XI. Ele está de volta

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 No dia seguinte, acordei com vozes altas no corredor do andar.

As pessoas lá fora deviam estar escutando algo muito engraçado, pois ouvia risadas ocasionais, notando um tom divertido. Não consegui resistir à minha curiosidade, precisava saber o que estava acontecendo lá fora. Certamente devia ser algo muito interessante para ser feito na frente de uma enfermaria logo cedo.

Sem contar que falavam tão alto que me acordaram de um sono muito bem-vindo, então eu descobriria quem era o espertinho que achou que era uma boa ideia falar alto e rir justamente naquele corredor.

Levantei-me do catre com cuidado, segurando as ataduras com a mão direita, ainda sentindo o mundo rodar. Observei a enfermaria, certificando-me de que a responsável não estava por perto para me impedir ao jogar minhas pernas sobre o colchão, os dedos dos pés roçando levemente o chão frio. Soltei um gemido por conta da dor que veio em uma pontada com o movimento brusco e parei por alguns segundos, olhando para meus pés nus enquanto esperava a dor passar.

Pulei para o chão e peguei a camisa limpa e o short preto sobre a cadeira ao lado do colchão, deixados ali provavelmente por alguma enfermeira que havia pegado ambos em meu quarto e gentilmente levado para mim. Vesti rapidamente a camisa de mangas longas sem botões. Era de Caxemira e preta como boa parte das minhas roupas, algo macio e quente, trazendo conforto para meu corpo ferido, mesmo com cinco pontos recém-feitos na minha cintura. Abri a porta no momento exato em que um garoto pouco mais velho do que eu estava passando, concentrado na conversa com as duas garotas que o acompanhavam. Riam de alguma piada que ele tinha feito, mas contive um grunhido ao reconhecer a quem pertenciam aqueles cabelos loiros.

Aquelas garotas nem eram Caçadoras como eu, apenas funcionárias que cuidavam das armas e trabalham na cozinha. Não deviam ter nem 17 anos ainda, e certamente não tinham permissão de entreter-se com Inquisidores.

Para ser sincera, não eram elas que me incomodavam e sim o garoto com o sorriso convencido junto delas. Mesmo com as roupas de Inquisidor e o cabelo mais curto, ele ainda sustentava a expressão convencida de sempre. Sorriso no rosto meticulosamente perfeito, como se fosse o centro do mundo. Exatamente o mesmo idiota que me lembrava quando o conheci tantos anos atrás. Estava tão feliz em ser o centro das atenções, mesmo que estivesse no lugar errado. Como se não bastasse minha raiva por ter sido acordada àquela hora, ainda tinha que olhar para a cara dele de novo. Era demais para mim.

— O que diabos você está fazendo aqui?-perguntei à Courtney.

Quando ele se virou, seu sorriso se alargou ainda mais.

— Eu acho que a pessoa errada está fazendo essa pergunta.- ele me respondeu, em tom debochado.

Seu olhar desceu, me observando, mas senti nojo. Ele era assim antes e parecia que não havia mudado, mas agora, eu, com certeza tinha experiência para saber o quão babaca ele podia ser sem precisar sequer falar.

— O último lugar que eu esperava te encontrar era aqui, Capitã. O que te trouxe até a enfermaria?

— Isso não é da sua conta, seu Embuste.- respondi, cruzando os braços na altura das costelas.

Ele levantou as sobrancelhas, parecendo surpreso pela resposta mal-humorada.

— Meninas, vocês podem nos deixar à sós só por um momento?-me dirigi às garotas, notando como alternavam seu olhar entre nós, esperando para ver o que iria acontecer. Conheciam minha fama e certamente entendiam que era uma inimizade fomentando ali.

Na verdade, elas sabiam que não estava fazendo um pedido, não vindo de mim, mas hesitaram mesmo assim, olhando para Courtney e esperando uma permissão dele.

A Caçadora da Meia-Noite Onde histórias criam vida. Descubra agora