V. Garota da Biblioteca

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Ao chegar ao pequeno castelo de Romckpay, tentei agir da forma mais natural possível, como se não tivesse sequer saído do Instituto.

Estive tentando limpar o sangue seco daqueles dois ladrões desde que os deixei naquela rua, mas nem esfregando o manto nas mãos a sujeira saía. Parecia impregnado, e em uma tentativa de cobrir a parte mais escura e avermelhada nas minhas roupas, quase rasguei o tecido do uniforme de tanto puxar. Minha intenção era ser discreta, mas perguntas iriam surgir quando mandasse meu uniforme para lavar depois de uma missão não autorizada, isso eu tinha certeza.

Tinha aprendido a lição, pelo menos, e passei o resto do caminho prestando mais atenção nas sombras. Evitara os olhares que podiam denunciar que eu estava fora da mansão até então, mas não sabia quanto tempo minha sorte ia durar.

Já passava muito da meia-noite e eu temia estar encrencada, pois a minha permissão para faltar aos treinamentos diários não envolvia voltar no meio da madrugada e quebrar regras sobre o toque de recolher. Principalmente sem comunicar ninguém, como eu havia feito. Só esperava que Romckpay entendesse, quando lhe explicasse meu bom motivo. A culpa, afinal, era dele por não ter me respondido nada.

Todos os Caçadores autorizados para missões podiam sair nas noites em que não tinham trabalho a fazer, mas isso exigia que avisassem algum superior de que estariam na rua, eram as regras. Sabia que isso era uma forma de manter o controle entre os soldados, mas certamente minha responsabilidade de ir até o Blaze's era confidencial e eu não podia arriscar falar sobre uma tarefa importante para algum oficial que não sabia das ordens de Romckpay. Sem falar que eu tinha acabado de roubar e desperdiçar parte dos espólios que pertenciam aos cientistas e eu não podia deixar ninguém descobrir que tinha arrombado a porta e roubado da sala de troféus.

Esperava que o colar de Robert realmente funcionasse, já que era a única garantia de que todo meu trabalho valeu a pena. Caso contrário, minha noite teria sido uma perda de tempo e eu com certeza seria punida.

Ao virar no corredor dos quartos, não me surpreendi quando alguém me puxou para um dos cantos e soltou meu braço assim que era seguro. Não precisei dizer nada, Adam fazia isso comigo há tanto tempo que não me importava mais, sequer me assustava. Eu o reconheceria em qualquer lugar, porque mais ninguém tinha coragem de me puxar sem aviso. Ninguém tinha essa liberdade comigo, apenas meus amigos mais próximos.

— Onde é que você estava até agora?-ele me perguntou, visivelmente irritado.- Sabe que horas são?

— Eu estava trabalhando.- Respondi em tom de deboche.

Não era mentira, mas era bom que ele percebesse que sua irritação não me atingia. Desenrolei o colar de meu bolso e o balancei diante do rosto do meu amigo, o vidro refletindo as luzes ligadas no corredor.

— Estava ocupada terminando o que você teve medo de fazer.

— Não consigo acreditar que você estava na casa daquele maluco do Fletcher até uma hora dessas! Você é maluca.

— Hey, acalme-se!- eu o repreendi.- Está bem tarde e as pessoas devem estar querendo dormir.

Ele me lançou um olhar indignado, mas eu o entendia. Talvez aquela fosse a pior parte.

— É, eu estava fora de casa.- admiti.- Algum problema com isso?

— E o que é todo esse sangue na sua roupa?-Adam apontou para o meu uniforme sujo, com a expressão mudando para preocupada.- Se machucou?

— Não é meu sangue.- Olhei brevemente para as minhas roupas. Pelo visto eu mesma teria que lavar meu uniforme no banheiro do quarto para não levantar suspeitas. - Tive um pequeno encontro desagradável com ladrões definitivamente burros.

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