-Então seu nome é Jennifer? -O rapaz sorriu se aproximando da garota em uma quarta-feira que esperava Murilo acertar as contas com o outro rapaz.
O nome dele era Caíque. Era jovem e depois que havia visto Jennifer, ele sempre a cumprimentava gentilmente, até que veio conversar de fato com ela. Ao contrário de outros traficantes, Caíque não era grosseiro, esnobe ou idiota, ele parecia ser um bom rapaz, mesmo envolvido com algo que jamais o tornaria bom.
-Não venha cantar aquela música insuportável com o meu nome!
Caíque deu uma gargalhada:
-Agradeço todos os dias por ninguém ter feito uma música com o meu nome.
-Se considere um homem de sorte.
-Só vou me considerar, se você aceitar sair comigo.
-Sair com você?
-Isso.
-Não. -Ela fechou a cara.
-Mas, Jennifer...
-Por favor, Caíque. Não precisa fingir que é gentil, eu estou grávida de outra pessoa, não assuma uma responsabilidade que não é sua! -Jennifer colocou a mão sobre a barriga, ela já estava dando inícios do crescimento do bebê, quatro meses de gestação.
-Eu não me importo. -Ele se aproximou dela. -Deixa eu tentar te fazer feliz, Jenny. Não sei quem foi o idiota que te deixou sozinha, mas ele não te merecia, só me dê uma oportunidade.
A garota respirou fundo, ela queria tanto acreditar em Caíque!
Os meses foram passando, e a barriga de Jennifer crescendo. Caíque estava ao seu lado sempre que dava, era ele quem a motivava ir ao hospital, foi ele quem quis saber o sexo do bebê, ele foi quem ficou super feliz que seria uma menina.
Já Jennifer? Ela estava feliz... Afinal, ela estava sendo amada! Sua gestação era uma das melhores, estava ocorrendo tudo bem... Mas dentro de si, parecia que estava tudo errado.
Ela deitava e em seu peito o vazio gritava contra ela, e por mais que ela tivesse essas coisas para ser feliz, Jennifer não era.
A garota havia saído da casa de sua mãe e agora morava com Caíque. O rapaz era gerente e braço direito do dono, morava em uma casa muito bonita, mas por causa do trabalho, não conseguia desfrutar de nada.
O tráfico te dava tudo, mas tirava tudo que você era.
Caíque estava falando ao celular, e Jennifer estava sentada, quando um dos rapazes entrou na casa de ambos:
-Cacá, um dos aviãozinhos disseram que a polícia está entrando pela parte de cima da viela, perto da casa da Maria.
-Ótimo, vamos usar aquele posicionamento e ficar tranquilo, vai ser como na última vez, os cara não vai achar nada.
Os dois concordaram, quando Caíque ia sair, Jennifer sentiu uma contração.
-Aí! -Ela gemeu.
-Hey, Jenny! O que foi?
-Nada... -Ela começou a respirar com dificuldade e uma água começou a escorrer pelas suas pernas.
-O que é isso? -Ele perguntou alarmado.
-Cacá, acho que a minha bolsa estourou. -Ela o olhou assustada. -Aí!
-Calma, eu vou te levar para o hospital. Fica calma!
Ela balançou a cabeça concordando, mas dentro de si o desespero começou a crescer. Certo, ela estava grávida, mas sua ficha começava cair naquele instante.
Ela teria um filho. E Jennifer não queria aquilo.
Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos e Caíque se aproximou dela:
-Fique calma, Jenny. Eu estou com você. -Ele a segurou, entrando no hospital.
-Você não deveria ter vindo! -Ela falava com o rosto suando e as bochechas vermelhas.
-Não vou te deixar sozinha.
Foram doze horas de dor alucinante e Jennifer sentia que ia desfalecer a cada contração. Caíque cumpriu a promessa e ficou ali ao seu lado o tempo todo.
-Força, mamãe! -Um dos médicos gritou para ela.
-Eu não vou conseguir! -Jennifer gritou.
-Vamos, Jennifer! -Caíque segurou sua mão.
-Eu não mereço você. -Ela começou a chorar. -Eu vou te destruir, como eu destrui tudo que havia de bom na minha vida.
-Para com isso e força! -Caíque ordenou e Jennifer reuniu toda a força que restava em si.
-Um, dois, três...
Um choro de bebê ecoou pelo quarto.
-É uma linda menina! -O médico se aproximou dela com a bebê que não parava de chorar.
Uma lágrima tímida escorreu pelo rosto de Caíque e Jennifer olhou para aquela criança. Tão indefesa e inocente! Era por isso que existia as mães! Nenhuma criança conseguiria sobreviver sozinha sem alguém ao seu lado.
Jennifer se sentiu pequena e inferior. Ela tinha que proteger e cuidar de uma criança, sendo que ela era quem precisava de ajuda.
-Como vai ser o nome dela? -Caíque sussurrou.
-Ela parece ser tão forte, tão saudável... -Jennifer sussurrou. -Valéria, parece ser um ótimo nome.
Caíque sorriu:
-Seja bem-vinda, Lela.
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Feita de Ambições
EspiritualEssa é uma história que não tem um final feliz. Jennifer por toda a sua infância e adolescência fez uma única promessa para si, não deixaria que mais ninguém a colocasse para baixo como haviam feito. Ela era uma mulher que não deveria aceitar migalh...