IX. Inquisidores

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— Vim assim que pude.- Adam me ajudou a sair daquele escritório, dando-me apoio por conta dos meus ferimentos.- Você estava demorando demais aqui. Fiquei preocupado.

— Tudo bem.-lhe lancei um sorriso agradecido.- Eu teria morrido lá dentro se você não tivesse aparecido. Obrigada.

— Você é minha melhor amiga, é minha família há mais de 10 anos.- ele sorriu e sua expressão preocupada se desmanchou por alguns segundos.- Era o mínimo que eu poderia fazer.

— E eu agradeço por ter você.- admiti.- Não teria sobrevivido até amanhã se não tivesse vindo atrás de mim.

Adam acenou com a cabeça, suspirando, mas continuou me segurando quando atravessamos o corredor semidestruído. Ele também devia ter passado por algum tipo de provação, mas decidiu destruir o lugar como pôde. Foi uma atitude sábia, admitia, mas arriscada.

Ao cruzarmos toda a extensão daquele corredor escuro, Adam me soltou apenas por tempo suficiente para abrir a porta por nós, mas me estendeu a mão para sairmos. Antes de acompanhá-lo, dei uma última olhada para a destruição atrás de mim. Ainda havia uma coisa que eu queria fazer.

Caminhei alguns passos difíceis até um ponto da parede que não fora tão destruído quanto a área queimada do lugar, a fumaça machucando minhas vias respiratórias enquanto mancava sozinha pelo chão empoeirado. Quando puxei a faca de caça da minha cintura, uma forte pontada de dor veio, mas ignorei, fazendo o mesmo movimento para quebrar a pedra. Mesmo sentindo dor a cada respiração, guardei a amostra em um dos muitos bolsos do meu casaco. Sempre fui interessada por coisas desconhecidas, e com certeza ficaria com uma dessas pedras, já que poderia usar mais tarde. Não deixaria a diversão apenas para os pesquisadores.

—Estou pronta.

Adam não falou nada, apenas segurou minha mão livre e passou seu braço esquerdo pela minha cintura, me dando apoio e me acompanhando pela porta no meu ritmo reduzido com toda paciência do mundo.

O bar antes cheio agora estava praticamente vazio, tanto do lado de dentro quando fora. As últimas almas vivas ali, eu pude perceber mesmo caminhando de cabeça abaixada para cuidar dos meus passos mancos, eram agentes policiais verificando a cena e pelo menos uma dúzia de Caçadores da Meia-Noite armados com todo tipo de arma branca ou de fogo, alguns de aparência cansada e machucados, mas todos com os uniformes manchados de sangue e com alguma parte da roupa destruída pelas garras ou presas de algum sobrenatural.

Podia ver alguns montes de poeira e pequenos corpos de fadas no chão, sinal de uma luta árdua que eu nem pude escutar de onde estava. A cena que me deparava era a de que o lugar havia sido transformado em um campo de batalha.

Garrafas de bebidas estavam jogadas e quebradas em milhões de pedaços pelo chão, várias cadeiras jaziam quebradas e a bebida jogada no chão fazia minhas botas grudarem no piso toda vez que pisava sobre uma poça de álcool.

Aquilo parecia um massacre, e me perguntava em que tipo de isolamento acústico eu tinha estado que me fez ficar completamente alheia à um combate desse porte. O que tinha acontecido enquanto eu estava lá dentro com o feérico?

Eu estava ferida e podia sentir o sangue escorrendo sob minhas roupas, mas não tinha tempo para sentir dor. Ainda não.

— Eu sei o que você está pensando.- comentou Adam, percebendo meu olhar para toda essa bagunça.- Também tive minha dose de luta essa noite, é melhor nem perguntar. Eu estava preocupado com você, já fazia quase uma hora que tinha sumido lá dentro.

Uma hora? Parecia que eu não tinha ficado lá mais do que dez minutos. Espera...

— Pare.-pedi, puxando o braço de Adam. Talvez houvesse sim uma coisa que nenhum livro podia me explicar.- Nós passamos por um portal.

A Caçadora da Meia-Noite Onde histórias criam vida. Descubra agora