Capítulo 38

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Cristina congelou. Tinha vivido um dos meses mais felizes de sua vida, mas lutava contra demônios dentro de si. O perdão a Max parecia uma traição a si mesma e seus princípios de nunca perdoar alguém que a tivesse traído.

Ainda assim, vê-lo ali, tão entregue ao sentimento era algo incontestável. Ela sentia no coração que tudo o que Max dizia era verdade. Argumentava para si própria que ele não suportou o fardo de tê-la traído e contou imediatamente depois. Entendeu a reclusão disfarçada de esbórnia. O sofrimento disfarçado de indiferença. O ódio ao amor disfarçado de tristeza por perdê-lo.

Era hora de fechar o ciclo do passado. Era hora de tentar ser feliz de novo. Ela precisava saber como seria essa história.

- Eu caso. Eu caso, Max.

Os instantes seguintes pareceram passar em câmera lenta. Max e Cristina se abraçaram, riram, choraram, comemoraram cada fragmento daquele instante. A promessa, dali em diante, era de colecionar momentos assim. Instantes inesquecíveis que fossem o combustível para se apoiarem na velhice que queriam passar juntos. Lembranças que queriam repetir para os netos, se os tivessem.

Max e Cristina eram o amor da vida um do outro. Depois de tanto tempo, tinham aceitado que podiam deixar o passado para trás e tentar de novo. E isso era motivador e revelador.

Joana e Rodrigo foram felizes por tabela ao saber que os dois se casariam. Embora soubessem que isso significava terem que ficar próximos de vez em quando, coisa que não queriam mais, a felicidade que viam estampada no rosto dos amigos era recompensadora.

Camila e Rodrigo continuaram saindo pelo menos três vezes por semana. Trabalhavam o dia todo juntos, mas nunca parecia que o tempo de convivência era suficiente.

Ambos estavam muito felizes. Sabiam muito da vida um do outro e pareciam antecipar sentimentos com muita facilidade. Havia cumplicidade, havia comprometimento, havia respeito à diferença.
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Um dos encontros foi na casa de Max e Rodrigo. Naquela noite, Max ficaria na casa de Cristina, para iniciar os preparativos para a cerimônia simples que pretendiam fazer. Camila e Rodrigo aproveitaram para cozinhar juntos.

- Põe menos cebola, cacete! – disse Camila.
- A gente tá junto há quanto tempo mesmo? Dois meses ou dois séculos? Vou pôr quanta cebola eu quiser! – riu Rodrigo.
- Pois vai ficar sem beijo por um mês. Teu bafo fica terrível.
- Tu joga sujo, né, guria?
- Jogar sujo é meter três quilos de cebola na comida sendo que eu tô com vontade de te beijar a noite inteira. Faça tua escolha, soldado.
- Diante de tal argumento, me rendo...

Riram, se abraçaram e se beijaram ali mesmo. Sem cebola.

À mesa, conversaram sobre a sintonia que tinham.

- Eu fui casado por dez anos e nunca alcancei isso. Essa proximidade que a gente tem, sabe?
- E tu teve o empenho que teve comigo pra conseguir isso?
- Com certeza não. – respondeu Rodrigo.
- Não tô falando isso pra te repreender, Rodrigo. Longe disso. É que é natural que a gente só consiga corrigir erros depois que as histórias acabam. Quando a gente tá dentro, é difícil pra caramba. Sei porque já namorei e não tinha a paciência e a audição que tenho contigo pra construir algo. Os relacionamentos moldam a gente. A gente aprende com os erros, não adianta. Vamos errar muito juntos também. Mas eu espero que a gente sempre supere.
- Faz muito sentido. É errado eu me arrepender um pouco de não ter feito isso pela Joana?
- Não. Não é. Pelo contrário. Se tu se arrepende é porque já é uma pessoa melhor. Ainda que esse passado não volte, tu faz as pazes com ele. Também me arrependo de não ter feito isso antes. Deixei histórias bonitas irem embora. Mas a vida é isso. É um baile que segue.

Meu caminho sem você Onde histórias criam vida. Descubra agora