As Marcas do Orun : O Sequestro De Ajalá

Capítulo 33 - Beatriz

Nós andamos muito até chegar a um reino diferente, percebamos que era outro reino quando estávamos cercados por almas errantes, elas eram tristes e não falavam nada, apenas andava a esmo dentro de uma grande floresta escura, o que me preocupava era o monte de pássaros que ficavam a nossa volta.

" Então é aqui que acharemos seus amigos, bia?" - Gabriel estava ao meu lado desde que deixamos os meninos e ele era tão maduro do jeito dele, ele em nada parecia o garoto que apenas cuidava do Dryko, desde a nossa chegada ele tinha um porte mais soberano e mostrava muito mais firmeza em suas atitudes.

" Parece ser mas eles estavam num tipo de gaiola feita de bambuns mas acho que estamos no lugar certo" - Desde pequena esses fantasmas me perseguiam e Exu me disse que eu poderia encontrar eles aqui.

" Beatriz é normal que aquelas almas se dirijam a um único lugar ?" - Gabriel apontava para uma clareira onde um grande edifício se localizava.

" Acho que não, é um ótimo lugar para começarmos a procurar" - Eu respondi.

Ao chegar lá, abrimos caminho entre os eguns que ao contrário do que imaginávamos, naquele reino eram sólidos, mas sem reações, pareciam apenas robôs cinzentos, no centro da clareira estava um grande edificio, toda ornamentado em palhas e penas, várias mulheres estavam vigiando as entradas e os eguns apenas se reuniam perante a elas e as observava, as mulheres de todas as idades tinham tatuagem de cobras, abelhas ou pássaros em seus corpos como se fossem ....

" Ajés, elas são Yami'ns Gabriel, mas não é esse o local delas, isso significa que estão guardado algo no reino dos eguns, os fantasmas dos meus sonhos." - Nayra havia me falado sobre ajés, as feiticeiras africanas, havia me dito que todas as grandes orixás havia uma ajé com elas que foi consagrada como deusas, as igbalés eram as ajés de Oyá, mas era para elas estarem aqui.

" Você tá dizendo a verdade? Isso é ruim Beatriz, como libertaremos seus amigos? " - Gabriel havia me perguntado.

" Simples vamos libertar a ajuda primeiro !!! "

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Depois de um tempo andando entre os eguns vimos uma ajé sozinha e começamos nosso plano, Gabriel era obediente e confiava na minha ideia, então sorrateiramente ele se aproximou e quando a feiticeira percebeu já tinha sido golpeada, Gabriel arrastou a menina para uma clareira e eu me vesti com suas roupas, essa se vestia de branco e não tinha tatuagem o que facilitava ainda mais meu trabalho, Gabriel ficaria escondido com a menina enquanto eu me passava pela jovem feiticeira e entraria no edifício delas.

" Funan ?? O que está fazendo ? Volte para seu posto agora " - Eu me virei e uma senhora com olhos de passarinho me encarava, na mão carregava uma boneca com as vestes e aparência da menina que pegamos a roupa, em seu braço um falcão estava tatuado.

" Sim, senhora !!" - Eu saí aindando em direção a porta onde achamos a menina, mas a mulher segurou meu braço e disse :

" Você está brincando conosco? " - Ela olhou e olhou de novo para mim, mecheu na boneca que estava na mão, eu por intuição repeti o movimento do boneco, e ela relaxou - " A mestra precisa de você lá dentro, vá até ela "

Eu me virei e segui para dentro do que seria o quartel delas, por um triz ela não descobriu, foi excelente a ideia do Gabriel de cobrir minha marca com carvão, ao entrar no quartel, eu via várias separações, e no centro uma grande coruja de olhos dourados observava atenta observando todos os lugares, eu comecei a andar e procurar os prisioneiros mas antes de achar algo eu escutei alguém me chamando baixinho.

" Beatriz venha aqui "

Eu olhei e vi uma mulher toda de branco com com um turbante na cabeça e mariwo no rosto, ela também tinha uma boneca de palha presa a sua cintura.

" Quem é você?" - Eu perguntei receosa.

" Como não me conhece e veio ao meu reino criança? Sou a deusa Egunitá, a senhora das almas" - O nome dela era estranhamente familiar.

" Egunitá me parecia mais jovem e ruiva quando ela nos deixou na entrada do Orun" - Eu respondi com um certo receio.

" Eu não sei porque deram meu nome para aquela deusa ridícula, eu sou a principal guerreira da senhora dos cemitérios, bem mas você não tem tempo a perder tentando descobrir quem sou, essas bruxas só podem ser muito burras, você nem negra é mas aquela coruja não vai cair nesse truque, tome " - A deusa mexeu as mãos e um grande chifre apareceu suspenso no ar - " Vá lá fora e assopre esse chifre, meus filhos irão vir e ajudar você a libertar as outras igbalés e assim salvas os ancestrais, mas cuidado porque ... "

Egunitá começou a tremer com olhos esbugalhados, sem entender nada, eu olhei para trás e a mulher que vi do lado de fora estava mechendo as mãos numa boneca de palha.

" Pare com isso !!! " - Eu gritei e a mulher parou.

" Beatriz não é mesmo, sabíamos que iria vir atrás dos egunguns, parece que nossa armadilha funcionou afinal, não seja boba, estamos em maior número e somos mais fortes e experiente que você e seja quem você tenha trazido consigo venha para o nosso lado, liberte sua ave interior e voe livre "

" Não acredite nela Beatriz, elas irão destruir todos, se viraram contra Nanã, a patrona delas " - Egunitá gritou para mim.

" Ela está certa" - A feiticeira respondeu - " Iremos destruir todos que se opor a nós, mas não iremos nos destruir, e você será uma de nós passarinha e alem do mais se não topar irá ser morta junto com essa daí, não vejo outra escolha além da que lhe ofereço"

Eu olhei para Egunitá, e ela me olhou com preocupação talvez achando que eu iria aceitar essa ideia idiota, me lembrei da tal Funan que agora devia estar com um galo, me lembrei do Gabriel todo preocupado comigo, e me lembrei daquelas almas me implorando ajuda e tudo por causa dessas feiticeiras egoístas, eu sabia o que fazer e se eu morresse, morreria lutando, então sorrindo eu disse :

" Não fale por mim senhora, eu tenho a minha própria escolha " - Dito isso eu assoprei o chifre com muita força e um vendaval surgiu, junto com uma labareda na parede e uma menina com minhas roupas gritando que nem doida.