A Caçadora da Meia-Noite

XIX. Juntos Somos Mais Fortes

Cumpri o que combinei com Adam.

Quando entrei na Taverna Capitol, tentei me misturar à multidão, mas lá dentro estava tão quente e eu estava com tantas roupas que não me surpreendi com alguns olhares sobre mim.

Vestida completamente de preto e com o rosto quase todo escondido pelo capuz, devia parecer uma estranha no ninho, mas não era a primeira vez que ia naquele lugar, então apenas ignorei os olhares sobre mim e sentei-me à uma mesa do bar.

Não levantei o capuz quando pedi ao funcionário um copo de água gelada. Não ousei mostrar meu rosto àquela gente, pois sabia que mesmo os bêbados e prostitutas iriam me reconhecer.

Tudo que eu não precisava naquele momento era chamar a atenção.

Recebi meu pedido com um olhar atravessado do dono, mas me limitei a lhe entregar seu pagamento e não disse nada enquanto estaca esperando por Adam. Se ele viesse.

Desviei meu olhar pelo bar, bebendo alguns goles da bebida de baixa qualidade e comendo algumas batatas e peixe, comida típica da Inglaterra. Não demorou para que as pessoas que me observavam desde que entrei notassem que eu tinha percebido seus olhares e voltaram às suas conversas quando perceberam que não era uma ameaça, Caçadora da Meia-Noite ou não. Com sorte, nem lembrariam de mim na manhã seguinte.

Em um lugar desses, não me admirava que essas pessoas ficassem atentas a qualquer um que passasse pela porta. Pelo menos chegaram à conclusão que eu devia ser um deles. Bom. Era melhor assim.

Não podia saber exatamente há quanto tempo estava na Taverna, mas era tempo o bastante para começar a me preocupar se Adam viria ou não.

Quando olhei para o relógio de parede no fundo do bar, notei que as 23:00 que combinamos já tinham passado há muito tempo. Em breve seria meia-noite, e não podia mais ficar esperando, precisava ir embora o quanto antes.

Devolvi o copo vazio para o homem e joguei-lhe uma moeda de bronze como gorjeta. Ao sair do bar, ouvi sons de passos apressados na rua e virei-me para ver um vulto correndo até a entrada de um beco entre dois prédios, bem ao lado de um restaurante bem perto da Taverna onde estava.

Meus instintos gritavam para que eu fosse até lá verificar, então era isso que iria fazer. De qualquer forma, tinha treinamento adequado para qualquer situação de perigo. Levei minha mão até o cabo de um dos meus punhais presos à cintura sob a capa que vestia. Um punhal podia não ser útil contra algum demônio, mas isso eu iria decidir quando descobrisse quem estava correndo por ali.

Mal tinha alcançado o beco quando alguém agarrou meus braços e me puxou para a escuridão entre as ruas. Meu treinamento com os Caçadores da Meia-Noite me ensinou a não gritar sob qualquer circunstância, pois sabia que ninguém viria me ajudar, mas aquilo era diferente, conhecia bem aquele toque. Continuo em silêncio, embora não tivesse dificuldades em me soltar com um golpe no estômago do homem, se necessário. O grunhido de dor que ele soltou quando o empurrei foi a confirmação que precisava para ter certeza de que não era algum outro ser disfarçado.

Eu soube que era humano no momento em que me agarrou, mas era bom ter uma confirmação de verdade. Meus olhos se ajustaram com facilidade à falta de luz e conseguia ver com clareza onde estava e o que havia ao meu redor. O rosto do garoto na minha frente estava cinzento devido à escuridão, mas eu o reconheceria em qualquer lugar.

—Adam?-exclamei. Eu achei que a essa altura ele já não iria mais aparecer. - O que você está fazendo aqui? Por que me puxou desse jeito? Sabe muito bem que eu poderia ter te matado.

Meu amigo ajeitou melhor a mochila que carregava nos ombros, olhando de um lado para o outro, alarmado. Será que estava sendo seguido?

—Eu sei, mas silêncio. Por favor. - ele me pediu.- Tive medo de que me pegariam se saísse pela entrada principal a essa hora da noite, então decidi descer pelas paredes do castelo, escalando uma árvore para sair. Os guardas me viram mesmo no escuro e agora estão atrás de mim. Sinto muito, não pude trazer suas coisas, mas eu prometi que viria e vim.