Epílogo

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6 Meses Depois

Bahia, Salvador - Ilê do Pai Luan de Ifá

Era dia de função, e claramente a minha ekedy estava atrasada, eu deveria dar um sermão nela, por me deixar organizar tudo sozinho, mas decidi mandar uma mensagem :

" Para : Patrícia ( Ekedy)

Minha filha tu tá esquecendo de seus compromissos é? Pois tu que não me apareça em meia hora nesse barracão, para ver se não faço um despacho com sua cabeça, e que meu pai Ifá me perdoe. "

Sim, eu compreendo que foi meio rude a maneira de falar com a minha braço direito, Patrícia e Arthur eram meus braços direito no Ilê de Ifá, ela na função de ekedy e ele na de pai ogã, mas se eu não fosse duro com ambos nada saia feito, as vezes meus companheiros mais velhos eram bem preguiçosos.

O Ilê Ifá era um sonho tão antigo que mesmo depois de 30 anos de casa aberta com inúmeros filhos e tanto prestígio, parecia não ser real, mas ali estava eu de novo, um velho de 54 anos relembrando meus tempos de abian, o tempo em que meus pais eram vivos e também meus mestres, hoje era o dia que louvariamos os orixás num xirê magnífico, os orixás eram deuses tão antigos vindos da África trazidos pelos nossos ancestrais, assim que nasci os conheci e desde lá nunca os abandonei, fazendo dos orixás a minha vida.

" Pai ? A tábua tá pronta " - Uma das minhas filhas mais novas me informou.

" Obrigado minha filha ! " - Eu agradeci.

O jogo de Ifá, era um método adivinhatório que permitia a comunicação de pais de santos com os orixás sagrados, as mensagens eram trazidas pelo orixá Exu e enviadas pelo meu pai, o orixá Ifá.

Eu proferi as palavras e fiz o ritual que já era gravado em minha mente por causa de tantas e tantas vezes de uso, mas não obtive resposta nenhuma, eu repeti várias e várias vezes e o tabuleiro estava mudo, nenhuma resposta, nenhuma sensação, nenhuma energia, nos últimos meses as manifestações dos orixás seja no jogo ou nos terreiros estavam sendo raras, se não fosse impossível, eu até imaginaria que os orixás não podiam mais falar conosco.

" Ahhhhhhhhhh ... !!!! " - Eu gritei enquanto minha nuca ardia como se estivessem colocando uma barra de ferro quente na minha pele, eu tentei me levantar mas uma tontura me deixou zonzo me fazendo cair no chão.

Eu não sabia o que estava acontecendo, mas minha nuca ardia muito, meus olhos queimavam e se eu não estivesse caducando eles estavam ficando dourados, na minha mente várias e várias vozes falavam muitas coisas que não eu conseguia entender.

" Pai, pai o senhor está bem ? me responde por favor !! " - Minha filha Patrícia chamou.

Da mesma maneira que a dor começou, ela cessou, Patrícia e seu marido me ajudaram a me levantar e me sentaram na cadeira de volta, a minha nuca não ardia mais mas eu sentia ela bem quente.

" Minha filha, já era hora de chegar não é? De uma olhada em minha nuca que estava ardendo bastante por favor." - Eu disse para Patrícia.

" Pai ela está bem vermelha e tem uma manchinha parecendo uma peneira e um búzio mas tá bem apagada, deve ser coisa da minha cabeça. " - Respondeu a jovem ekedy.

" Eu espero que sim minha filha, eu espero que sim " - Mas minha intuição dizia que não, que era algo a mais e infelizmente a intuição desse velho babalorixá sempre estava certa.

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