— Saphira...-Adam me chamou.
—Não, Adam. Agora não é uma boa hora. - sussurrei, tão baixo que não sabia se ele tinha me escutado.
Não era como se nunca tivesse visto corpos antes, mas nunca me senti tão responsável por alguma morte como me sentia por essas. Eu devia estar acostumada, mas não estava. Nunca estaria.
Eu sabia o que tinha acontecido ali. Os soldados de Romckpay me rastrearam e para provar alguma coisa, provavelmente porque não me encontraram, incendiaram o lugar. Fizeram isso em retribuição à minha fuga. Era um aviso, se por acaso eu voltasse ali.
Devia ter me livrado das roupas e armas da Caçada há muito tempo, mas eu não tinha nada além do que me entregaram. Era culpa minha, tinha certeza. Só podia ter algum rastreador em mim, era a única explicação. Pensei que tinha apagado meus rastros. Não era ingênua para acreditar em coincidências. Na vida de desertora, isso não existia. A caçadora tinha virado a presa.
Desci do cavalo, cuidando onde pisava. Era quase impossível esconder meus sentimentos, mas Adam e minha irmã não precisavam saber como eu me sentia naquele momento. Precisava me manter firme, como sempre. Por eles, não por mim.
Não havia necessidade de escândalos ali.
Mesmo assim, precisava ver o estrago que a Caçada da Meia-Noite tinha causado. Não por sadismo, não por querer, mas porque eu queria ter essa cena na cabeça quando fosse matar Romckpay.
Porque eu tinha desistido. Não podia ficar parada ou fugir para outro continente enquanto pessoas inocentes continuavam morrendo pelas ordens de Stewart Romckpay e do Lorde Cinclair. Eles não tinham escrúpulos, nunca tiveram, eu só não queria ver isso antes. Estava farta de me manter cega aos atos da Caçada, estava na hora de tomar uma atitude. Isso foi a gota d'água.
Eu entendia bem a situação naquele momento. Estava em guerra, e era cada um por si. Mas de uma coisa tinha certeza, o que aconteceu neste acampamento não irá se repetir nunca mais. Eu não permitiria. Pela minha vida que não.
Ao perceber minha movimentação, Adam também deixou seu cavalo e me acompanhou em silêncio, provavelmente tão decepcionado com as pessoas que um dia viveram conosco quanto eu. Ele sempre foi bem mais sentimental do que eu. Tinha certeza que se sentia intimidado aqui, mas duvidava que algum dia houvesse desejado que algo assim acontecesse.
A cena era quase indescritível, algo que não devia ser possível, mas a julgar pelo cheiro ainda forte de carne queimada e fumaça, significava que o ataque ainda era muito recente, talvez pouco mais de um dia, no máximo. Olhei para trás por um momento, para a minha irmãzinha, agora em estado de choque ao ver todos aqueles corpos, a fumaça ainda forte no ar, queimando o ar que entrava em nossos pulmões. Não podia ajudá-la, e isso cortava meu coração. O pouco que ainda era capaz de sentir doía por minha irmã mais nova, alguém que nunca tinha presenciado os horrores da minha vida. Era por isso que eu queria que ela ficasse em casa. Liev nunca devia ter vindo, visto isso.
Talvez ter visitado minha família não tenha sido uma boa ideia. Liev não devia ter me seguido, não devia ver as coisas que me acostumei a presenciar. Briguei com ela porque queria que ela continuasse feliz e segura em casa, e agora estávamos os três lá, presenciando o tipo de coisa que Romckpay tinha coragem de permitir apenas para me atacar e destruir mais vidas sobrenaturais. Desde quando aquele amor paternal que ele tinha por seus soldados mais queridos se transformara nesse ódio corrosivo que o fazia ordenar algo assim? Ele realmente mudou ou fui eu quem não notou quem realmente meu chefe era?
—Saphira, olhe!-Adam atraiu minha atenção, apontando os escombros de uma grande casa, mais ao centro do acampamento.
A Casa Grande. Aquela linda construção de outrora não passava de um amontoado de escombros e fumaça com o cheiro da morte.
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A Caçadora da Meia-Noite
Fantasy[COMPLETO APENAS NA AMAZON] Durante a Era Vitoriana, um lorde poderoso fundou a Caçada da Meia-Noite, uma organização dedicada ao controle e extermínio de criaturas do submundo que passavam do limite, atacando inocentes sem razão boa o bastante. Mai...