XXVIII. Problemas de Família

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—Isso ainda não acabou. - avisei Adam, mas ele concordou, balançando a cabeça.— Nós ainda temos muito para conversar.

Liev continuava ao lado da minha mãe, ainda não tinha percebido a minha presença. As duas conversavam próximas uma da outra e eu não podia escuta-las de onde estava sem usar meus poderes, coisa que eu não queria fazer, não ali. Minha mãe disse algo a ela com um meio sorriso e então apontou em nossa direção. Minha irmã se virou na mesma hora e sua expressão era de total surpresa quando me reconheceu, o que já era um milagre, considerando quão nova ela era quando fui embora.

Vi uma lágrima escorrer de seus olhos e então ela correu para mim, apertando-me em um abraço forte demais quando me levantei. Era bom saber que nisso ela continuava a mesma.

—Você voltou de verdade?- Liev perguntou com a voz embargada.

Ela se afastou apenas o suficiente para poder conversar normalmente. Algumas lágrimas ainda escorriam dos seus olhos cinzas, a cor ganhando tons de violeta pelo choro.

—Sim, mas é por pouco tempo-respondi-lhe.-Estou em missão, não posso me demorar muito.

Olhei rapidamente para Adam, esperando que ele entendesse meus motivos para mentir. Pelo menos ele continuava em silêncio. Iria interpretar isso como um bom sinal.

—Que tipo de missão?

—Desculpa, Liev, não posso te responder isso.-falei, pondo uma das mechas brancas de seu cabelo por trás da orelha.

Faz tanto tempo que parti que não imaginei que minha irmã mais nova fosse lembrar de mim. Afinal, ela só tinha 6 anos. Achava que o fato de sua memória ser tão boa podia ser tanto um dom quanto uma maldição, e ainda não decidi se isso era um bom sinal. Ela já tinha muito das minhas características. De alguma forma, a licantropia também a afetou. Por isso sentia por ela. Eu não sabia disso na época, não entendia o que sua força significava, mas quando descobri a verdade sobre essa família, compreendi que ela também nasceu com dons, ativos antes mesmo que os meus. Não sabia se sua condição tinha alguma coisa a ver com a licantropia também, mas era uma sorte que fosse tão saudável, considerando os problemas daquela pele tão pálida.

—Liev, antes que eu me esqueça...-comecei a dizer e apontei para Adam, ainda sentado ao meu lado. - Esse é Adam, meu parceiro e melhor amigo.

Ele se levantou, estendendo-lhe a mão. Com os dois frente a frente, conseguia perceber a diferença gritante entre eles, o quanto Liev ainda parecia uma criança aos olhos de quem não a conhecia.

—É um prazer conhecê-la, Liev. - ele disse, em tom cordial. Formal demais, Adam, pensei. Liev não era assim. - Sou Caçador também, se é o que quer saber.

Ela me olhou com uma expressão de curiosidade no rosto, uma pergunta muda que eu entendia bem demais. Não confirmei nem discordei, apenas deixei que ela pensasse o que queria. Não era uma conversa que eu queria ter.

Quando seu olhar voltou-se para Adam, ela se aproximou ainda mais dele e o abraçou, como fez comigo. A surpresa no rosto dele me dizia que ele não esperava que eu tivesse uma família tão fã de contato físico, mas eu entendia porquê. Sempre fui bem mais fechada do que todos eles.

—Se você é amigo da minha irmã, então também é meu amigo.

Liev o soltou e me olhou sorridente, puxando um dos meus pulsos para que eu a seguisse. Não sabia o que ela queria, então apenas permiti que ela me levasse até a mesa.

—Por favor, Saphira, se senta. - ela me pediu. -Temos dez anos de histórias para botar em dia. Tenho tanta coisa para te contar.

—E tem mesmo. - minha mãe nos interrompeu. - As coisas não foram as mesmas depois que você entrou para a Caçada e se mudou para Londres.

A Caçadora da Meia-Noite Onde histórias criam vida. Descubra agora