Capítulo 30 - Dryko

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Cléo estava com um garotinho que deveria ter uns 4 anos que brincava com ela, mas o menino era meio prateado? Espera ? Ele era um fantasma?

" Cléo, o que é isso ? "

" Eu sou um abikun, prazer pode me chamar de Kal "

" Você é um fantasma-a-a ? " - Eu dei uma gaguejada, eu tava vendo um fantasma infantil de verdade cara.

" Em teoria não, sou um espírito mas não sou ligado ao plano terreno, eu sou o mais evoluído para minha idade."

" Dryko, o Kal nos deu uma maneira de sermos levados para o nono reino, mas precisamos de sua ajuda." - Enquanto Sébastien falava o pequeno fantasma camarada, apenas sorria e concordava.

" Como eu posso ajudar ? " - Eu perguntei.

" É simples, você precisa colher uma fruta mágica que está na floresta do Kal para fazermos uma oferenda, enquanto você colhe ela, pegamos o resto das coisas para a oferenda, Kal vai ir com você. "

" Tudo bem então" - Eu respondi.

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Depois de um tempo conversando com o fantasminha, eu percebi que ele era apenas uma criança normal em outro reino, ele me chamava de grande Dryko, dizia que eu parecia criança mas por dentro parecia muito mais velho.

" Você é um egun? "

" Sim, uma qualidade, eu não posso ficar na terra, não consigo me prender ao meu corpo terreno, e sempre acabo desencarnado muito cedo, sou um espírito livre, que amo nascer e nascer de novo."

" Vocês todos são crianças?"

" A maioria sim, grande Dryko, não chegamos a viver muito, só quando alguma mãe encontra um verdadeiro adivinho e ele faz um bom feitiço, se a mãe cumprir com exatidão o feitiço e cuidar dele, o abikun pode até se tornar um adulto mas como disse é muito difícil." - Kal sempre sorria e pulava, por mais que ele falasse como um adulto, ele não perdia a pureza de ser criança, talvez fosse por isso que ele prefeita sempre renascer do que viver num mundo tão cruel como o Ayê.

" Ali está Dryko " - Kal apontou para uma árvore gigante com um grande laço branco no tronco, você só precisa pegar um fruto sem machuca - lo, é bem simples sendo você filho de quem é. "

Kal estava certo, com a minha habilidade com o arco e flecha, eu consegui pegar a fruta sem o menor arranhão.

" Faremos a oferenda no pé dessa árvore, ela é ótima para o Babá Iroko Dryko, agora você precisa aguardar que vou buscar os outros" - E lá se foi saltitando o meu mais novo amiguinho.

Parado lá na frente daquela árvore, eu começava a ver o local que estava, era cheio de árvores gigantescas todas com grandes laços brancos em seus troncos, e mais ao fundo várias outras crianças brincavam, um grupinho delas se aproximava de mim, e eu que já não tinha medo de fantasmas, aguardei pacientemente.

" Olá parceirinhos, o meu nome é Dryko, e vocês são abikuns também? "

" Dryko? É você mesmo?"

Eu olhei para a criança a minha frente e travei em choque.

" G-g-gus?? Como é possível? Você morreu a muito tempo" - Eu estava chocado mas era óbvio que podia ser possível, eu estava dentro do reino dos mortos.

" Eu sou um abikun, nossa mãe tinha feito um ritual com um babá que ainda acreditava em nós e por isso eu sobrevivi tanto tempo, eu senti sua falta meu irmãozão.

Eu não podia acreditar, meu irmão estava em pé na minha frente tão real que eu poderia tocar, o mesmo cabelo, corpo magrinho e os mesmo olhos de nossa mãe, Gus era meu irmão mais novo que cresceu comigo, Gus tinha apenas um ano de diferença, e por isso eu sempre cuidei dele como o meu principezinho, depois da morte dele, tudo mudou até eu estar na rua e eu virar o irmão mais novo d,o Gabriel.

" Eu sinto muito por não cuidar de você" - eu comecei a chorar, lembrando de todos os momentos que vivemos quando éramos tão pequenos e o quão novo Gus havia falecido - " Você era tão novo, eu devia te proteger, me perdoe, eu jamais deveria ter pego aquele boneco de palha ridículo e muito menos ter perdido ele, eu fui o culpado da sua morte"

As lágrimas corriam sem parar e todas as outras crianças já tinham ido embora só ficando eu e Gus, quando meu irmãozinho adoeceu, minha mãe procurava por um boneco de palha por todo o canto, quase em desespero e eu dias antes tinha o encontrado e perdido brincando com ele na rua, mas " qualé" como eu poderia saber que a vida do Gus dependia daquele bonequinho

" Dryko, você me protegeu, me libertou, eu sempre fui um espírito livre, mamãe só tinha achado um jeito de me prender de vez, depois de tantas tentativas falhas, ela tinha conseguido mas ela sempre soube que eu não ficaria muito tempo na terra, eu gostaria de abraçar você mas infelizmente eu não tenho um corpo terreno como você, eu senti saudades irmãozão, queria ter mais tempo mas nosso mestre está nos chamando mas você sabe onde me encontrar, obrigado irmãozão."

E com isso, Gus saiu correndo me deixando sozinho no pé de árvore, com mais lágrimas do que nunca mas agora eu já poderia sorrir outra vez, Gus nunca me odiou por ter morrido, nunca me esqueceu e ele estava bem, morto ou vivo eu sabia onde poderia encontrar ele sempre que a saudade batesse mais forte.

As Marcas do Orun : O Sequestro De Ajalá Onde histórias criam vida. Descubra agora