Capítulo 20 - Dryko

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Havia se passado 2 dias desde meu ato maravilhoso no banquete de Exu, ainda tive que ouvir uma bronca do velho Orunmilá que não gostou que eu tivesse armado para os líderes da minha casa e também alguma coisa sobre respeitar hierarquias, como sempre o menino de rua é o errado, que novidade não é? Mas depois desse acontecido, eu percebi mudanças na forma que os outros me tratavam, claro que os karés ainda me odiavam, agora talvez com mais ódio ainda, os meninos da casa de Odé começaram a me perguntar dúvidas e a me pedir para ir caçar com eles, diziam que só o próprio Odé havia tido á habilidade e a coragem para acertar uma flecha em uma abelha rainha das sagradas Yás. Sobre as Yás, eu sabia muito pouco mas sabia que elas iriam cobrar a falta de respeito pela minha parte, ter matado a rainha da colmeia consagrada a elas era uma falta gravíssima para elas mas como eu iria saber ? " qualé" faz 5 dias que tô na aldeia e amanhã eu saia pra uma missão maluca para um povo que eu nem sabia que existia, e para me ajudar os karés me mandaram para a mata, para que eu pudesse fazer uma outra tarefa para eles e o pior sozinho, é claro que eu temia as Yás, elas eram bruxas africanas extremamente antigas, mas eu não tinha o que fazer, era uma ordem direta dos meus líderes e minha reputação com eles já era muito ruim para eu pensar em desobedecer.
Minha missão era pegar uma galinha do mato que eram conhecidas por ser as mais rápidas que existia na África, elas se encontrava no fundo da mata perto do pântano, dessa vez eu pesquisei antes e vi que a tal galinha existia mesmo e agora eu também já sabia qual era o limite da aldeia e o mundo de fora, animais pequenos também eram minha especialidade e os karés sabiam disso mas nada me tirava da minha cabeça que essa missão era outra armadilha dos meus superiores.
Depois de muito andar, eu enfim cheguei a uma parte mais fechada da floresta, as árvores eram tortas e a terra era mais macia, atravessando essa parte eu já sairia no território das tocadas de Nanã, um dos grandes orixás antigos, a grande matriarca, eu sabia que havia uma armadilha nessa missão e estava certo, pelo que eu me lembrava numa das aulas que o Mestre Orunmilá nos dava, as Yámins tinham grandes conexões com a orixá Nanã, a grande feiticeira ou seja essa mata deveria pertencer a elas, então eu estava em território inimigo mas antes que eu pudesse entender meus pensamentos vários pássaros estavam empoeirados nas árvores ao meu redor, eram muitos pássaros de diversas espécies e cores, mas o mais estranho era ver uma garotinha da minha idade correndo entre as árvores com um vestido branco, ela corria e se virava pra ver se eu a seguia, quando eu comecei a correr atrás dela, ela sumiu e apareceu atrás de uma grande árvore, eu chamava e chamava mas ela não respondia, quando finalmente cheguei perto dela, ela se virou e não era mais uma garotinha e sim uma mulher adulta e madura que tinha tatuagem de aves pelo corpo todo, ela se virou para mim e me disse : " Achou " , no mesmo instante as várias aves começaram a voar em volta da misteriosa mulher, eu tentava correr mas meus pés não se mexiam mais, eu tentava falar ou gritar mas eu não conseguia, eu estava paralisado, apenas podendo observar a mulher com pássaros em volta.

" Vocês caçadores sempre se achando os melhores" - A mulher começou a falar - " como o seu patrono, o menino Oxóssi, ele também foi imprudente conosco e pagou seu preço por duvidar dos poder das mães ancestrais , então a história se repetirá e em pedra o caçador outra vez se transformará, quando ouvir o assovio da coruja da grande mãe oxorangã, lembre - se criança, uma guerra está preste a começar e as Yás já escolheram o seu lado, boa sorte para os orixás." - A feiticeira terminou de falar e sorriu pra mim e num movimento rápido, ela se encolheu e virou um pequeno falcão de olhos vermelhos, na hora que ela virou falcão, meus movimentos voltaram mas eu ainda não estava acreditando no que via, no que estava acontecendo mas sem me dar uma pausa para raciocinar, eu escutei uma voz vinda da floresta :

" AGORA SAIA DO NOSSO TERRITÓRIO " - As vozes pareciam vir de todos os lados da floresta.

Eu não havia percebido que os pássaros ainda voavam em volta da mulher agora transformada em falcão mas quando percebi eles não rodavam mais a mulher falcão, eles voavam em bando para cima de mim de uma maneira ameaçadora como um ataque de grupo, instintivamente eu protegi meu rosto com o braço mas os pássaros passaram por mim como se fossem feitos de água, quando a mulher falcão passou por mim, eu me senti estranho, sonolento como se eu estivesse acordando.

" Acorda Dryko, Orunmilá está nos chamando pra últimas instruções sobre a missão, teve um pesadelo ? Tu tava tremendo quando eu cheguei." - Eu esfreguei os olhos para enxergar melhor, e sim eu estava na casa dos Odé, eu olhei pela janela e estava amanhecendo ainda, como era possível, eu não podia estar sonhando, era tudo tão real e nítido, eu senti tudo mas que loucura.

" Dryko você está bem ? " - Gabriel me sacudiu de novo, se preocupando comigo.

" Tá tudo beleza Biel, vamos começar logo essa missão."

As Marcas do Orun : O Sequestro De Ajalá Onde histórias criam vida. Descubra agora