Já estávamos a poucos metros do ponto de ônibus quando uma chuva torrencial começou a cair se espalhando e escorrendo pelo asfalto, era tão voraz que eu senti o peso das gotas sobre meu corpo empurrando-me para baixo.
Pedro tirou seu sobretudo grosso e esticou sobre nós enquanto corríamos até o alpendre do ponto.
- Rápido – gritou rindo quando viu que eu não conseguia acompanhá-lo.
Eu apertei o passo buscando o ar em meus pulmões e me repreendendo por dentro por ser tão sedentária - dei tropeções em meus próprios pés pelo menos quatro vezes e enfiei meus pés em poças sujas pelo menos três vezes.
- Estamos encharcados – comentou o óbvio quando já estávamos protegidos ao mesmo ínterim que ria.
Aquilo não tinha a menor graça, minhas roupas e meu cabelo grudavam na minha pele, eu estava morrendo de frio, minhas botas estavam cheias de água, minhas meias estavam encharcadas e quando eu andavam meus passos faziam um barulho irritante de squiq, squiq, a situação era tão trágica que tornava-se hilária.
- Realmente – concordei dando uma gargalhada que vinha do estômago.
A chuva acompanhada da noite faziam com que fosse quase impossível ver os prédios em detalhes ao nosso redor, os postes de luz amarela acenderam-se um a um formando pontos luzidios permeio o breu, a pompa das gotículas grossas em contato com o chão fazia com que todos os outros barulhos fossem abafados. Era possível ver vultos matizados correndo para todos os lados tentando se proteger da borrasca, produzindo estrépitos molhados ao ter seus pés soterrados em poças de água – eles usavam o que tinham em mãos para tentar inutilmente amenizar os danos da bátega ou então protegiam estas mesmas coisas colocando-as dentro de seus casacos embebidos.
Quando olhei em volta percebi que haviam outras quinze pessoas amontoadas abaixo do telheiro escondendo-se do aguaceiro e tentando secar-se com o que quer que tivessem em mãos.
“De onde eles vieram?” pensei comigo mesma.
- Ainda bem, o ônibus chegou – ouvi a voz do jovem dizer enquanto dava o sinal.
Dessa vez haviam pelo menos oito pessoas no ônibus, todos em situações um bocado semelhantes a nossa. Nos sentamos no fundo do veículo e respiramos aliviados pela quentura do local.
O autocarro movia-se vagarosamente produzindo um som úmido ao ter suas rodas em contato com o chão, seu rugido foi sonegado pelas partículas que caiam em sua estrutura de cobre vibrando abaixo de nós como se para nós ninar.
- Quando descermos do ônibus eu posso te levar até sua casa se você quiser – disse ao acaso ao mesmo ínterim em que eu arregalava os olhos.
- Não precisa... – murmurei tentando não soar estranha.
- Por que não? – inquiriu inocentemente.
- Porque não. – “Eu realmente não quero que meus irmãos descubram.”
- Você não quer que seus irmãos descubram, né? – Foi como um reflexo do que eu tinha falado.
- Eu disse em voz alta?
Pedro revirou os olhos. – O seus atos disseram em voz alta, você é uma vergonha como atriz.
- Eu realmente não quero contar ainda mas isso é só temporário...
- Por agora tudo bem, estamos de férias mas e quando voltarmos para escola? – Eu fiz uma expressão confusa. - O seu irmão dá aula na nossa escola, ele vai ficar sabendo uma hora ou outra. Não me diga que não pensou nisso.
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Carmen
Romance"Foi no segundo ano que eu me apaixonei" Todos os seres deste mundo são instintivos, inclusive os seres humanos a qual se vangloriam por sua insigne racionalidade. Carmen, como qualquer ser humano, tinha seus próprios instintos, tal como aquele que...