Capítulo 29

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Dalilah

Acordo sentindo uma dor infernal na minha cabeça, queria poder dizer que não me lembro do que aconteceu comigo, mas me lembro de tudo, de cada palavra, cada tapa; de todos os momentos terríveis que passei nas mãos de alguém a quem já amei muito.

Quando eu era mais jovem e estava prestes a me casar com Miguel, perguntei para minha mãe se ela não se importava que a única filha dela estivesse se casando sem amor. A resposta dela foi simples e me deixou tão furiosa, quando ela olhou em meus olhos e disse;

"O amor machuca, ilude e se você permitir ele te destrói, ninguém vive de amor. As pessoas pensam que podem viver, até que a vida real bate na porta e mostra as desgraças que os sentimentos trazem. Leve sua vida como se fosse uma empresa, pense em cada decisão que tomar, pois elas afetarão a sua empresa e se você permitir vai acabar sem nada."

Não preciso dizer que pouco tempo depois eu aprendi minha lição, Kaleb se foi e Miguel que era apenas meu amigo e veio a se tornar meu amigo, se mostrou uma pessoa em quem eu podia me apoiar, nossa criação foi parecida e isso por si só serviu para que confiássemos um no outro e nos negássemos a cometer os mesmos erros que nossos pais.

Agora, anos depois, vi o quanto minha mãe estava certa em me manter afastada do Kaleb, a pureza do homem que eu conheci se foi e deu lugar a mágoa, a raiva, coisas que misturadas causam as maiores desgraças.

Minha atual situação me mostra apenas que não importa o quão bom e puro você seja, se você não for forte e se deixar afundar por maus sentimentos, a vida vai te corromper, e nesse mundo, não há nada mais perigoso do que um homem corrompido.

A porta do meu quarto se abre, revelando meu filho, Kalel. Não falo nada, apenas observo o homem que meu filho se tornou, lamento não ter estado ao seu lado durante essa tranformação, poder aconselhar e dar o carinho de mãe que ele merece. Mas eu posso fazer isso agora, não vou deixar que meus filhos passem mais um segundo longe de mim, não quando sei que a vida é curta de mais para se viver com medo de dizer o quanto os amo.

— Você está acordada. — Ele diz se sentando ao lado da minha cama. — Gustavo foi tomar um café, ele passou o dia todo aqui.

— Est...estou... feliz que você esteja aqui. — Consigo concluir com dificuldade, minha garganta está seca e parece que tem milhões de cacos de vidro nela.

— Eu vou chamar o Shane e ver se pode beber água. — Ele diz se levantando. — Também vou ligar para os outros.

Enquanto ele anda em direção a porta, sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, e desta vez não são lágrimas de tristeza, dor ou medo; são lágrimas de gratidão, sou grata por estar viva e poder conhecer meu filho, ver meus netos crescerem e aproveitar cada segundo ao lado do meu marido.

Gustavo entra no quarto poucos segundos depois que Kalel saiu, ele está acompanhado de um homem bonito e bem-apresentado, acho que esse deve ser Shane e pela forma como ele me olha, parece feliz em me ver acordada.

— Kalel me disse que você está com sede, eu vou te examinar e em seguida te liberar para tomar água, mas eu preciso que você faça isso bem de vagar, com pequenos goles. — Avisa, enquanto passa uma lanterna na frente dos meus olhos, checa meu pulso e toma minha pressão. — Vou pedir alguns exames para garantir que você está bem, mas eu acredito que tudo esteja em ordem. Nos deu um grande susto, Dalilah. — Ele pisca e se vira para sair no mesmo momento em que a porta se abre e Kalel volta, os dois se encaram por um tempo e penso ter sentido algo entre os dois, mas então Shane sai e eu acabo me perdendo na conversa dos dois.

Miguel Petrov - Máfia vermelha 6Onde histórias criam vida. Descubra agora