Capítulo 22

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Sophia narrando

Consegui reconhecer seu rosto pela luz fraca da lua. Era Micael.

Ele começou a dar diversos socos e chutes no menino. Eu não conseguia me mover, estava em choque e tremendo. Por pouco não fui estuprada e isso era assustador.

Continuei encolhida no banco do carro até Micael terminar suas séries de socos e chutes em Davi.

Micael- NUNCA MAIS ENCOSTE UM DEDO NELA - gritou quando deu o último chute no garoto.

Micael estava me defendendo, isso era algo que eu nunca esperaria dele.

Ele deixou o menino jogado no chão gemendo de dor e veio na minha direção.

Micael- você está bem? ele te machucou? - disse com um tom preocupado.

Sophia- estou bem. Ele só apertou um pouco demais os meus braços - admiti - mas estou bem - minha voz estava baixa, eu continuava encolhida no banco.

Micael- merda! - passou as mãos pelos cabelos - você consegue levantar? - balancei a cabeça assentindo. Ele pegou na minha mão me ajudando a levantar.

- Você me paga, Micael! - disse o menino levantando com dificuldades.

Micael- isso foi pouco para você, seu idiota. Da próxima vez pense antes de aceitar fazer parte dos planos malucos de Letícia, porque isso que vocês fizeram com a Sophia não é nada engraçado, e nunca vai ser - disse alterado.

Letícia? Será que ela tinha mandando Davi fazer isso?

O garoto saiu andando com dificuldades para o carro e foi embora.

Sophia- o que a Letícia tem a ver com isso?

Micael- ela planejou isso tudo. Primeiro ela me chamou para que ajudasse, mas eu recusei. Nunca cheguei a perguntar qual era o plano. Só que hoje Arthur falou que viu ele agarrando você, logo lembrei do que Letícia havia falado. Fui atrás dela pra confirmar - explicou. Era muita informação de uma vez só. Estava chocada por Letícia ter chegado tão longe, e mais chocada ainda pelo fato de Micael ter recusado participar, justo ele que faz de tudo para me machucar.

Sophia- ninguém brinca com uma coisa dessas. Isso é sério e eles podem serem presos se eu denunciar.

Micael- você vai denunciar?

Sophia- não - neguei com a cabeça - claro que não, não quero problemas. Eu só... - respirei fundo.

Micael- você só?

Sophia- eu só tenho medo de tentarem algo de novo comigo - falei baixo quase em um susurro.

Micael- eles não vão tentar mais nada, não se preocupe - ele não tinha certeza disso, eu também não confiava em nenhum deles, muito menos em Micael.

Sophia- eu preciso ir embora - falei recolhendo minhas sacolas do chão que deixei cair quando Davi me agarrou.

Micael- onde é sua casa? eu vou com você até lá

Sophia- não precisa, eu vou sozinha

Micael- eu não vou te deixar ir sozinha Sophia, mesmo que você não me deixe ir, eu vou te seguir até lá.

Sophia- tudo bem - respirei fundo. Estava cansada demais, eu só queria ir para casa, me afundar nas minhas cobertas e chorar todas as lágrimas que estavam presas.

Fomos o caminho todo em um silêncio constrangedor.

Eu tinha medo que a qualquer momento Micael fizesse algo de ruim comigo. Eu não sei se aguentaria ser machucada mais uma vez, pelo menos não hoje.

Agradeci mentalmente quando cheguei de frente à minha casa.

Sophia- é aqui. Obrigada por ter me salvado.

Micael- não precisa agradecer - ele sorriu - bom, agora vou indo. Tchau.

Sophia- tchau - acenei com a mão e entrei dentro de casa.

Minha vó estava na sala. Droga!

Ana- oi filha, você demorou, achei que tinha acontecido algo - ela me observou - que marcas são essas no seu rosto, Sophia? - ela veio até onde eu estava para me olhar de perto.

Merda! Eu não sabia que meu rosto estava marcado.

Sophia- está vermelho? - passei a mão no rosto me fazendo de desentendida. Ardeu um pouco quando toquei - acho que deve ser alguma alergia - dei de ombros fingindo realmente na saber o que era.

Ana- você comeu algo com pimenta? Você sabe que tem alergia.

Sophia- claro que não né vó? Se não eu estaria no hospital agora - eu tinha alergia a pimenta, descobri isso com 6 anos quando fui ao um restaurante de comidas mexicanas com meus pais. Depois de comer uma comida apimentada fui parar no hospital.

Ana- vou pegar uma pomada pra você passar quando tomar banho - ela foi até seu quarto e voltou segurando um tubinho de pomada - toma, passe isso que vai melhorar.

Sophia- está bem, obrigada vó. Boa noite - beijei seu rosto e subi as escadas correndo.

Cheguei no meu quarto e as lágrimas que eu prendia desceram livremente pelo meu rosto.

Tirei minha roupa e corri para o banheiro. Peguei minha lâmina. Desta vez não cortei só meus braços, mas pernas e barriga também.

Eu me odiava, odiava o meu corpo, odiava saber que por pouco não fui estuprada duas vezes.

Eu me sentia suja e destruída. Queria que a minha vida fosse diferente, que eu não fosse tão odiada pelas pessoas.

Eu estava quebrada sem ter ninguém para me ajudar a juntar meus pedaços... Chorei mais por saber que as pessoas que segurava minha mão quando eu estava prestes a cair não estavam mais aqui.

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