Uma estabilidade instável.

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-Chegamos! -Alguém a cutucou e Jennifer olhou para o céu nublado de São Paulo.

-Mã! Chegamu! Chegamu! -Valéria começou a pular no banco feliz.

-Cala a boca! -Jennifer respirou fundo a lançando um olhar de brava. -Não aguento mais ouvir a sua voz!

Valéria se calou, pois sabia que se continuasse falando, sua mãe a beliscaria. Jennifer não entendia como o amor entre mãe e filha funcionava, por mais que havia visto Valéria nascer dela mesma, Jennifer só conseguia sentir desprezo por aquela criança.

As duas andaram pelas ruas de São Paulo, já estava tarde e a garota começou a cair, Valéria se aproximou ainda mais de Jennifer e por mais que a garota não gostasse da criança, sabia que as duas pegariam um resfriado forte.

-Jennifer? É você mesmo? -Yuri perguntou quando a jovem se aproximava do ponto de tráfico que existia na Avenida.

-Oi, Yuri. Não achei que você estaria vivo após dois anos.

-Eu tenho meus truques, né? Gatinha! -Ele se aproximou sensualmente e Jennifer se afastou.

-Desculpa, mas não.

-Achei que você iria querer a droga.

-Eu posso comprar. Não preciso disso. -Ela apontou para os dois.

Jennifer estava cansada desses relacionamentos que sempre a

deixavam. Nada era estável na sua vida.

Então uma lembrança a atingiu em cheio.

Patrick. Ele era o único que havia ficado, o único que havia sobrado.

-Ei, Yuri! Tu sabe do Patrick? -Ela perguntou enfiando os pinos em seu bolso. Yuri fez uma cara de decepção e Jennifer engoliu em seco. -Ele ainda está vivo?

-Está, mas ele não é mais o mesmo Jennifer.

-Como assim?

-Patrick mudou. Não usa mais drogas, começou a trabalhar, agora está morando em um apartamento. E se você vê ele, você não o reconhece!

-Mas o que será que aconteceu?

-Ele disse que Jesus, Jesus o mudou.

Jennifer respirou fundo em silêncio. Pegou a mão de Valéria e mesmo na chuva, foi até o apartamento de Patrick, enquanto o esperava, sentia as suas mãos suarem.

Quando o rapaz desceu a surpresa em seus olhos era nítida.

Jennifer correu até Patrick e o abraçou.

-Patrick! -Sua voz saia abafada por estar com o rosto enfiado no peito do rapaz. O perfume dele era algo inesquecível, e memórias a atingiram em cheio. -Você não faz ideia do quanto eu senti a sua falta! Ela levantou o rosto e o olhou sorridente: -Dois anos se passaram e você não mudou nada, parece até que ficou mais bonito!

-Você também não parece ter mudado.

A garota se inclinou para dar um beijo Patrick, mas o rapaz virou o rosto.

Jennifer sentiu a rejeição crescendo em seu peito. Então era verdade? Patrick havia mudado?

Jennifer se afastou deixando aquele momento tenso entre os dois para ser resolvido outra hora e apontou para uma garotinha que estava sentada em uma cadeira, e só naquele momento que Patrick a notou.

-Então Patrick, essa é a Valéria. -Jennifer fez um sinal para que a garota viesse até eles. -Diga oi para o seu pai, Lela!

A garotinha sorriu para Patrick:

-Oi, papai!

Patrick ficou ainda mais pálido do que era.

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