Sua família.

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Quando Jennifer terminou seu banho se certificando de que não havia mais nenhum macarrão em qualquer parte de seu cabelo, ela se sentou em frente a sua pequena mesa de estudo e respirou fundo.

Ela odiava Amanda, mas ela não tinha ninguém para contar aquilo, tinha sua gata, mas ela estava cansada, ela precisava de alguém, alguém que a escutasse, a entendesse.

Jennifer pegou uma folha e uma caneta. Ela havia visto em alguns filmes que muitas pessoas tinham diários, mas ainda continuava não tendo ninguém.

Ela balançou a cabeça e escreveu a primeira linha:

"Querida, Hellen..."

Um dia ela teria uma amiga de verdade, mas naquele momento, ela queria que Hellen fosse real.

Enquanto escrevia tudo o que sentia, tudo que havia vivido em seu dia, André entrou em seu quarto.

Jennifer sempre sonhou em ter um quarto para si, mas sempre quando tocava no assunto, seu padastro falava para ela se contentar, pelo menos um teto ela tinha.

André era o seu meio irmão, ele tinha dezessete anos e quase não ficava em casa. Era nítido que ele não gostava de Jennifer, mas a garota não fazia questão nenhuma de simpatizar com ele.

-Você mexeu na minha gaveta? -Jennifer estava tão entretida com o que estava escrevendo que não percebeu André perguntar. -Pirralha! -Ele gritou.

-O que foi? -Jennifer perguntou entediada.

-Você mexeu na minha gaveta?

-Não.

-E cadê os meus pinos?

-A droga que você usa? -Jennifer perguntou perdendo a paciência.

-Não brinque comigo, pirralha!

-Não estou brincando com você, André! -Ela se virou para olhar para seu irmão. -Por que eu iria querer mexer com essas coisas?

André deu de ombros e franziu as sobrancelhas olhando para Jennifer, ele caminhou para estar mais perto da garota e analisou seu rosto.

-Você apanhou?

-Não. -Ela disse tentando disfarçar.

-O que é isso no seu rosto roxo?

-Eu bati em um poste.

-Um poste?

-Sim...

-Tá né... -Ele saiu andando do quarto.

Jennifer balançou a cabeça. Ela queria contar para alguém o que passava na escola, mas não achava que André se preocuparia o bastante.

Na verdade, ninguém se preocupava o bastante.

***

Uma análise rápida sobre a "família" de Jennifer.

Sua mãe era uma mulher nova, com seus vinte nove anos, era nítido que se arrependia profundamente de ter engravidado de Jennifer, sua vida havia parado, ela havia perdido sua juventude inteira, não tinha escolaridade suficiente para ser alguém e dependia do padastro de Jennifer.

Jennifer não havia conhecido seu pai, e sua mãe nunca falava dele, então quando fez seis anos, Murilo entrou na vida de ambas. Era um velho, agressivo e qualquer motivo batia em Kátia, tanto que muitas vezes a mãe de a Jennifer ficava desacordada. A garota havia tentado defender a sua mãe, mas Murilo não deixou barato, uma semana inteira Jennifer não conseguiu se sentar sem gemer de dor. Murilo era cruel e a garota muitas vezes tinha que assistir a agressão que sua mãe sofria calada, ela não podia contar para ninguém e quando seus professores perguntavam sobre os roxos que vez ou outra apareciam em seus braços, Jennifer tinha que inventar uma nova desculpa. Era certo que se ela contasse para alguém, Murilo acabaria tanto com a sua mãe como com ela.

E tinha André, um rapaz de dezessete anos que era filho de Murilo. Ele só vinha para casa comer e dormir, às vezes ficava dias sem aparecer, e quando aparecia era porque havia acabado o dinheiro para usar drogas.

Jennifer respirou fundo sentada na mesa comendo o pouco de sopa que sua mãe havia preparado. Já eram sete dias que ela jantava a mesma coisa, a garota olhou de esguelha para o prato de Murilo, e sentiu seu estômago reclamar. Não era justo ela comer apenas aquilo, enquanto o homem se entupia de comida. E mesmo que ele não comesse tudo, Jennifer era proibida de chegar perto das sobras.

-Cadê o André? -Ele perguntou passando a mão pela barriga enorme. Jennifer ficou em silêncio. -Estou perguntando! -Ele gritou cuspindo arroz pela mesa.

-Deve estar na garagem. -Katia respondeu baixinho.

-Vá chamar! -Murilo olhou para Jennifer e não precisou que falasse duas vezes, a garota se levantou da mesa, não aguentava mais tomar aquela água que sua mãe dizia que era sopa e desceu para a garagem.

Murilo estava lá com uma música muito alta e praticando alguns golpes de luta. Seu rosto estava suado e ele respirava pesadamente.

Jennifer o observou por alguns momentos e pensou na briga que havia tido naquele dia... Se ela soubesse lutar como André, nada daquilo aconteceria.

André parou alguns momentos para recuperar o fôlego e viu que Jennifer o observava:

-O que você quer, pirralha?

-Seu pai está te chamando lá em cima.

-Manda ele ir para o inferno. -André deu de ombros, era o único na casa que Murilo não conseguia controlar.

-Manda você, não sou entregadora de mensagens.

André a olhou irritado, mas não fez nenhum comentário, começou a desenrolar as faixas do pulso.

-Você luta? -Ele ficou em silêncio. -Você poderia me ensinar a lutar.

Ele parou e olhou para ela:

-Pra que?

-Pra eu aprender, ué.

-Não.

-Por favor...

-Não.

Jennifer suspirou e deu se por vencida, começou a subir as escadas junto com André quando escutou os gritos de Murilo e Katia.

Os dois estavam brigando novamente.

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