Uma briga na escola.

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Jennifer achou realmente que poderia confiar em André, mas o próprio rapaz não confiava em si mesmo para lutar contra o suicídio. A garota respirou fundo mais uma vez, ela não suportava mais ficar em casa, a morte de André parecia apenas um fator colateral, Jennifer era a única que de fato estava chateada com aquilo, Murilo que era pai de verdade do rapaz parecia mais aliviado do que qualquer outra coisa.

A garota balançou a cabeça enquanto caminhava para o refeitório quando do nada alguém a empurrou, Jennifer se desequilibrou e foi direto para o chão.

-Olha só, a aberração resolveu aparecer! -A voz de Amanda veio até ela e várias risadas.

Jennifer estava cansada. Cansada daquela vida que ela tinha que baixar a cabeça para todo mundo, que ela tinha que engolir em seco e aceitar tudo, porque ela não era ninguém para retrucar... Mas ela sentiu a raiva e a decepção pulsando em seu peito.

Ela levantou e com toda a sua força deu um soco no rosto de Amanda.

André havia falado que ela não deveria usar os golpes que ele ensinara para machucar alguém, aquilo era apenas para ela soltar a sua raiva.

Mas ela não se importou. Amanda a olhou furiosa e seu nariz escorria um fio de sangue. Quando a garota veio para cima de Jennifer, as duas caíram no chão. Jennifer jogou sua cabeça contra a de Amanda causando uma dor imensurável nas duas.

Daquela vez, Jennifer não estava em desvantagem. Sabia controlar o peso do seu corpo, a força de suas mãos e não deixava que as palavras torpes de Amanda a atrapalhasse.

-Ela vai matar a Amanda! -Alguém gritou. -Jennifer, solta a Amanda!

Mas Jennifer não escutou. Ela não se importava. Talvez o mundo merecesse a morte de Amanda.

Jennifer estava se preparando para dar outro soco no rosto tão belo de Amanda quando alguém a puxou pelos braços, a garota tentou resistir, mas quem quer que estivesse a tirando dali, era mais forte que ela.

Quando finalmente a raiva passou e a dor clareou os pensamentos, Jennifer estava sentada na diretoria esperando sua mãe chegar.

A diretora falava com ela, mas a garota não se importava. Amanda havia ido direto para a enfermaria, ao contrário de Jennifer, ela teve que ser carregada.

A menina respirou fundo já se preparando para quando sua mãe entrasse na pequena sala. Certamente ela levaria uma broca enorme, mas Jennifer estava cansada daquilo também, então ela não estava nem aí, até que a diretora levantou a cabeça e cumprimentou quem quer que estivesse na porta.

-Senhor Murilo, pode entrar! -O coração de Jennifer bateu descompassado. -Sente-se.

A cabeça de Jennifer girava. O que Murilo estava fazendo ali? Aonde estava a sua mãe?

Enquanto a diretora falava sobre o que havia acontecido, Murilo em nenhum momento dirigiu o olhar para Jennifer, era como se a garota não estivesse ali. O medo aflorou pelo corpo da garota que não fazia ideia do que iria acontecer.

-De acordo com as regras da escola, sua filha será expulsa. -A diretora anunciou depois de ter relatado os fatos ocorridos. -Nós podemos até tentar encaminhar a vaga dela para outra escola, mas será difícil ela conseguir entrar. Seu rendimento escolar só tem caído e suas notas vão de mal a pior... -Ela olhou pela primeira vez compadecida para Jennifer. -Mas vamos tentar de tudo.

-Muito obrigado por tudo o que está fazendo pela Jennifer, diretora. -Murilo falou sorrindo, mas sem nenhuma emoção em sua voz. -Cada ação tem sua reação, o máximo que posso fazer é torcer para que alguma escola a aceite.

-Jennifer não é uma menina ruim...

-Não, não é. E por isso irei conversar com ela direitinho quando chegarmos em casa. -E foi aí que Murilo olhou pela primeira vez para ela. Jennifer sentiu sua garganta se fechar, já sabia o que te esperava em casa. Murilo se levantou e estendeu a mão para a diretora. -Muito obrigado, agora preciso ir.

A mulher se levantou e se despediu de ambos. Jennifer deu um último olhar tentando transmitir algum pedido de socorro, mas se a diretora viu, ela não se compadeceu de seu olhar.

Naquela noite, Jennifer apanhou como nunca havia apanhado desde que Murilo havia entrado em sua vida. O homem só parou porque alguém ligou pedindo um de seus serviços de eletricista.

Jennifer achou realmente que iria morrer.

Na verdade, ela queria ter morrido.

Enquanto se recuperava das dores em seu corpo, veio um único pensamento em sua cabeça.

Ela iria fugir daquele tormento.

Jennifer fugiria de casa.

Feita de AmbiçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora