Capítulo 7 - Gabriel

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O mercado do Centro estava animado naquela manhã, pessoas correndo despreocupada com suas coisas e barracas de comidas bem montadas com quitutes bem quentinhos, o dia seria muito lucrativo para os Nalos, fazia uns meses que eu morava nas ruas com a gangue Nalos, eu havia decidido viver assim, quem me conhecia jamais entendia, diziam que eu era só um playboyzinho querendo bancar o moleque de rua, mas e dai? o que eles pensassem não me afetaria, eu sabia quais eram meus motivos e de mais a mais, eu já tinha 16 anos e sabia me virar muito bem sozinho.
Voltando ao assunto, Nalos era uma gangue de meninos de rua, de todas as idades e lugares do Rio de Janeiro, eles moravam num casarão abandonado, e roubavam pra viver, dentro da gangue todos tinham uma função, os mais velhos saiam para as ruas para roubar e os mais novos ficavam no casarão para arrumar a casa e preparar as refeições, eu não gostava da idéia de roubar as pessoas mas como eu estava nos Nalos, eu não tinha muita escolha então decidi que roubariam quitutes e alimentos para a gangue, eu ainda não achava certo mas pelo menos estaria roubando pra alimentar os meninos, não era tão errado assim. Junto comigo sempre ia o menino Dryko, ele tinha 13 anos apenas, mas para minha surpresa ele era o único dos pequenos permitido sair para " caçar ", Dryko era pequeno e magro, esse biótipo dava a ele uma agilidade impressionante, ele tinha ideias ótimas pra roubar os melhores quitutes e uma pontaria perfeita com seu estilingue, então todos queriam sair pra rua com o Dryko, mas desde que eu cheguei ele caçava apenas comigo, ele dizia que pensava como eu, que roubar para comer não era errado, mas roubar coisas de valores sim, então nos meses que estou com os Nalos, o menino Dryko era meu único amigo, e hoje a caçada prometia.
Tínhamos escolhido um mercado perto do centro, tínhamos uma regra de nunca roubar um comércio seguido para não sermos reconhecidos e para também os vendedores esquecerem o acontecido, pode não parecer mas o Rio de Janeiro está cheio de gangues de crianças, os comerciantes sofrem muito com roubos juvenis variados. Dryko havia me sinalizado uma barraca que vendia torta de quiabo, uma das minhas iguarias preferidas, claro que eu já tinha sinalizado aquela barraca como nosso alvo, como sempre esperei o menino Dryko analisar o redor e me falar o plano, ele era ótimo nisso e se o plano corresse bem, voltariamos com pelo menos uma torta inteira para a gangue.

" É o seguinte, a banquinha é meio afastada, tá ligado? E só tem duas clientes, eu não percebi ninguém rondando elas, então elas devem estar sozinhas o que é bom, a tia que tá vendendo as tortas tá distraída kas meninas, você vai lá e joga um papo com essa cara de galã que tu têm, e chama atenção pra ti, eu vou pelos fundos e pego a torta na miúda mas se alguém perceber tu arma um bafafá pra mim rala fora" - Dryko me disse o plano com o jeito malandro dele, era quase impossível dizer que ele só tinha 13 anos, o menino além de maduro, era inteligente e bem malandro, um típico garoto dos morros do Rio.
" O plano B é o mesmo né " - Eu perguntei mais pra confirmar do que pra saber.
" Claro meu chapa, tu sabe o que fazer, se der merda ativa o plano mongolóide" - Ele respondeu sorrindo.
" Okay" - Eu me virei indo em direção a barraca.

A senhora que vendia as tortas de quiabo, estava muito entretida na conversa com as duas garotas que experimentavam seus quitutes e questionava ingrediente por ingrediente, era claro que a senhora só estava dando essa atenção porque ela achava que as meninas eram olheiras da polícia procurando algo que pudesse fechar a barraca da vendedora, caso não fosse essa a dúvida da vendedora, elas não teriam toda essa atenção, eu me aproximei das meninas e comecei a perguntar se era mesmo tão boa aquelas tortas, ( isso não era parte do plano, eu estava salivando pra saber se a torta era mesmo boa), a menina loira disse que sim e até me ofereceu um pedaço ( assanhada!!), enquanto a outra me disse para comprar um pedaço e ver ( grossa !!), já a senhora começava a me dizer como era preparado a torta e que ingredientes ela usava ( Ela concerteza achava que éramos olheiros, três adolescentes questionando suas tortas em pleno meio dia do nada), enquanto ela falava, eu via pelo canto de olho que Dryko, estava tendo sucesso na sua parte, calmo e silencioso ele já guardava a torta na nossa bolsa, com nossa caçada pronta, eu comecei a me despedir da senhora e das meninas dizendo que não estava mais afim da torta que tinha que ir andando, mas quando eu ia sair eu escutei uma gargalhada muito alta e um gritinho, quando percebi o que estava acontecendo já era tarde. Um negro enorme segurava o Dryko pelo braço e dizia sorrindo :

" Te encontrei ."

As Marcas do Orun : O Sequestro De Ajalá Onde histórias criam vida. Descubra agora