- Boa noite, é Joana Teixeira?
- Sim, é ela...
O jovem com a rosa na mão tinha um sorriso amarelo. Cristina olhava para ele com desconfiança, mas estava com medo. Não conseguiu dizer nada.
- Aqui é o Sargento Gomes, da delegacia de Novo Porto. Desculpe o horário, mas a senhora nos disse que poderíamos telefonar a qualquer momento se encontrássemos algum dos seus pertences.
- Perfeito... – disse Joana – Não é incômodo nenhum. Encontraram alguma coisa?
- Algumas. – disse o Sargento. – Prendemos os bandidos há poucas horas. Alguns dos objetos já foram vendidos e não conseguimos encontrar ainda. Mas encontramos com eles a sua televisão, um micro-ondas e dois anéis.
- Meu anel de formatura... – disse Joana para Cristina, já com lágrimas nos olhos. O rapaz continuava ali, mas era completamente ignorado.
- A senhora pode passar aqui na delegacia amanhã para retirar os pertences e assinar alguns papéis?
- Claro, claro que posso. Cedinho eu passo aí. Muito obrigada, Sargento! Obrigada por ligar!
A ligação acabou e Joana enxugou as lágrimas. Brevemente, disse para Cristina o que tinha acontecido e voltou a atenção para o rapaz. Achava que já sabia o que estava acontecendo, mas sentiu que um piano saiu das costas por saber que não era ele o bandido que a assaltou.
- Desculpem o incômodo, moças. Eu posso voltar em outro momento.
- Não, – disse Joana. – quem é você?
- Bem, eu espero não ter lhe assustado com minhas cartas e meu recado. Foi o caso?
- Foi. Foi o caso sim. Tu é doido ou o quê? – disse Joana, sem paciência.
Cristina retrucou, sussurrando:
- Calma, amiga, deixa o guri falar... – se aproximou dela e continuou: - Ele é bem bonitinho...
O rapaz fingiu que não ouviu. Joana também. Ele continuou.
- Desculpe ter causado essa impressão. Eu sou muito tímido. Sou escritor e poeta, trabalho como jornalista também e, por isso, resolvi escrever para dizer que tu pareces ser uma moça incrível. Desculpe ter te assustado. De coração.
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- Mas de onde tu me conhece, guri? Pelo amor de Deus! – Joana estava irritada, mas não conseguia parar de olhar para ele.
- Eu fui à loja de vocês há algum tempo. Tu me atendeste tão bem que não consegui parar de pensar em como era uma pessoa agradável.
Joana olhou para Cristina com certo sarcasmo e disse:
- Esses clientes só me trazem problemas...
As amigas riram. A situação já era mais descontraída.
- Respondendo tua outra pergunta, Joana, eu não sou maluco. Pelo menos não clinicamente.
Cristina riu.
- Bom, eu vou embora. – disse ele. – Desculpe ter incomodado e, principalmente, assustado. Aqui está o meu cartão, se quiser tomar um café uma hora dessas e me conhecer melhor. Como amigos mesmo. Eu ficaria honrado em poder começar de novo.
Joana estava irredutível. Segurou o cartão por educação e não disse palavra.
Cristina sentiu pena do jovem rapaz. Chamou-o e perguntou:
- Ei! Como é o seu nome?
Ele virou-se, com educação e respondeu sorrindo:
- É Artur. Artur Allegro.
O rapaz se afastou. Cristina olhou para Joana com cumplicidade e disse:
- Se tu não tem a menor intenção de conhecer melhor esse guri, passa esse cartão pra cá.
- Cristina, tu é casada.
- Eu sei... mas não custa ter à mão, né?
As amigas riram. Joana pensava apenas na alegria de ter recuperado ao menos parte dos bens. Quanto a Artur, ele só podia ser um maluco. Não ia perdoar um estranho por tê-la assustado numa espécie de perseguição amorosa.
Contudo, não conseguiu jogar o cartão fora. Depois de alguns instantes de silêncio, Cristina falou:
- Joana... não fica com ódio dele. É só um guri que te achou bonita e quis ser romântico à moda antiga. Dá pra ver no olho dele que não fez por mal. E olha que eu identifico malandro a quilômetros de distância. Pode confiar em mim.
Rodrigo foi dormir para estar pronto para mais uma semana de trabalho. Quando deitou a cabeça no travesseiro, pensou em Joana. Chegou a pegar o celular para ligar e perguntar se estava tudo bem com ela, mas achou melhor não.
Sentia que o laço precisava ser cortado, por mais que esse corte doesse.
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Meu caminho sem você
Romance(HISTÓRIA COMPLETA) Rodrigo e Joana se conheceram ainda crianças. Foram o primeiro amor um do outro e começaram a namorar com 15 anos. Aos vinte, casaram. Aos trinta, numa cidade maior, se separam. Tudo parece tomar outro caminho. Mas, afinal, como...