Capítulo 32 - Cléo

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Ele estava na nossa frente, na sua nuca, um garfo e um porrete estavam marcados simbolizando que sim, ele era real, Agnos o causador de toda essa confusão nas nossas vidas, aquele que mudou todo nosso ponto de vista sobre deveres e obrigações mas porque ele estava sozinho aqui, se Babá Ajalá estivesse na cabana como imaginávamos, era para estar super protegido mas havia só Agnos, nos olhando e rindo com sua face mais sarcástica.

" Onde está todos os outros ? Sabemos que Ajalá está aqui e iremos pegá - lo " - Eu gritei alto para que Agnos percebesse que não estávamos brincando mas ele apenas riu.

" Tão bela e tão brava hahaha você me lembra sua antecessora, a marcada de Osún, uma mulher linda mas que tinha uma fúria desnecessária, o que falta em você e seus amigos é inteligência, eu não estou aqui para lutar contra vocês, vim aqui lhes oferecer uma proposta, uma oferta que não podem recusar."

" Não temos nada para falar com você, temos uma missão e iremos concluir a mesma" - Sébastien tomou nossa frente e se colocou em posição de combate mas um vento forte fez a gente se proteger com o braço e recuar.

" Existe uma razão para alguns orixás não terem crianças marcadas Sébastien, Exu não é um orixá comum, meu patrono controla todos os elementos, controla o movimento e a velocidade, Exu é o mais forte dos orixás, ele faz esse mundo girar mas como todos os outros orixas, ele se submeteu a lei de Obatalá em nao interferir direto nos assuntos dos humanos, tanto poder desperdiçado mas a grande mãe vai mudar isto e eu proponho a vocês uma redenção, somos benevolentes e deixarei vocês viverem e lutarem conosco, derrubaremos os orixás juntos e vocês terão seu lugar perante ao novo panteão.

" Você é louco" - Eu disse - Eu não sei o que houve mas os orixás criaram você, te deram todo esse poder, o que você é hoje, é apenas por causa deles, como pode querer a destruição com tantas graças recebidas "

" Hahahahhahahahahahabhahahah " - Agnos riu com escárnio e desprezo, em seus olhos eu podia ver o ódio que minhas palavras causaram nele, mas porque ? - " Essa é a versão que te contaram ? Vou lhe contar outra bela princesa, eu também já fui um marcado leal ao meu patrono, lutei inúmeras batalhas, fui o único que tinha o grande Exu como patrono, mas a guerra veio e todos morreram ou quase morreram, seus orixás escolhem vidas, eu sempre servi todo o panteão como um nobre guerreiro que eu era, mas, quando eu estava a beira da morte, eles escolheram outro para salvar e eu fui abandonado para morrer num campo de batalha "

Agnos esbravejava, suas palavras eram cheias de mágoa e rancor, mas o que ele falava não fazia sentido, os orixás não eram assim, o que ele contava era uma versão horrível e destorcida do que nos foi dito.

" Então eu me vingarei de todos eles, a grande mãe me deu chances para isso, eu sou um orixá também, ela me deu meu otá mágico, e eu tomarei o lugar do meu patrono como orixá da comunicação " - Agnos falou com tom de superioridade.

" Você era um guerreiro, deveria entender que sacrifícios são necessários, ainda mais numa guerra onde nenhum de vocês sobreviveriam, e você está enganado eles deveriam ter um motivo muito bom para ter te deixado no campo de batalha, e como nunca conhecemos ou ouvimos falar desse sobrevivente, ele deve ser o maior espólio dessa guerra " - Sébastien o questionou.

" Essas são os orixás de vocês, que mentem e escondem os fatos de vocês, concerteza vocês o conhece, ele foi designado a ensinar as novas gerações, os falsos marcados, ensinar elas e se tornar como vocês, meras crianças bobas e iludidas "

" Mas quem ele é? " - Eu gritei, já desconfiando.

" Ele é o líder de vocês, o velho e astuto Orunmilá, ele era meu companheiro de batalha, prevendo os ataques inimigos e eu os destruindo, eramos a junção perfeita entre cérebro e força bruta mas quando apenas nos dois restamos, eles o escolheram e nem sequer me procuraram, então agora é a hora da minha vingança, eu irei destruir os orixás e acabar com aquela maldita aldeia, e Orunmilá irá agonizar em minha mãos, então sem os peões de luta, os orixás irão se revelar para a luta e serão destruídos pelos seus sucessores, então aceitem minha proposta e venham para meu lado crianças, a não ser que .... "

Uma flecha estava presa na mão de Agnos, ele segurava com firmeza e se não fosse o reflexo rápido do mesmo, essa mesma flecha estaria em sua testa, eu olhei para a direção da onde a flecha vinha e Dryko estava totalmente diferente, ele estava com seu arco armado, apontando mais uma flecha para Agnos, seus olhos estavam firmes e seu corpo brilhava em azul e verde e atrás dele várias árvores se moviam em nossa direção, suas raízes saiam do chão e seu galhos balançavam furiosamente.

" Eu não vou permitir que você machuque o velhote, eu prometo que irei proteger ele com minha vida, mas não ouse falar mal dele ou de nossos patronos, eu convoco todas as árvores para que me auxiliem, eu sou o filho de Osossí e as árvores de uma mata são a família de um caçador, eu juro por meu patrono que não deixarei você tocar no nosso mestre enquanto eu viver."

E com isso Dryko atacou Agnos com mais uma flecha, enquanto uma árvore o agarrava com um galho, o pequeno menino que ninguém daria nada, agora mostrava a Agnos e todos que o subestimaram que ele era sim, o filhos das matas como sua casa o chamava.

As Marcas do Orun : O Sequestro De Ajalá Onde histórias criam vida. Descubra agora