XXII. As Masmorras da Floresta

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Despertei com uma dor insuportável na cabeça. Sentia como se algo pesado tivesse acabado de me atropelar. Não sabia onde estava e as dores aumentavam cada vez que me movia.

Por causa da dor, demorei para me levantar. Minha visão ainda girava quando me sentei, mas precisava me localizar.

Quando o mundo parou de girar, consegui focar melhor, assim, notei que estava em uma cela de pedras escuras. Permaneci na mesma posição sobre a cama de metal gelada e tentei ver além da escuridão daquelas masmorras. Pela minha experiência, esse lugar era bem afastado da civilização. Pelo menos, assim era feito na Caçada, para evitar que os prisioneiros fossem bem sucedidos em suas tentativas de fuga, a menos que soubessem sobreviver na selva. No entanto, não tinha certeza se essa prisão pertencia mesmo a Romckpay, não sabia se aqueles homens tinham me levado para alguma masmorra dos raros prisioneiros sobrenaturais.

O lugar não tinha nenhuma janela e a única luminosidade que chegava até lá embaixo vinha das tochas presas às paredes do lado de fora das grades. Tudo ali era de pedra negra e a porta no final do corredor de ferro maciço. Com o metal grosso, duvidava que conseguiria sair da masmorra, mesmo transformada.

Não fazia ideia de há quanto tempo estava desacordada, e sem uma janela para me auxiliar, a contagem do tempo se tornaria impossível. As roupas que vestia, no entanto, ainda eram as mesmas. O que temia mesmo era que o ferimento nas minhas costelas fosse pior do que eu imaginava.

Apenas foquei no cheiro das flores lá fora, muito fracos, distantes, mas ainda lá. Ainda havia natureza por perto, então imaginava que não veria uma fazenda por perto. Mesmo que eu nunca tivesse estado naquele corredor, tinha certeza que Romckpay preferia manter seus prisioneiros longe dos seres humanos. Pedir ajuda seria inútil. Se tivesse alguma cidadezinha por aqui, eu saberia. Teria ouvido o som e os cheiros da civilização, mesmo que distantes.

Uma pontada de dor me atingiu quando me levantei, e apoiei-me na grade para tentar enxergar o corredor à minha frente. Via mais algumas celas como a minha, mas enxergar dentro delas era difícil por conta das tochas já quase se apagando. Para qualquer um que não estivesse acostumado, esse corredor seria aterrorizante. Era uma sorte que também não estivesse acorrentada.

A cela na minha frente estava próxima o suficiente para que eu pudesse enxergar a silhueta de uma garota magra encostada na pedra em um canto. Ela estava encolhida com o rosto sobre os joelhos, de forma que não pudesse ver suas feições.

Não tinha certeza se estava acordada ou não, mas pelo menos era algo vivo. Ter companhia ali certamente seria muito útil. Mesmo correndo o risco de que ela não me escutasse, decidi chamá-la, pois talvez pudesse me dizer que lugar era aquele.

— Ei, garota!-Exclamei.- Acorde! Preciso falar com você.

Ela não se mexeu e não demostrou ter me ouvido.

— Acorde, menina!- Insisti em chamar sua atenção. - Por favor, dê algum sinal de vida! Acorde.

Ela permaneceu em silêncio e eu comecei a estalar meus dedos entre as grades da minha cela. Quando minha mão já estava começando a doer, notei a menina estremecer e finalmente levantar a cabeça, me permitindo enxerga-la melhor.

—Pare com esse barulho irritante já!-ela gritou, e sua expressão meio escondida nas sombras mostrava que estava irritada.

Sorri. Essa técnica sempre funcionava.

—Bom dia para você também.- Respondi, inabalável. - Se é que é dia lá fora. Aliás, você sabe onde estamos?

—Nas masmorras.- Ela sentou-se com as pernas esticadas além da cama visivelmente desconfortável, o cabelo claro caindo sobre os ombros.

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