Capítulo 18 - Gabriel

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A floresta era imensa, pelo que sabíamos ela era uma passagem para o mundo normal, então não era possível planejar o final da floresta e a cada vez que entrávamos mais fundo, mais difícil e fechado se tornava o caminho, pelo menos para mim porque Dryko se movia com uma leveza divina, ele andava pela mata sabendo quais era os caminhos mais fáceis e quais caminhos seriam perigosos, então ele me guiava para cada vez mais e mais longe, eu sozinho já não saberia voltar desse ponto.

" Dryko falta muito ?" - Enquanto Dryko saltitava leve pela mata como a pocahonta masculina e infantil do século 21, eu estava todo ferido, minhas pernas cheias de corte e uma coceira insuportável, além dos benditos insetos que me viram como a única opção de alimento no local, mesmo eu estando atrás do pequeno Dryko ( será que sangue de meio índio era tão ruim assim?).

" Não mano, pelas informações que os karés me deram é depois daquela árvore grande, numa clareira." - Dryko não estava tão animado para essa missão, mas quem o julgaria, eu não tinha ideia de como seria esse javali mas pelo que Alan me falava o mundo fora da aldeia tinha criaturas desconhecidas pelos homens, só apenas tocados, eguns e orixás podiam ver elas, animais africanos com garras de metal, seres guardiões da natureza e até criaturas que soltavam fogo pela boca.
Como em qualquer mitologia, os africanos acreditavam em vários monstros e criaturas perversas que vagavam nas noites da savana só que com menos imaginação que as outras mitologias seus monstros eram animais selvagens com sérias alterações, o que não os tornava menos assustadores, esses monstros existiam para que o equilíbrio reinasce, existiam os tocados, defensores das leis dos orixás e existiam os monstros, eguns e sub deuses destinados a nos destruir, para os monstros somos seu alimento já que eles não são visíveis a humanos, eles simplesmente os ignoram, para os eguns meios de voltar a vida É para alguns sub deuses, somos os meios de obter uma vingança desejada.

" Chegamos Biel, aqui é a clareira e lá é a caverna" - Dryko apontou para um canto da clareira onde havia uma grande abertura num paredão de rocha, mas algo não estava certo, a entrada da caverna estava tão limpa, tudo silencioso, como poderia um javali mágico não deixar rastro?.

" Dryko algo não está certo ... " - mas já era tarde demais, um javali imenso pulou de detrás de uma das árvores e avançou com tudo para cima do Dryko mas mais rápido que um javali mágico era o pequeno Dryko que saltou e se agarrou na árvore mais próxima que ele viu.

" Mas que coisa é essa ?" - Dryko estava agarrado a um galho, com uma expressão assustada e não era para menos, o javali além de ser duas vezes nosso tamanho, era assustador, ele babava uma gosma branca, seus olhos eram vermelhos e seus pelos das costas eram eriçados parecendo grandes facas afiadas, seus chifres eram de bronze e seus cascos de um puro ferro negro, ele não era nada do que o Dryko havia nos dito.

" Dryko como vamos passar por isso ? Você não disse que era um monstro gigante." - Eu gritei para o Dryko mas ele não poderia me ouvir, já que o javali de ferro estava tentando derrubar a árvore em que o Dryko estava.
Eu remexi meus bolsos e senti as pedras de raios que os meninos da minha casa estavam testando, torcendo para que as pedras funcionasse eu peguei as pedras e as lancei em cima do javali, no mesmo instante um clarão nos cegou acompanhado de um estrondo e muito fumaça mas assim que conseguimos voltar a enxergar claramente, o javali não tinha um arranhão e parecia mais aborrecido pela luz e o clarão do que pelo golpe em si, Dryko também tentava tudo que podia, jogando flechas e lanças mas nada o acertava, o couro do javali nem arranhava.

" Dryko o que faremos ?" - Eu perguntei ao Dryko que pulava de árvore em árvore para achar o ponto fraco do javali.

" Tenta atacar com um dos seus poderes, sei lá parceiro."

Como ele disse, eu me concentrei e criei duas labarades que eu joguei com toda força no javali, mas assim que as chamas se apagaram ele estava de pé, vindo na minha direção, eu tentei de novo, agora erguendo as pedras do solo e as jogando em cima do monstro mas mesmo as maiores pedras não machucava o imenso javali, sem mais recursos, eu tentei me esconder atrás de uma das árvores mas o javali bateu tão forte na árvore que ela se partiu ao meio, eu pulei de lado mas fui lento demais, uma gota da viscosa babá branca tocou meu braço e no mesmo instante meu braço começou a queimar, a baba desse monstro era corrosiva e sem deixar eu pensar muito, o javali voltou para me atacar, mas meu braço dóia muito,e eu não conseguiria desviar a tempo, quando o javali já estava a poucos metros de mim, eu foi jogado longe, quando eu voltei ao normal, eu vi Dryko, correndo e atraindo o monstro pra si, ele pulava em árvores e corria pelo pequeno espaço da clareira, em certo momento Dryko olhou pro meio da mata e saiu correndo para dentro da caverna, mas ele ficaria sem saída, eu tentei levantar e impedi-lo mas meu braço queimava e minha nuca latejava demais. Assim que o Dryko entrou na caverna, o javali gigante entrou atrás, e por um breve tempo só se ouve silêncio, até que uma sombra estava correndo para fora da caverna e pelo tamanho só podia ser o pequeno Dryko, mas atrás dele uma sombra muito maior também vinha correndo para a saída, eu já prevendo que nós dois seríamos destruídos, comecei a pensar na minha vida e nas coisas que eu podia ter feito mas um estrondo me trouxe de volta a realidade e quando olhei de volta, um negro quase tão grande como exu, estava com um arco na mão, e sorrindo para a entrada da caverna.

" Bem será temporário como sempre mas por enquanto vai segurar, belo plano garoto para alguém tão novo é nada mal, como você sabia que eu poderia explodir a entrada? E como me sentiu ?"

" Valeu cara, eu senti que você estava vindo e que tinha essa habilidade, então eu resolvi arriscar." - Dryko respondeu ao negro de roupa branca.

" Quem é você? E como nos achou? " - Eu perguntei conseguindo me levantar.

" Temos que tratar desse ferimento as Yás fizeram algumas alterações nesse monstrinho, e essa baba não tratada pode fazer seu braço cai, respondendo sua pergunta meu nome é Inlé e vocês estão na parte mais profunda da floresta."

" Espera, você é um dos odés mas na casa de Odé te chamam de ... ". - Dryko perguntou.

" De Ibualamo, é eu sei, o senhor da pesca e das profundezas das matas e dos rios, sim sou eu garoto, agora sei como você me sentiu, você é o menino marcado por Odé, interessante, agora passe isso na pele do seu amigo que vai ajuda - lo"

Eu peguei a mistura que Dryko me deu, e passei no meu braço, eu não fazia ideia do que era aquela gosma mas era refrescante, eu sentia que meu ferimento resfriava e melhorava.

" O que faremos agora? " - Eu perguntei ao pequeno Dryko que olhava cabisbaixo para a entrada selada da caverna.

" Agora iremos para casa Biel, preciso conversar com quem armou tudo isso."

As Marcas do Orun : O Sequestro De Ajalá Onde histórias criam vida. Descubra agora