Capítulo 6 - Sébastien

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O Rio de Janeiro não parecia como as novelas ou os filmes mostravam e muito menos como os cartões postais que atraiam milhares de turistas curiosos para a cidade, talvez fosse pelo local em que estávamos mas as ruas eram abarrotadas de pessoas, todas vendendo algo ou procurando lugares para parar e descansar, sem paisagens ou pontos turísticos que deveriam ser limpos e calmos, Exu que seria nosso guia, só andava rindo e cumprimentando todos como se estivesse no paraíso, a única coisa que nosso guia divino havia nos dito antes de sairmos do hotel era que se víssemos duas criança de mais ou menos 14 anos com algum tipo de marca na nuca, teriamos achado o que buscavamos, sem uma boa explicação e nem mais nenhuma dica mas eu sabia que Exu era assim mesmo, falava como queria e não repetiria outra vez, se quiser entender preste atenção e decore de primeira, como ele mesmo já havia nos dito.
Eu não sei porque Exu achou que o mercado seria um bom lugar para começarmos a procurar, as meninas estavam mais interessadas em comprar bugigangas e comidas do que na verdadeira missão , Exu parava em todo lugar e aonde quer que ele parasse, ele era bem recebido e tratado com um zelo que era até exagerado, e eu? Eu só queria sair desse mercado lotado e tumultuado, eu não me sentia bem em multidões. Festas e multidões me faziam lembrar do dia em que começou aquele maldito assalto em casa , eu tinha meus 8 anos e ainda morava com meus pais, nós morávamos em Paraisópolis, uma comunidade bem famosa em São Paulo, era de noite já, e eu escutei meus pais conversando sobre uma onde de roubos e mortes que estava acontecendo nas casas próximas a nós , minha mãe tentava acalmar ele e dizer que tudo ficaria bem que os dois juntos dariam um jeito, que eles poderiam falar com o chef da comunidade e pedir proteção, mas eles nunca tiveram a chance de tentar, porque do nada 4 homens grandes arrombaram a porta e entraram com armas em punhos, eu corri e me escondi no alçapão que tinha na nossa sala, minha mãe viu meu esconderijo e cobriu com uns panos velhos escondendo a entrada, mas talvez esse devia ter sido seu grande erro porque quando ela se virou pra implorar pela vida dela e de meu pai, dois dos 4 homens a agarraram e começaram a rasgar sua roupa, minha mãe gritava e chorava, enquanto meu pai era preso por outro cara com uma arma na cabeça sendo obrigado a ver, a mulher que ele tanto amava sendo violentada por dois outros homens, eu via o ódio e a raiva nos olhos de meu pai, mas o que ele poderia ter feito, minha mãe tentava se desvencilhar mas além da violência sexual, ela também levava murros e tapas no seu rosto que estava sangrando, alem de encharcado pelas lágrimas, uma hora os dois agressores se cansaram dela, e como se ela fosse um lixo jogaram ela no chão, bem em cima da entrada do alçapão em que eu estava, entre uma brecha da viga, ela me viu me olhou com amor e uma última vez sorriu para mim, antes de ser morta por vários tiros, eu ouvi os gritos de desespero de meu pai que logo foram calados por mais tiros agora no meu grande herói, eu sentia apenas medo e dor mas não fiz barulho algum, logo depois os bandidos foram embora levando tudo o que conseguiam me deixado sozinho, o silêncio e o cheiro de morte pairava no ar e em meu rosto e corpo, eu sentia gotas pesadas de algo escorrendo pela madeira da entrada do alçapão, quando enfim tive coragem de sair, eu percebi que as gotas que me molharam eram sangue, o puro e doce sangue da minha rainha, da minha mãe, do outro lado caído eu vi meu pai todo furado sem a menor dignidade, eu me senti um lixo por não ter feito nada para impedir o que aconteceu mas o pior foi quando eu olhei pela janela, e vi que lá embaixo na rua, o povo festejava como se nada tivesse acontecido, enquanto eu vivia meu pior pesadelo, as pessoas dançavam e pulavam como se não houvesse amanhã, iguais as pessoas idiotas desse mercado, todas vivendo sem se importar que os vizinhos delas podem estar sendo mortos na covardia bem nesse momento como meus pais foram, isso não era justo, isso não poderia ser justo, mas era assim que a vida era, e eu deveria aceitar, pelos menos até eu poder fazer alguma coisa, que eu esperava não estar longe.


As Marcas do Orun : O Sequestro De Ajalá Onde histórias criam vida. Descubra agora