㅡ Calub pede.

ㅡ Disposi... ㅡ Hope tenta raciocinar. ㅡ Ah. Claro. Sim! Celular.

ㅡ O que vamos assistir? ㅡ Maia pergunta após uma lambida em seu pirulito colorido.

ㅡ A melhor série de tv que o mundo todo já viu. ㅡ Vô Bernardo diz e os três ursinhos se acomodam junto a ele.

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