XII. Corredor da Inquisição

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Eu não treinei durante o resto do dia, não porque eu não queria, mas porque eu não podia forçar os pontos recém-feitos. Isso, porém, não me impediu de colocar meu uniforme e prender minha insígnia de capitã para ficar na sala de treinamento, supervisionando os outros soldados.

Normalmente, eu treinava junto com eles como iguais, mas com a presença inesperada dos Inquisidores, todos os oficiais foram intimados a ficar na sala de treinamento observando e mantendo as formalidades enquanto os Inquisidores estivessem dentro das terras de Romckpay. E era óbvio que aquilo me incluía, devido ao meu cargo, embora apenas me limitasse a escutar a conversa entre os meus superiores em silêncio, como de costume.

Claro que a palavra "intimar" não foi a usada na carta que eu encontrei em meu quarto quando voltei da enfermaria de manhã, mas já tinha aprendido a ler nas entrelinhas dessas cartas formais há muito tempo.

Por sorte, não voltei a encontrar Courtney Morris enquanto estava junto com os outros Inquisidores e meus colegas oficiais. Tudo que eu menos queria agora era voltar a vê-lo para me tirar do sério mais uma vez, pois meu humor não estava dos melhores e meu dia já tinha começado da pior forma.

No entanto, não consegui parar de me sentir com sorte, mesmo com meu ferimento pulsando. Tinha conseguido mais uma vez cumprido o que Mestre Romckpay havia ordenado e estava bem longe daqueles idiotas que eram os Inquisidores.

Quanto mais sucesso eu tinha, mais perto da minha insígnia de major eu me via. E isso, para mim, era a melhor coisa que eu podia esperar naquele momento. Ter um objetivo a alcançar, me motivava a levantar cedo todos os dias. Pelo menos enquanto eu ainda podia viver aqui. Cada dia devia ser aproveitado, principalmente quando eu sabia que eram tempo contado.

O jantar transcorreu como eu esperava, barulhento e movimentado, mas estranhamente normal, considerando os nervos à flor da pele que a presença dos Inquisidores despertava. Mesmo os Caçadores mais calmos e sérios se mostravam animados com a elite dos assassinos sobrenaturais da Rainha comendo em mesas ao lado das nossas. Quanto a mim, não estava tão animada assim.

Adam me acusou de me forçar a ser do contra em todas as situações possíveis, mas eu apenas nunca me impressionei tanto com eles. Apenas alguns Caçadores mais bem vestidos e com a proteção da Coroa, era isso que eles eram. Além de, é claro, serem uma organização composta apenas por homens. Estávamos tão perto do novo século, e nossa Rainha ainda mantinha as tradições de manter apenas homens como soldados à seu serviço.

Meu interesse por eles sempre foi mínimo, no entanto, depois que meu antigo inimigo de infância arrogante, Courtney Morris, se tornou um deles, perdi todo o interesse que ainda restava por eles. Não tive muito tempo para conservar memórias da minha mãe, mas algo que ela sempre me dizia era que nem sempre as pessoas eram quem realmente pareciam, principalmente se eram importantes na sociedade e usavam o símbolo da dinastia de nossa atual Rainha.

Nunca era uma boa ideia confiar no governo e naqueles que o serviam. Afinal, toda forma de governo se mostrava corrupta, mais cedo ou mais tarde.

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Os dias se passaram corridos, apesar dos novos inquilinos vivendo temporariamente no Instituto Millenium. Felizmente, aos poucos os Caçadores, assim como eu, foram perdendo a excitação com os convidados, voltando às suas rotinas.

Afinal, com o fim da fase da novidade em que estavam os Inquisidores, toda a magia em cima deles desapareceu.

Aparentemente, não tinha autorização expressa para saber quanto tempo os Inquisidores iriam ficar conosco, e quando perguntei o motivo real de estarem aqui, Romckpay se mostrou na defensiva e tentou mudar de assunto, o que me soou muito, muito suspeito. No entanto, tinha minhas dúvidas de que teria alguma chance de insistir em respostas caso meu chefe não quisesse divulgá-las.

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