XXIII. Experimentos

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Acordei com um pulo, ainda resquício do sonho depois de um sono agitado.

Percebi que estava de novo em minha antiga cela, mas, dessa vez, haviam correntes me prendendo à parede. Sabia por que fizeram isso, então não me surpreendi com seus métodos.

Dianna me olhava assustada do outro lado das grades que nos separavam. Me limitei a observa-la, sentada em meu catre. Sem dizer nada, levantei as mãos para prender meus cabelos em um coque alto com um nó no próprio cabelo, o máximo de movimento que aquelas correntes me permitiam.

—O que você fez?-a garota perguntou, quase baixo demais para escutar.

Dei de ombros.

—Nada demais.

Com os cabelos fora do meu rosto, tentei soltar as correntes de metal no meu pulso esquerdo. Infelizmente, eram muito grossas, não tinha certeza se conseguiria quebra-las apenas puxando.

— Quebrei as minhas antigas algemas e derrubei meu antigo inimigo de infância. Sabe como é, empurrei ele da cadeira.- Expliquei em tom de voz baixo, recapitulando os acontecimentos naquela sala de interrogatório.- Eu provavelmente provoquei uma contusão bem feia no Courtney. Foram necessários três soldados para me conter. E mesmo assim eu só parei quando me drogaram.

Ela arregalou os olhos como se eu tivesse dito que acabei de matar a Rainha. Sorri diante de sua expressão. Obviamente Dianna não conviveu com muitos lutadores em sua vida.

Não disse mais nada, encostando-me à parede, ainda forçando as correntes. Percebi que ela se distraia me observando enquanto voltava a tentar me soltar. Meu pulso esquerdo foi preso à uma corda na parede que permitia que eu apenas pudesse me levantar e mover o suficiente para conseguir me deitar e dar alguns passos antes de começar a me machucar, a julgar pelo alcance curto que tinham me dado. Sequer conseguia alcançar as grades mais do que um roçar dos meus dedos.

Meus pés permaneciam soltos, felizmente, e meu pulso direito ainda mantinha a parte arrebentada da algema do dia anterior. Me levantei e apoiei uma das pernas no catre da minha cela, puxando a corda para tentar arrancá-la. O impulso das minhas pernas devia ajudar, mas qualquer que fosse o material que usaram para me amarrar, enfraquecia-me como se fosse humana de novo. No entanto, se conseguisse me libertar, pretendia usar a corrente de metal como um chicote, se necessário.

Passei muito tempo forçando a corrente, e embora tivesse machucado meus dedos com o esforço, minhas tentativas foram inúteis. Um filete de sangue começou a escorrer a partir do meu pulso, onde o ferro estava me machucando. Não ligava para isso, no entanto. Aliás, não ligava para nenhuma dor. Não tinha tempo para dor. O que era aquela coisa que era mais forte do que eu e não me queimava como a prata?

Por sorte, a licantropia me permitia uma recuperação rápida de qualquer ferimento. Em poucos minutos os cortes no meu pulso já iam cicatrizar.

Os hematomas da briga com aqueles dois brutamontes já quase não existiam mais, mesmo que os cortes já tivessem desaparecido por completo.

— Não adianta. - Dianna murmurou. - Não vai conseguir quebrar isso.

Parei por um segundo, apenas para olhar as correntes de Dianna. Não eram grossas como as que me prendiam, mas estavam completamente espalhadas pelo chão da sua cela e seu pulso estava roxo, onde ela deve ter tentado arrancar a algema. A jovem bruxa ainda tinha vantagem, se tinha toda aquela corrente para se movimentar pela cela, bem mais que eu.

—Você desiste muito fácil. - comentei, mas voltei a trabalhar nas algemas.

—Você desiste alguma vez?

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