Conhecer o ódio.

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Só tinham dois únicos motivos que faziam Jennifer querer ir para a escola: Ficar fora de casa e a comida.

Às vezes, a comida da escola era sua única refeição no dia, mas até aqueles motivos estavam sendo poucos comparados aos motivos que eram negativos.

A garota caminhou pelo corredor do colégio com a sua sacola que era mais pesada do que ela quando Amanda apareceu.

Mesmo que dissessem que Jennifer não tinha idade para saber o que de fato era ódio, ela sabia que sentia então algo próximo aquilo sobre Amanda.

Amanda estava linda. Os cabelos cacheados soltos e molhados. A camiseta que cabia perfeitamente em seu corpo. Tênis sem nenhuma mancha de sujeira e calça jeans limpa.

Jennifer sentiu vontade de ser invisível, como sempre. Sua calça jeans ia apenas até acima da sua canela e estava rasgada em seus joelhos. Seu cabelo mesmo preso deveria estar bagunçado. Sua camisa não era exatamente sua e sim do seu meio irmão mais velho, então além de ser muito cumprida, cabia duas Jennifer ali dentro.

Amanda estava caminhando na direção que Jennifer estava indo, por um breve momento, a garota realmente achou que Amanda não ia mexer com ela, mas a garota respirou fundo e fez uma careta:

-Mas que cheiro horrível! -Ela gritou atraindo a atenção de todos. -Que cheiro de xixi! -Jennifer fechou os olhos, certamente sua gata deveria ter urinado em seu tênis novamente.

-Da onde está vindo esse cheiro? -Sabrina, uma das amigas de Amanda perguntou.

-Da onde você acha? -Ela perguntou com um sorriso sarcástico. -É certo que é dessa aberração aqui!

Então todos começaram a rir e a chamar Jennifer de cheiro de xixi.

A garota sentiu a garganta se fechar e quando tentou sair dali, as mãos de Amanda a seguraram:

-Aonde você pensa que vai, aberração?

-Me deixa ir, por favor... -Jennifer implorou. Ela sabia que se ficasse mais um momento ali, ela começaria a chorar.

-É claro... -Ela a empurrou com tudo e Jennifer caiu no chão. -Que não!

Então todos voltaram a rir e a apelidar Jennifer de todos os nomes possíveis.

-Ora, o que é isso? -Ela levantou a sacola que Jennifer carregava seus livros.

-Me devolva a minha bolsa! -Ela gritou.

-Isso é uma bolsa? -Eles começaram a rir e Amanda jogou os livros pelo chão. -Nem dó eu tenho mais de você, aberração! -Amanda jogou a sacola no rosto de Jennifer e saiu andando com todos em seu encalço.

Jennifer se levantou e pegou seu material que estava no chão e caminhou até a sala de aula se sentando no canto mais afastado. Ninguém sentava ao seu lado, mas Jennifer não fazia mais questão.

Quando deu a hora do intervalo, sua barriga já estava doendo de fome. A garota desceu para o pátio, pegou a sua comida e se sentou no canto para comer.

Dificilmente Amanda ia mexer com ela na hora do intervalo, a menos que a garota não tivesse mais nada de interessante para fazer como era naquele dia.

Jennifer comia seu macarrão em silêncio quando Amanda chegou atrás dela.

-Essas suas roupas nem brechó compra né? Você acha elas naquele negócio de refugiados! -As amigas de Amanda riram.

-Por que você não cuida da sua vida, Amanda? -Jennifer perguntou revirando os olhos. Ela não aguentava mais ficar calada.

-Como é?

-Não sou gravador para repetir!

Se Jennifer soubesse o que viria a seguir, teria ficado quieta. No mesmo instante que acabava de falar aquilo, Amanda pegava sua nuca e empurrava sua cabeça dentro do prato.

Jennifer levantou o rosto tirando alguns macarrão de seu nariz e olhos. Ela não poderia imaginar o estrago daquilo, mas não precisava, a risada de todos os adolescentes naquele lugar, dava uma ideia clara.

Uma raiva esquentou todo o corpo de Jennifer. A garota enfiou a mão em seu prato e encheu sua mão de macarrão tacando no rosto de Amanda.

A garota enfurecida partiu para cima de Jennifer, mas ela não sabia se defender. Quando Amanda se levantou, Jennifer sentia dor em todos os lugares de seu corpo e duvidava que havia feito qualquer estrago na outra garota.

Ela se levantou chorando, escutando Amanda a chamar de aberração, de derrotada e tantos nomes que Jennifer seria incapaz de reproduzir.

Ela poderia ser muito nova para dizerem que ela ainda não sabia o que era ódio, mas ela sabia que o estava conhecendo de perto.

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