Capítulo 37 - Gabriel

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Eu olhava para aquela criatura sem acreditar o que seria, os outros senhores fantasmas haviam se afastado, Beatriz estava exausta, o tal grito de Oyá a destruiu mesmo, eu lembrava dessa voz na clareira mas não fazia a menor idéia de quem era.

" Quem é você? " - Eu gritei para ele que apenas nos observava decidindo o que faria conosco.

" Eu sou o fim de tudo e todos, a própria personificação da morte garoto, eu sou Ikú "

O ser levantou as mãos e lentamente seu rosto foi se tornando humano, um homem careca com tranças em coque e uma grande caveira no topo, seus braços eram fortes e cheios de símbolos, ele usava uma túnica preta e marron, na sua mão uma espada negra que emanava uma fumaça.

" A morte trabalha para as bruxas ? Como assim? " - Eu o questionei.

" Eu não trabalho para ninguém, auxílio aqueles que me pagam, e as Yás me pagaram muito bem mas matar vocês dois não foi pago mas odeio aqueles que não respeitam o equilíbrio sagrado, vivos não devem perambular no mundo dos mortos, e vocês crianças estão até alterando a ordem, mas não se preocupe será rápido e não doerá nada"

Ele ergueu a imensa espada e abaixou contra nós mas o que encontrou foi um imensa pedra que eu invoquei, ele olhou confuso talvez nunca alguém tivesse ido contra ele, mas Beatriz havia se esgotado até aqui e eu não deixaria nada impedir nossa luta mesmo que fosse a minha própria morte.

Ele continuou a atacar e a cada golpe eu levantava um rochedo novo e ia me afastando para trás e também me afastando dos velhos fantasmas, eu bradava e criava paredes de sons que empurrava o deus da morte mas que assim que terminavam ele vinha em nossa direção, Beatriz estava com os velhos senhores então agora era só eu e o grande deus, eu levantei meu oxê e ele cresceu, como um machado medieval de dois lados, eu senti o poder do machado fluindo sobre minhas mãos, e com toda força eu golpei o chão abrindo uma rachadura como fiz com o búfalo na clareira mas Ikú simplesmente levitou, eu lancei labaredas sobre ele mas ele as cortou com a espada fazendo com quem nenhuma fagulha o acertasse, então resolvi lançar as pedras de raio sobre ele, mas Ikú era rápido e as explosões não o afetava, então ele começou a atacar de novo, só que agora com mais fúria e velocidade, eu me defendia, ele destruía os rochedos que eu construía, eu lançava os pedaços em Ikú mas ele só rebatia, ele não demonstrava emoção alguma, parecia um boneco querendo a morte, até que ele parou e fez uma cara feia.

" Esse som ? Essas crianças malditas de novo não " - Ikú olhou ao redor preocupado.

Eu não estava entendendo nada mas aos poucos um som doce de algum tipo de flauta e um tambor começaram a tocar, eu olhei de onde o som vinha e duas crianças de mais ou menos 7 anos apareciam, eles eram gêmeos e vestiam túnicas idênticas na mão de um uma flauta e outro tocava um tamborzinho, eles pulavam e dançavam fazendo assim a música deles ser mais dançante  e omais engraçado era que os pés de Ikú se balançava freneticamente, era visível o desgosto de Ikú com aquilo, mas seu corpo se mexia sozinho, tanto que eu consegui me juntar a Beatriz sem oposição nenhuma.

" Parem essa música crianças insolentes, já poupei aquele maldito reino, e vocês ainda ficam com essa música atrás de mim " - As crianças apenas riam e continuavam tocando como se a morte não os tivesse falado nada.

" Senhor, quem são esses dois ? " - Eu perguntei apontando para os gêmeos.

" Mestre, eles são os gêmeos Ibejis, são os orixás crianças e gêmeos, reza a noite lenda que seus instrumentos são mágicos e aquele que os ouve, não para de dançar mais, foi assim que eles venceram Ikú e salvaram o reino onde moravam " - O velho fantasma respondeu.

" E até hoje estão fazendo isso pelo visto " - Beatriz estava de pé e bem disposta, nem parecia que tinha lutado até agora.

" Você já está de pé ? Não deveria descansar mais? " - Eu perguntei preocupado.

" Não precisa Gabriel, os seus guerreiros já me ajudaram !! " - Beatriz disse terminando de beber um líquido que um outro fantasma havia lhe dado.

" Meus guerreiros? " - Eu perguntei.

" Somos egunguns mestre, Senhor Xangô foi o criador de nosso culto e até hoje o reverenciamos como nosso mestre e estamos aqui para lhe servir. " - O mais velho dos fantasma que deveria ser o atual líder falou e se ajoelhou enquanto todos os outros espíritos faziam o mesmo.

Parecia que eu estava na casa de Xangô de novo com todos se curvando para mim.

" Mas porque trouxeram a Beatriz para cá? " - Eu os questionei.

" Porque ela era a única que poderia falar com os mortos em seu grupo mestre e também por respeito a senhora dos mortos que a mestra Beatriz representa"

" Os Ibejis e Ikú sumiram, acho que essa é a hora para encontramos o resto do grupo " - Beatriz levantou enquanto algumas roupas de palha imensas estavam jogadas no chão.

" Senhora Beatriz, aqui está para a senhora" - O senhor a entregou um tipo de chifre que parecia uma corneta - " Pode assoprar"

Zuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuummm

A terra tremeu e vários mas vários eguns saíram das rachaduras que a terra ia fazendo, todos armados com diferentes armas e se organizando, Beatriz como se já soubesse o que fazer segurou seu chicotinho de crina e gritou fazendo os eguns se mexerem e fazer postura de combate.

" Mestre além da passagem para aonde seus companheiros estão, queremos que aceite a ajuda desses três companheiros. "  - O senhor apontou para 3 roupas de palhas que pareciam flutuar sozinha, mas ela era diferente da que estava jogada no chão, era menor e tinha várias pontas de metal, entre outras coisas.

" Não somos de batalhas mestre, mas criamos essas vestimentas para contribuir em sua luta, mestra Beatriz sei que podemos confiar na senhora mas infelizmente teremos que vendar a senhora, mulheres não podem ver nossos ritos, por favor nos perdoe" - Enquanto falava Beatriz já se vendava sozinha.

" Então vamos a batalha " - Eu gritei enquanto os vários fantasmas bradavam.

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Minutos depois os egunguns rodavam em conjunto em volta da roupa de palha enquanto a mesma rodava e levitava sozinha quando estava no alto uma luz iluminou o chão e pronto o portão estava aberto, Beatriz foi a frente levando seu pequeno exército de fantasmas guerreiros, eu esperei as roupas de palha e aço passarem e fui me despedir do líder egungun.

" Obrigado por tudo meu senhor, espero que possamos nos ver de novo em algum momento" - Eu disse estendendo a mão para o senhor mas me esquecendo que ele era um fantasma.

" Iremos sim mestre Gabriel, senhor Xangô teria orgulho do tocado dele " - Dito isso, o fantasma apertou a minha mão com força, e riu do meu espanto.

" Lembre se jovem mestre, a morte nem sempre será o fim !! "

Eu sorri e entrei no portal dos egunguns, era hora de nós reunirmos de novo.

As Marcas do Orun : O Sequestro De Ajalá Onde histórias criam vida. Descubra agora