Capítulo 10

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        "Vocês eram grandes amigos."

(...)

ㅡ Como foi seu dia? ㅡ Sua mãe pergunta após se servir com mais um pouco de sopa de ervilhas.

ㅡ Embaraçoso. ㅡ Calub responde após enfiar uma colher de sopa na boca.

Ele havia passado, praticamente, o dia inteiro com Hope. E ele percebeu que ela não era aquela garotinha tímida que ele pensava.

Hope era extrovertida e engraçada. Não dava para levar nada à sério com ela. Calub já estava ansioso pelos próximos dias.

ㅡ Preciso que deixe Maia com D. Sthephania. ㅡ Calub comenta. ㅡ Darei aulas à Hope entre três da tarda às sete da noite.

ㅡ Irei falar com ela.

Dona Stephania era a vizinha do lado esquerdo. Sempre estava disposta à ajudar e cultivava um grande carinho por Maia.

Ela cuidara de Calub e Maia quando eram mais novos e os tratava como netos.

ㅡ Sabe o que Hope me propôs? ㅡ Diz Calub após limpar a boca com o guardanapo de pano. ㅡ Mudar de estilo.

ㅡ Não é uma má ideia.

ㅡ Mãe! ㅡ Calub repreendeu.

ㅡ Qual é, filho?! Olha como você se veste!

ㅡ Você está me deixando depressivo.

ㅡ Estou sendo sincera.

Marta se levanta da mesa, põe o prato na pia e em seguida vai para à sala.

ㅡ Hope é uma boa menina. Faz muito tempo que não há vejo... ㅡ Calub se aproxima e senta ao seu lado. ㅡ Deve estar uma bela moça.

E como!

Afinal, Hope era considerada uma das mais belas garotas do Bochitteli.

ㅡ Sabe o que eu me lembrei? ㅡ Marta cruza as pernas e puxa uma almofada. ㅡ Quando vocês tinham três anos, diziam que eram namorados e que iriam se casar. Acho que tenho uma foto do casamento de brincadeira de vocês guardada em algum canto.

Calub corou. Ele jamais imaginaria que houvesse cultivado uma grande amizade com Hope.

Ele não se lembrava exatamente dela. O tempo o fez esquecer.

ㅡ Casamento? Sério isso?? ㅡ Ele perguntou entre risos constrangidos. ㅡ Eu não lembro disso.

ㅡ Você tinha três anos. Não tem como lembrar. ㅡ Sua mãe abanou a mão no ar e se levantou em direção à estante da sala. ㅡ Acho que está por aqui... em algum lugar.

Calub sabia de que foto sua mãe falava. Ele já tinha visto antes. Mas ele não imaginava que a "amiguinha de infância", que dizia sua mãe, fosse Hope.

Até porque ela mudara muito fisicamente. O cabelo todo enroladinho virou uma mistura de liso com cacheado. O vermelho de seus cabelos antes eram mais claros, hoje estão mais intensos e vivos. As tão fofas sardinhas, haviam sumido.

ㅡ Mãe, não preci... ㅡ Calub diz enquanto vê sua mãe subir em um banco mas é interrompido.

ㅡ Aqui está. É essa caixa. ㅡ Ela tira a caixa de cima da estante e assopra tirando todo o pó. ㅡ Vamos ver, vamos ver... ㅡ Cantarola.

ㅡ Não precisa disso.

ㅡ Precisa sim. Quero lhe dar a foto.

Calub revira os olhos e observa sua mãe mexer na caixa.

Marta tira alguns pápeis de dentro da caixa e põe sobre o sofá. Enquanto Marta procura a tal foto, Calub observa a quantidade cartas que sua mãe tirava da caixa.

Em curiosidade, ele pegou a mais próxima e abriu vagarosamente. E para sua surpresa, havia a assinatura do Dr. Caleb.

Ele tentou ler as primeiras linhas, mas não entendia os garranchos que estavam escritos. Foi quando sua mãe o interrompeu:

ㅡ Achei! ㅡ Ela pulo do sofá e estendeu a foto ao filho.

Calub puxou a foto e começou a fita-lá.

Ele, parecido com um fidalgo, com um grande terno que arrastava ao chão. Seus olhos, em um verde vivo, bem arregalado e o sorriso tímido que chegava a passar despercebido, esboçava a inocência de uma criança.

Ela, com um vestido branco e uma linda coroa de flores. Os cabelos em um vermelho claro e os cachinhos rebeldes que desprediam da coroa. Sem esquecer das três rosas brancas que ela segurava na mão direita.

O mais engraçado: Ele não lembrava de nada disso.

ㅡ Nossa.

ㅡ Alguma memória? ㅡ Sua mãe pergunta.

ㅡ Não.

ㅡ É uma pena. Vocês eram grandes amigos.

(...)

Naquela noite, antes de dormir, Calub se pôs a admirar a tal foto.

Talvez, se ele não tivesse mudado de bairro ou de escola, eles estariam sendo amigos até hoje. Certo?

Talvez.

Ele está a um passo para se tornar amigo de Hope. Por enquanto são apenas colegas. Quem sabe o destino não lhe mostra mais outra opção?

Mas por quê alguém como Hope namoraria um carinha desleixado e alvo de piada para todos?

Se isso era um sentimento de amor que estava crescendo nele, Calub estava disposto a mudar. Não para satisfazer os padrões da beleza e sim ceder aos caprichos de Hope.


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