"Foi no segundo ano que eu me apaixonei"
Todos os seres deste mundo são instintivos, inclusive os seres humanos a qual se vangloriam por sua insigne racionalidade.
Carmen, como qualquer ser humano, tinha seus próprios instintos, tal como aquele que...
"Foi em meus delírios de beleza que eu me apaixonei." Carmen
Num mundo onde as pessoas são movidos pelos estereótipos não há espaço para alma.
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Era domingo de manhã, eu havia acabado de acordar e estava a encarar meu próprio reflexo no grande espelho emoldurado de arabescos dourados que havia no meu quarto:
Não havia nada de realmente especial em mim - meu corpo era pequeno, franzino e magricela. Tinha olhos castanho escuro adornados com pequenos filetes de cílios negros. Um nariz longo e tênue que fazia par com os meus miúdos lábios. E cabelos lisos em demasia que já chegavam a altura de minhas nádegas, cortados de maneira angulosa em conjunto com uma franjinha tosca a qual eu não conseguia me livrar.
Antes de conhecer Pedro eu nunca havia me interessado muito por minha aparência, mas ultimamente eu sentia-me estranha toda a vez que me fitava no espelho, principalmente após vê-lo com Verônica à uns dias atrás.
Quando olhava para Pedro andando pelos corredores, eu podia dizer apenas com um olhar que desde as pessoas que se aproximavam dele até às que andavam com ele tinham uma aparência padrão a qual eu não podia me igualar. É como dizia o velho ditado: “pássaros de um mesmo bando andam em conjunto.”
Em algumas ocasiões eu me deparava com meu próprio reflexo nas janelas, colheres ou o chão encerado e perguntava-me por que eu não poderia ser mais bonita como Verônica? Ou por que Pedro não poderia ser mais como eu?
Eu atravessei o corredor da minha casa, meus pés faziam o assoalho gemer e resmungar anunciado a minha chegada a cozinha onde meus irmãos e meu austero pai se encontravam. Eles não me notaram à início contudo eu chamei a atenção deles com uma pergunta fora do padrão:
- Ei, eu sou bonita?
Meu velhaco pai que tomava calmamente seu café quase o cuspiu para fora; Cauã engasgou-se com o pedaço de seu pão; e Carlos que falava eloquentemente mordeu sua língua e agora retorcia-se de maneira faceciosa.
- É claro que é! – afirmou meu pai como se aquela fosse uma verdade absoluta escrita nas páginas puídas de uma Bíblia.
- Pulquérrima! – acrescentou Cauã.
- Uma verdadeira beldade! - disse Carlos.
Olhando para aqueles três cabeças de bagre eu conseguia dizer com clareza que suas opiniões não eram confiáveis por isso coloquei-as no arquivo de “coisas realmente irrelevantes” em meu cérebro.
Sentei-me à mesa cruzando minhas pernas galgazes, alimentando-me de lascas de bolachas de água e sal com manteiga.
- Mas porque a pergunta, princesa? – questionou meu pai limpando sua barba por fazer.
- Por nada – respondi lambendo a ponta de meus dedos por falta de guardanapos.
Meus irmãos já haviam se ocupado com outras atividades, esquecendo-se que a pouco eu os havia questionado algo fora do comum. Neste instante eu aproveitei a distração para analisá-los: contando com Camilo, éramos um quinteto cabelo-olhos castanho, de narizes únicos e pouco convencionais e cabelos lambidos. Não nos parecíamos com nada que nos destacasse no meio de uma multidão, disso eu tinha certeza, mas será que poderíamos ser considerados bem apessoados segundo a sociedade?
Mais tarde, na segunda-feira, quando situava-me no carro de Camilo em direção a escola eu lhe fiz a mesma pergunta e sua reação não foi diferente de outrem. Creio que a opinião de sua família não contava no fim.
Naquela época eu não soube o que aquele pequeno sentimento de inferioridade causaria em mim no futuro.
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