Capítulo 31 - Cléo

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O preparo da oferenda era bem simples, o fantasminha havia nos ajudado e agora um grande buraco num árvore maior ainda brilhava intenso, eu estava meio envergonhada por estar sozinha ao lado de Sébastien, ele era lindo e sua postura de líder o deixava ainda mais charmoso mas ele não tinha olhos para mim, na verdade para ninguém, Sébastien era tão sério e concentrado que até assustava as vezes.

" Você estava chorando Dryko" - E de fato, nosso integrante mais novo estava com os olhos muito vermelhos e uma expressão cabisbaixa.

" Estava sim, mas era de alegria, esse é o " bagulho" que vai levar a gente lá para aquelas "quebradas" ? - Dryko limpou o rosto e sorriu.

" Sim, é este o portal Dryko, tomem cuidado, concerteza Agnos já deve saber que estamos chegando no nono reino" - Sébastien disse as últimas palavras e entrou dentro do portal no tronco da árvore mas antes de entrar todos nós batemos cabeça para a grande árvore e agradecemos a ajuda ao deus Iroko.

Ao abrir meus olhos eu não via nada exuberante, era um vale com grama baixa, no fundo um grande buraco com uma espécie de lama branca, vários pés de diversas árvores, plantas e flores se amontoavam em volta do buraco de lama, parecia uma poça gigante para um porco maior ainda.

" Acho que ele deve estar lá !" - Dryko apontava para uma casinha baixa toda pintada de branco com vários instrumentos nas paredes e punhados de barro branco espalhados, parecia um oficina mas não poderia ser ...

" Mestre Orunmilá disse que Ajalá fazia cabeças do barro não é? " - Eu perguntei para os meninos.

" Sim, e nelas colocavam diversos matérias e plantas específicas para cada orí , espera você quer dizer que ... "

" Essa é a oficina do velhote? É isso que vocês querem dizer ? " - Dryko conclui nosso raciocínio coletivo da sua maneira, mas algo estava errado porque o portal de Iroko nos traria para a oficina, se ele foi mesmo sequestrado, este seria o último lugar que ele estaria ou não ?

" Cléo? Consegue ver onde Ajalá está no seu espelho, talvez agora você consiga " - Sébastien estava comigo quando tentei usar uma das habilidades da minha arma mágica, mas nada havia acontecido.

" Eu posso tentar " - Eu peguei o espelho que desde a minha conquista se mostrava uma surpresa atrás do outra, e me concentrei, o espelho era a arma da minha patrona, e era meu dever saber manipula-lo com maestria, eu foquei no babá Ajalá e me uni ao espelho e surpreendentemente a imagem do espelho, se ondulou como se fosse uma pedra num lago parado e mostrou um senhor de olhos claros e pele bem escura todo vestido de branco, moldando uma cabeça que parecia masculina.

" Cléo, isso é incrível mas aproxime a imagem perto da cabeça, na parte de baixo"

" Okay" - Eu foquei na parte que Sébastien disse e o espelho mostrou uma inscrição pequena na parte da nuca da cabeça mas eu não conseguia entender o que estava escrito, a imagem mostrava uma palavra : " "Abojuto"

" O que isso significa? Deve ser aquela língua estranha que não sabemos " - Dryko estava certo aquela palavra era yorubá mas eu nunca havia ouvido falar dela.

" Cléo, será que seu espelho consegue traduzir essa palavra ? " - Era claro que não, minha arma era um espelho e não o Google mas como era o Sébastien, eu fui doce.

" Acho que não Sébastien, mas algo me diz que Ajalá sabia que íamos ver ele pelo espelho, parece uma mensagem mas o que quer dizer Abojuto?" - Eu perguntei a eles mas meus pelos se arrepiaram e ao longe escutamos uma voz doce e calma.

" Hahahahah eu não acredito que vocês chegaram tão longe, vocês são uns pé no saco mesmo e além por cima são burros, o velho modelador estava os alertando crianças burras, Abojuto significa cuidado "

O rapaz atrás de nós deveria ter uns 26/27 anos, ele era moreno claro e forte, no seu braço tinha um garfo tatuado e em sua cabeça uma coroa feita de mini facas, mas o que impressionava nele era sua beleza, ele tinha uma boca carnuda e olhos na cor de mel, profundos e maliciosos, nas suas orelhas dois brincos pretos e seu sorriso era de lado e muito sarcástico, ele parecia um vilão gato das novelas da minha mãe.

" Quem é você? " - Eu perguntei mas já sabendo qual era a resposta.

" Vocês deveriam saber, afinal eu sou a razão de vocês estarem aqui, e também sou o início da queda do antigo orun, mas por hora podem me chamar de Agnos."



As Marcas do Orun : O Sequestro De Ajalá Onde histórias criam vida. Descubra agora