Assim que terminou de discar e o polegar já se aproximava do telefone verdinho para iniciar a chamada, Rodrigo desistiu. Não queria criar uma situação com Joana apenas pelo fato de que estava indo embora. Além disso, ele sabia que ela podia estar se envolvendo com alguém de novo.
Talvez a Joana que tinha abraçado no dia do assalto já não fosse a mesma que conheceu por tantos anos. Sentiu uma tristeza profunda por tudo que tinha acontecido. Mesmo já conformado com o fim do casamento, por alguns instantes, sentiu uma tristeza profunda e a pergunta de “o que faltou para dar certo?” se fez presente de novo na cabeça.
Desviou o pensamento com o resto das coisas que precisava arrumar. A América o esperava e ele precisava focar o pensamento totalmente nisso. Pensou em se despedir de Maria. Embora o fim tivesse sido enigmático e ele não soubesse bem o que Maria pensava, ela o havia ensinado muito. Quis evitar a presença. Pegou o mesmo celular que usaria para ligar para Joana e digitou:
“Estou indo embora do Brasil. Quero te agradecer muito por tudo que aprendi contigo. Certamente, essa viagem tem muito a ver com o espírito de ação que tu despertou em mim. Independente de qualquer mágoa que possa ter ficado, eu te agradeço muito por ter me ensinado tanto.”
Maria visualizou e não respondeu.
Rodrigo, de alguma maneira, não se surpreendeu. A viagem ocorreria no domingo à noite. Quis tirar o último fim de semana do ano no Brasil com um tempo para o amigo Max, que tantas vezes esteve ao seu lado.
Foi até a cozinha e disse:
- Quero passar esse último fim de semana aqui contigo, cara. Tu já tinha planos? Te atrapalho?
- Eu tinha umas seis gurias pra sair. Mas abro mão. – riu Max.
- Eu sinto muito. – debochou Rodrigo.
Os amigos se abraçaram mais uma vez. Decidiram juntos que, no sábado, dariam uma volta pela cidade e beberiam bastante. No domingo, Max acompanharia Rodrigo até o aeroporto.
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No sábado pela manhã, Joana acordou confusa. A conversa com Artur foi produtiva e ela sentiu algo diferente por ele. Artur era educado, gentil e de coração aberto. Ao mesmo tempo, lembrava ter tido a mesma impressão de William no primeiro encontro. Sabia que precisava curar o trauma. Havia alguém que não era formada em psicologia, mas que era ideal para essas conversas. Cristina. Subiu do estoque para a loja e disparou para a amiga:
- Eu saí com Artur ontem.
- AI MEU D...
- Calma! A gente só conversou. Eu fui embora antes que qualquer coisa acontecesse.
- Joana...
- Joana o quê, Cristina? Eu preciso de uma ajuda real. Não de ti empolgada.
- Grossa! Deixa eu ser feliz um pouquinho...
As duas riram por alguns minutos. Foi Joana que retomou a palavra:
- Eu não sei. Quando vejo ele sendo educado e tudo mais só me vem à mente o quanto eu me ralei com o William, que tinha exatamente o mesmo papo. Mas sei lá, sinto que ele tem alguma coisa diferente. Parece mais inocente. Parece mais ingênuo e disposto a aprender comigo. Será que é só uma técnica pra que eu ceda?
- Eu acho que não, Joana. – disse Cristina, mais séria – Eu acho que ele é assim mesmo. Pode ser que ele seja meio tontinho só, mas tem boa intenção, sabe? Eu não tenho muuuuito mais experiência que tu em relacionamentos, mas tive vários pequenos namoros antes de conhecer o Olavo. Namorei com guris bem diferentes e acho que consigo identificar esses perfis mais ou menos. Artur é puro, pelo menos passa muito isso quando conversa. A gente que já tem mais experiência com essas coisas percebe essas coisas nele.
- Eu tenho vontade de ficar com ele, Cristina. Mas não quero me arrepender de novo.
- Joana, se tu pensar que todos os homens são como William, não vai ficar com mais ninguém. Dá uma chance pra ele. Vai no teu tempo, mas não joga fora chances de ser feliz por medo de errar.
- Acho que tu tem razão.
- Eu sempre tenho, amada.
- Para de se achar que eu te demito.
- Tu não aguenta uma hora sem mim.
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As amigas se abraçaram. Joana, em um raro momento de guarda aberta, respondeu:
- Não aguento mesmo. E tu e Olavo, tudo bem? A coisa melhorou?
Cristina adotou um tom grave.
- Mais ou menos. Eu não sei se a gente vai adiante, Joana.
- Sério isso, amiga?
- Sério. Eu adoro ele. Sei que ele também gosta muito de mim. Mas justamente por isso é que a gente sente que não faz muito sentido continuar junto. A gente se gosta demais pra estar tão infeliz. Não tem briga, sabe? Ninguém sabe bem o que fazer. Mas a gente tem muito medo de ser mais infeliz ainda separados, sabe?
Foi a vez de Joana ajudar a amiga:
- Olha, Cristina, eu posso te dizer que tem momentos horríveis, que a gente não sabe se vai ou se volta. Mas também tem coisas muito ricas. Eu aprendi mais nos últimos meses do que nos últimos quatro anos com Rodrigo. Então não tenha medo de mudar. Porque os problemas vão mudar, mas as alegrias também. Conta comigo pro que precisar. Eu espero que vocês continuem se respeitando. Brigar como Rodrigo e eu brigamos nos últimos tempos eu não desejo pra ninguém. Foi muito triste ver a nossa história tão bonita se despedaçar em acusações e coisas não ditas. Se vocês puderem terminar se admirando, é melhor.
- Obrigada. Eu te amo, Joana.
- Também te amo, Cristina. Fica bem.
Joana voltou para o depósito e lamentou que a amiga estivesse passando pelo mesmo que ela passou há tão pouco tempo.
No fim da tarde de domingo, Joana convidou Artur para um novo café.
Enquanto o observava falando, era inevitável fazer a maldita comparação com o homem com quem dividiu a metade da vida. Rodrigo era meio irritado com as coisas. Ao chegar em um restaurante e não conseguir abrir o pacote de maionese ou se não conseguisse se ajeitar na cadeira, ficava irritado de um jeito tão infantil e engraçado que Joana ria só de lembrar. Era uma característica daquelas que ela não se orgulhava de gostar nele.
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Artur era muito mais delicado e calmo. Tratava a todos com respeito e educação. E ela percebeu que podia se apaixonar também por essas características. Esqueceu um pouco de Rodrigo.
Em certo momento, enquanto Artur falava, Joana não conteve o ímpeto. Ergueu-se da cadeira e calou a boca de Artur com um beijo. O jovem deixou uma lágrima escapar durante o beijo.
Naquele mesmo instante, Rodrigo parava o Uno no semáforo exatamente em frente ao café. Ele estava acompanhado de Max, que levaria o carro de volta do aeroporto. Distraído, olhou para a esquerda e viu a cena de Joana e Artur. Sentiu um choque no estômago. Disfarçou.
Teve certeza que ir embora por um ano era o melhor a fazer.
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Meu caminho sem você
Romance(HISTÓRIA COMPLETA) Rodrigo e Joana se conheceram ainda crianças. Foram o primeiro amor um do outro e começaram a namorar com 15 anos. Aos vinte, casaram. Aos trinta, numa cidade maior, se separam. Tudo parece tomar outro caminho. Mas, afinal, como...