Capítulo 28 - Gabriel

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Ao atravessar o arco, nada diferente aconteceu, a clareira era até mais linda do que do lado de fora, o cheiro de flores era muito forte, o sol também brilhava quente e soberano, concerteza tinha alguma pegadinha naquele local, mas qual?

" Hahahaha apenas você? Quer mostrar liderança não é garoto ? Mostrar para aquele pirralho que você é um rei ? Um aláfin? Não é mesmo? "

" Quem está aí ? " - A voz vinha de todas as partes da clareira, uma voz rouca e grossa, eu não conseguia identificar se era homem ou mulher mas já sabia que não era humano.

" O que interessa para você garoto ? Você está vivo, seu lugar não é nesse mundo e nem o lugar daquelas crianças do lado de fora, o reino dos eguns tem regras mas lógico que vocês por serem crias dos grandes podem quebrar elas, a entrada não é comandada por mim mas logo logo irei te encontrar garoto e aí poderei mostrar onde é o lugar de vocês, claro se ela não te matar antes."

A voz estava cheia de raiva e mágoa, mas era claro que era sobre nós em seu reino, era de nossos patronos, logo lembrei das orientações de Egunitá e Orunmilá, talvez o meu teste seja não cair na conversa de uma voz que veio do nada, mas espere um pouco, a voz disse se ela não me matar antes, mas quem era ela ? Eu olhei ao redor da clareira mas não havia alteração alguma, a não ser a entrada que havia sumido ( claro, até que demorou !) aonde deveria estar a entrada estava um muro feito de bambuns, eu estava preso dentro da clareira que não lembrava mais um paraíso, em instantes as flores sumiram, se transformando em mais borboletas logo a clareira já estava cheia de borboletas de todas as cores mas para ser mais bizarro ainda ( se isso for possível !) As borboletas começaram a se reunir, várias e várias borboletas se aglomerando e se unindo e num piscar de olhos, eu estava na frente de um imenso búfalo, de cor preta e chifres tão grandes que pareciam galhos de árvores, o búfalo de um urro ou mugido ( sei lá ) e avançou para cima de mim.
O búfalo era rápido demais e eu não possuía lugares para me esconder, a clareira tinha só pasto e o pequeno riacho, eu pulei bem no instante que iria ser atingido mas me esquivar não seria uma opção, logo logo o imenso búfalo preveria minha fuga e apenas com um golpe dele eu já estaria acabado, eu não era tão forte como Sébastien mas eu também era um guerreiro, filho do senhor da terra e do fogo, eu nunca havia tentado usar o fogo como arma mas porque não? o búfalo vinha com velocidade mas dessa vez eu encarei o búfalo e me concentrei em chamas, o temível fogo que destrói tudo mas também traz a luz e o calor, eu sentia o calor emanando de mim, eu sentia a energia e com toda a minha força eu dei um brado tão alto que os bambuns e até a terra deu uma balançada, e uma rajada de fogo vivo acertou em cheio o búfalo que parou para entender o que acontecia, mas o búfalo mesmo envolto das chamas não estava se queimando, quando a confusão do búfalo passou, ele me encarou com mais fúria ( provavelmente por causa do pasto queimado) e voltou a correr para cima de mim mas eu ainda estava cheio de adrenalina pela rajada de fogo, então invés de correr eu apenas peguei meu oxê, a minha arma sagrada do bunker da casa de Ogun, um machado de duas lâminas que brilhava em ouro e bronze, eu o segurei firme e senti a fúria do meu patrono como se fosse minha, ele era um rei, poderoso e implacável, e eu também deveria ser, afinal eu era o aláfin da casa de Xangô, e com toda minha fúria eu bradei e bati o magnífico machado no chão, no mesmo instante um grande trovão rebombou e uma rachadura no solo começou a se abrir direto para o búfalo, o pobre bovino não teve nem tempo para perceber o que acontecia, quando a rachadura chegou a ele, o solo se abriu e o búfalo caiu dentro do buraco espalhando todas as borboletas para fora, assim que a última saiu, magicamente a rachadura se fechou e o cenário mudou, eu já não estava numa clareira e sim num lugar cinzento e escuro com muitos vultos prateados, agora sim parecia o mundo dos mortos, atrás de mim o arco de bambuns brilhou e os 4 restantes passaram pela passagem, o primeiro que veio me cumprimentar para minha total surpresa foi Sébastien.

" Parabéns Rei Gabriel, você abriu a porta dos mortos."

As Marcas do Orun : O Sequestro De Ajalá Onde histórias criam vida. Descubra agora